31 de jul. de 2008

AGRADECIMENTO ESPECIAL DO BLOG.

Queremos agradecer ao Clube Filatélico e Numismático de Taquara, especialmente a Sra. Ana Lúcia, a qual prontamente conhecendo este BLOG, passou a disponibilizar nosso endereço com um LINK no site da CFNT, facilitando o acesso para todos os associados daquele Clube. Assim, nos dá ânimo e incentivo em construir algo maior para a Numismática Brasileira.
Queremos agradecer também, ao Sr. Cléber José Coimbra, da Associação Filatélica e Numismática de Brasília, o qual prontamente, repassou a notícia da criação deste BLOG a todos os associados daquela Associação por e-mail.
Queremos deixar também registrado, que o primeiro comentário neste BLOG, no texto sobre KURT PROBER, deu-se pelo Sr. Antonio Tomaz, eterno Secretário da Sociedade Numismática Paranaense. Agradeço os seus comentários e incentivos na continuidade desta luta.
Deixamos também agradecimento especial ao Sr. Acyr de Arruda Luna da Sociedade Filatélica e Numismática de João Pessoa, o qual se interessou pelo texto sobre KURT PROBER e solicitou autorização para publicação no Boletim da SFNJP. Com grande honra e prazer foi dada autorização para publicação naquele Boletim e já enviamos texto por arquivo do word por e-mail e agradecemos seu interesse na matéria.
Espero que este BLOG continue sendo visitado cada vez mais, por pessoas interessadas e ou até curiosas, não importando de qual sociedade numismática pertençam, ou até, as que não pertençam a nenhuma sociedade, afinal, os assuntos abordados são amplos e podem ser de interesse coletivo e ou particular. Boa leitura a todos.

CARTA MONETÁRIA DO BRASIL COLONIAL 1798



1798, data da Carta Monetária do Brasil Colonial, onde aparece a divisão territorial de todas as Capitanias do Brasil Colonial, uma descoberta de material para estudo de todas as Casas da Moeda e Casas de Fundição de então.

Deste mapa, "Carta Monetária", como se vê a legenda ao lado, apenas mostra o tão pouco que conhecemos sobre as Casas de Cunhagem e suas moedas.

Quem já ouviu falar que em PARANAGUÁ no Paraná, tivemos uma Casa de Cunhagem?? e que foi criada em 1675 e foi extinta em 1682 e que foi recriada em 1719 e extinta novamente em 1736? Alguém conhece alguma moeda desta Casa??

Quem já ouviu falar sobre as casas de cunhagem de Taubaté - SP , Cavalcante - GO , S. Félix -GO, Meia Ponte - GO, e outras que podem ser observadas na Legenda da foto ao lado. Da mesma forma, alguém conhece alguma moeda destas casas???

Basta clicar em cima da imagem e ela aumentará para voce apreciar as informações contidas na legenda que aparece nesta Carta.

Ainda se observa as Casas de Cunhagem de Moedas Falsas, então existentes, em Paraopeba - MG, em 1730, Tijuco - MG, em 1732, Urubú - MG, em 1754 e Jacobina - BA em 1755.

São com estas pequenas descobertas, que se reescreverão as histórias numismáticas no Brasil. Por isto, chamo a atenção de todos os numismatas e estudiosos em geral, que se interessem pela história, pois somente através dela, e das pesquisas destas, encontraremos respostas que ainda estão no vazio.

Envio a quem interessar cópia colorida deste MAPA " CARTA MONETÁRIA DO BRASIL COLONIAL" de 1798, ao custo de R$ 20,00 já incluído custo do correio, peça que servirá de base aos pesquisadores em geral. Basta me passar um e-mail solicitando o material.

A foto que aparece acima, é somente da LEGENDA, o Mapa da divisão territorial com a indicação das casas de cunhagem em cada território é que completa o material que ora ofereço a quem interessar. O formato deste mapa colorido (cópia colorida), é de 29 cm. x 41 cm.

Espero desta forma contribuir com o debate, a pesquisa e as descobertas numismáticas.

30 de jul. de 2008

JULIUS MEILI - LEILÃO DE SUA COLEÇÃO EM 1939 ?



Hoje, dia 30 de Julho de 2008, preparando o material para levar ao 147° Encontro Filatélico e Numismático de Santa Catarina, em Florianópolis, que acontecerá nos dias 02 e 03 de agosto, e vasculhando meus arquivos, encontrei este catálogo de LEILÃO da Coleção Julius Meili e de outros amadores.

Para quem não sabe, Julius Meili Nasceu em 1839 e faleceu em 1907, e este leilão (supostamente) das peças de sua coleção, deu-se no ano de 1939, portanto, mais de 30 anos após a sua morte.

Consta nos anais númismáticos, que após o seu falecimento, em 1907, seus herdeiros doaram sua fabulosa coleção ao MUSEU NACIONAL SUIÇO DE ZURICH. Em 1920, este Museu se dispôs a vender a coleção, mas infelizmente não houve interesse do Governo brasileiro, a quem a coleção oferecida por 200.000 francos suiços. Naquele conjunto, destacava-se a moeda fiduciária com 1.059 peças, apresentando muitos exemplares de tal raridade. Em 1931 houve nova tentativa de vender a coleção ao Governo do Brasil, novamente sem sucesso. Poucos anos depois, a coleção foi vendida ao cidadão suiço Pedro Spoery, residente em São Paulo. Tem-se registros que parte daquela coleção pertence hoje ao Acervo do Museu Histórico Nacional. * Estas informações neste parágrafo, foi extraído do livro O Meio Circulante do Brasil Parte III - A moeda fiduciária do Brasil - edição do Senado Federal em 2005.

Pelas fotos das barras de ouro (veja foto acima) e de outras moedas de extrema raridade que foram a leilão, no total de 942 lotes, no dia 20 de março de 1939, peças da Coleção JULIS MEILI e de outros amadores, organizado pelo numismata Hermann Porcher, já abre uma curiosidade enorme pela RARIDADE e QUANTIDADE de peças Numismáticas que foram ultimadas naquele LEILÃO e leva a crer que quase a totalidade das peças eram da Coleção de Meili.

Como neste catálogo de 1939, possui um total de 942 Lotes e a coleção Julius Meili 1.059 peças, e observando a qualidade e raridade das peças, fica uma interrogação, AFINAL ESTE LEILÃO DE 1939, FOI OU NÃO FOI O GRANDE LEILÃO DAS PEÇAS DA COLEÇÃO JULIUS MEILI?? AS QUAIS DEPOIS DE IDAS E VINDAS, ACABOU MESMO SENDO VENDIDA 30 ANOS DEPOIS DE SUA MORTE, NO BRASIL MESMO.???

GOSTARIA QUE OS ENTENDIDOS NO ASSUNTO ME RESPONDESSEM........SE ISSO ACONTECEU MESMO OU HÁ UM MAL ENTENDIDO NISTO TUDO.

A NUMISMÁTICA BRASILEIRA PRECISA DESTA RESPOSTA.

OBS. Como blogueiro nenhum vive de brisa, envio cópia deste catálogo de 1939, A QUEM INTERESSAR, BASTA UM E-MAIL PEDINDO, onde está relacionada todas as peças numismáticas em 26 páginas e ainda ao final do catálogo 8 pranchas fotográficas das melhores peças, ao custo de R$ 25,00, já incluido o custo do correio. É um grande e curioso material para estudo.

29 de jul. de 2008

A incrível história da moeda de ouro de Us$ 20 "Double Eagle" de 1933


A Casa da Moeda do Governo norte-americano (United States Mint) tem cunhado moedas de ouro de valores diversos desde 1795. A cunhagem da primeira Double Eagle de US$ 20 foi em 1849. Mas, uma única moeda em especial, entre todas as 445.500 moedas iguais cunhadas no ano de 1933, teve uma trajetória digna de um filme, onde envolve monarquia, intriga internacional, perseguição incansável por mais de 70 anos e valores milionários.

A moeda de ouro de US$ 20 de 1933, apelidada de Double Eagle, tinha um diâmetro de 34,1 milímetros, pesava 33,431 gramas e era composta de 90% ouro e 10% cobre, perfazendo 21,6 quilates. Foi desenhada pelo famoso escultor Augustus Saint-Gaudens e tinha no anverso, a figura de uma deusa grega segurando uma tocha e um ramo de oliveira, simbolizando sabedoria, prudência e bom-senso. Logo foi apelidada de Walking Liberty (Liberdade caminhando). No reverso, tinha uma majestosa Águia Careca em posição de vôo, a ave símbolo norte-americana, ladeada por um halo com legenda. Apesar da moeda possuir uma águia apenas, ganhou este apelido devido ao fato de que também a moeda de US$ 10 que levava uma águia já ter o apelido de Eagle; daí a moeda de US$ 20 passar então, a ser conhecida como "águia dupla ou águia em dobro" (Double Eagle).

Depois da U. S. Mint ter cunhado 445.500 moedas semelhantes em 1933, o Presidente Franklin Delano Roosevelt tirou os Estados Unidos do padrão-ouro em março deste ano. As moedas recém-cunhadas, mas não circuladas, foram derretidas e re-fundidas pois não eram consideradas legalmente como moeda corrente. De qualquer forma, 10 moedas escaparam para mãos de particulares, roubadas por funcionários de dentro da própria U. S. Mint. Como nunca foram consideradas como emissão oficial, a sua propriedade por particulares foi considerada ilegal, estando sujeito seus detentores, a pena por crime federal. Nove delas foram rastreadas e localizadas pelo Serviço Secreto dos Estados Unidos entre os anos 1940 e 1950 e juntaram-se às outras centenas de milhares da mesma emissão, ou seja, foram derretidas. Mas, uma última, a décima desaparecida e que pertencia à coleção particular do ultimo Rei do Egito, Farouk (que foi um dos maiores numismatas de todos os tempos, com mais de 8.500 moedas de ouro raríssimas), escapou da destruição. Tornou-se então, uma antiguidade solitária de enorme valor, objeto do desejo de muitos colecionadores...e do governo norte-americano!

No início de 1944, antes do governo norte-americano descobrir o furto das 10 moedas Double Eagle de 1933, a Embaixada Real do Egito apresentou esta moeda para o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, solicitando uma licença para exportá-la para o Egito, para adicioná-la na coleção de Farouk. Os burocratas, emissores da licença especial de exportação requerida para todas as moedas de ouro devido aos efeitos restritivos da decisão do Presidente Roosevelt de março de 1933, não reconheceram a importância de uma moeda oficialmente não emitida e inadvertidamente, liberaram a licença de exportação!

Dez anos depois, em 1954, a Double Eagle foi posta à venda juntamente com as outras raridades da coleção particular do Rei Farouk. A Casa Sotheby´s, atuando em nome da recém proclamada República do Egito, foi encarregada de leiloar a assombrosa coleção montada pelo ex-monarca, já então sem trono, que levou quase 10 dias consecutivos, tal a quantidade e a qualidade dos itens ofertados. Durante o leilão, o Departamento do Tesouro norte-americano, solicitou formalmente que a moeda fosse retirada da venda, o que após muitas negociações diplomáticas envolvendo os dois governos, foi finalmente aceito. Mesmo tendo o governo da nova República do Egito apresentado toda a documentação que provava os direitos egípcios sobre a moeda para os diversos órgãos do governo norte-americano, incluindo a autorização especial emitida 10 anos antes, da Alfândega até o Departamento do Tesouro, não conseguiu reverter o bloqueio. A moeda então, foi transferida e guardada no templo de Behbeit Al-Hagar, perto do delta do rio Nilo, num subúrbio distante da cidade do Cairo, de onde desapareceu misteriosamente. Estranhamente, o governo egípcio não anunciou o desaparecimento e nem registrou qualquer tipo de boletim de ocorrência ou queixa em nenhum organismo policial, seja nacional ou internacional, provavelmente temendo a repercussão negativa que traria para uma república recém constituída que, justamente, derrubou a monarquia acusando-a de dilapidar e enviar para o exterior, seu inestimável acervo histórico.

Quase meio século depois, em 1996, Stephen Fenton, um comerciante e colecionador inglês desconhecido até então, hospedou-se no luxuoso Waldorf-Astoria Hotel, no Empire Estate Building em Nova York e na

sua segura e confortável suíte, negocia a venda da última 1933 US$ 20 Double Eagle conhecida, com dois interessados na aquisição desta moeda excepcional. Para sua surpresa, no auge da negociação, os interessados identificam-se como agentes do Serviço Secreto norte-americano que, cumprindo uma ordem presidencial emitida em 1933, dão-lhe voz de prisão e confiscam a moeda!


Inicia-se então, uma batalha judicial de 5 anos que levou a um acordo inédito e único até hoje, entre o Governo dos Estados Unidos da América do Norte e o comerciante inglês, reconhecendo-o legalmente como seu ultimo proprietário particular legítimo.


Num leilão oficial, na Casa de Leilões Sotheby´s de Nova York, durante a Convenção Anual da Associação Numismática Americana (ANA), em 30 de julho de 2002, a venda da moeda única, num único lote, na Sotheby´s de Nova York foi inesquecível.

Centenas de pessoas previamente cadastradas e rigorosamente escolhidas e convidadas, incluindo alguns dos maiores colecionadores de todo o mundo, amontoavam-se em volta da Double Eagle, tentando captar o ultimo brilho da ultima moeda do gênero, antes de seguir para a venda. O leilão começou pontualmente às 18 horas com um lance inicial de 2,5 milhões de dólares. Em apenas 4 minutos, os lances passaram dos 5 milhões de dólares! Finalmente, depois de apenas 9 minutos corridos, o broker de um colecionador não identificado até hoje, de número L0003, encerrou o leilão com um lance não superado, de US$ 7,590,000.00 representando US$ 6,600,000.00 mais a comissão do leiloeiro de 15% para a Sotheby´s!

Assim que a venda foi finalizada, o U. S. Mint´s Public Enterprise Fund (PEF) recolheu o total arrecadado. Posteriormente, o PEF liberou os seguintes valores: de US$ 3,299,080.00 para Stephen Fenton; repassou a comissão do leiloeiro a Sotheby´s para remunerá-la pelos serviços que prestou para o governo norte-americano em marketing e organização do leilão e, acreditem, os outros US$ 3,300,000.00 foram para o Departamento do Tesouro norte-americano acrescidos de mais inacreditáveis US$ 20 necessários para "monetizar" o valor de face da moeda, na contabilidade oficial! Só então, foi possível legalizar a propriedade, totalizando o preço final de venda em fantásticos US$ 7,590,020.00 que acredita-se, seja o maior valor pago em uma única moeda em leilão até aquela data.

Vejam o que disse a então Diretora Superintendente da U. S. Mint, senhora Henrietta Holsman Fore, numa entrevista coletiva logo após o evento: " - Nós estamos muito satisfeitos com a venda. Esta moeda, que um dia valeu US$ 20, deverá reforçar a noção de que há um tremendo valor em colecionar moedas. Não é apenas um hobby prazeroso, mas também, uma busca interessante e rica em História, marcada por ocasiões excitantes como essa".

Passados alguns anos desse memorável evento, descobriu-se que essa moeda foi apenas uma dentre as que sobreviveram à destruição. Duas outras foram doadas para o Smithsonian Institution, ficando uma para exibição e a outra, para guardar para a História, sem que seu doador fosse identificado.

Algumas fontes sugerem que foi o próprio governo Egípcio o arrematador não identificado da moeda. Segundo o broker que intermediou o lance vencedor, numa declaração interessante, agradeceu efusivamente a monarquia egípcia (?), pela preservação da moeda pelo Rei Farouk: "sem ele, este tesouro teria sido derretido junto com as outras".


Para o seu afortunado proprietário, uma rara peça numismática de valor milionário e história única, repousando protegida em alguma caixa-forte por esse mundo afora, bem distante dos olhares e desejos de numismatas como nós, pobres mortais

Fontes:

- American 1933 Double Eagle Gold Coin, Gold Bullion Coins,
no site http://www.mapsofworld.com/

- The United States Mint Pressroom, no site http://www.usmint.gov/

- Al-Ahram Weekly Journal, Cairo, Egypt, no site
http://www.weekly.ahram.org.eg/

- Coin Connoisseur, no site http://www.coinmag.com/


Texto Publicado Originariamente no BOLETIM N° 32 de Setembro/2007 DA SNP - SOCIEDADE NUMISMÁTICA PARANAENSE ÀS FOLHAS 22 A 27

Texto de autoria dos numismatas, João Gualberto Abib e Roberto Keller.

CASA DA MOEDA NO BRASIL

Pesquisando na Internet sobre as Casas da Moeda que existiam no Brasil, com intuito de colaborar com mais um texto para o Boletim da Sociedade Numismática Paranaense, da qual tenho a honra de participar como membro, eis que, para minha surpresa, o texto já estava disponível no site da Receita Federal.
Desta forma, considero de suma importância a leitura deste texto, onde resume um pouco sobre a vida existencial destas casas de cunhagem de moedas.


Casas da Moeda

Um dos símbolos da soberania na Idade Média, pois cunhar dinheiro era prerrogativa real, as Casas da Moeda chegaram cedo ao Brasil, antes mesmo da Independência. O Ciclo do Ouro precipitou a cunhagem de moeda metálica, com o duplo objetivo de fornecer meio circulante á colônia e de arrecadar tributos como a Senhoriagem e a Braçagem. Antes mesmo de se iniciar o Ciclo do Ouro, a Coroa Portuguesa, por volta de 1644, determinou a criação de uma Casa da Moeda em São Paulo, para aproveitar o metal ali extraído. Nomeou funcionários, expediu regimentos e tomou outras medidas para estabelecê-la, mas até hoje não se conhece nenhum exemplar de moeda que sido cunhado nela.
Nos anos que se seguiram, a Coroa criou diversas oficinas monetárias na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Vicente, para recunhar moedas já em circulação.
Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, a abundância do metal justificou a criação, em 1694, de uma casa da moeda na Bahia, posteriormente transferida para o Rio de Janeiro e depois para Pernambuco (de onde voltou para o Rio de Janeiro em 1702). Em 1714 instalou-se novamente uma casa da moeda na Bahia; outra foi implantada em Vila Rica em 1725. Assim, três casas existiram simultaneamente nessa ocasião. Mais tarde, criaram-se outras em Goiás e em Cuiabá, mas a primeira nunca se instalou e a segunda teria sido mera oficina da Casa de Fundição, incumbida de remarcar moedas espanholas.
Depois da Independência, foi criada uma casa da moeda em Cachoeira, na Bahia, para atender às forças brasileiras, que tinham nessa vila o seu centro de operações contra as tropas portuguesas aquarteladas em Salvador. A princípio, as Casas da Moeda eram dirigidas por um Provedor e por um Superintendente. Mais tarde, por volta de 1725, desapareceu a figura do Superintendente. E, no final do Império, o cargo de Provedor foi transformado em Diretor. O pessoal das casas da moeda incluía tesoureiros, escrivães, fundidores, cunhadores, ensaiadores, guarda-cunho, abridor de cunho, juiz da balança, fiéis do ouro e da prata, além de meirinhos e outros auxiliares.
A esse pessoal acresciam os chamados "moedeiros do número", comerciantes e cidadãos abastados, que tinham a obrigação de servir uma vez por ano como "moedeiros da semana", incumbidos, possivelmente, de funções meramente fiscalizadoras. Eram repartições internas da Casa da Moeda a Casa das Feituras, a Casa das Fieiras, e a Casa do Cunho. Segundo Cléber Baptista Gonçalves, modernamente, se considera que a reunião das oficinas de fundição, laminação, corte, gravura e cunhagem caracteriza uma Casa da Moeda. Quando só uma ou algumas delas estão presentes, o que existe é uma mera oficina monetária. (FONTES: GONÇALVES, A Casa da Moeda do Brasil - SALLES OLIVEIRA, Moedas do Brasil - ABN, 8:81 - IDHCO, 4:44 - Fiscais e Meirinhos, 426).

Casa da Moeda - BAHIA

Criada em 8 de março de 1694, para cunhar moeda provincial para o Brasil, uniformizando-a e ampliando o meio circulante. O Rei de Portugal abriu mão da Senhoriagem, tributo a ele devido, para facilitar o seu funcionamento, e determinou que a Casa da Bahia seguisse o regimento da Casa da Moeda de Lisboa, no que fosse possível. Era dirigida por um Provedor, também Juiz da Casa da Moeda, que seria substituído nos impedimentos pelo Escrivão da Receita. A Casa da Moeda da Bahia foi instalada na Praça do Palácio, na Cidade Alta, no local onde fora a Alfândega, em prédio adaptado. As primeiras moedas ficaram prontas em 5 de janeiro de 1695. Sua letra monetária era "B". Em 1698 a Casa da Moeda encerrou suas atividades na Bahia, transferindo-se para o Rio de Janeiro. Só foi restabelecida em 1714, mas desta vez com a cobrança da Senhoriagem. Funcionou durante mais de um século, encerrando suas atividades em 1830 e sendo formalmente extinta em 1834. Em 1803 tinha-se chegado a determinar sua mudança para Goiás, mas isso não ocorreu. O prédio que a abrigava acabou por ser demolido no século XIX, construindo-se em seu lugar uma biblioteca pública. (FONTES: GONÇALVES, Casa da Moeda do Brasil, 56/64 e 92/94 - CMBN, 2;313 - SALLES OLIVEIRA, Moedas do Brasil, 1;214 - VILHENA, A Bahia no Século XVIII, 115 (nota de BRAZ AMARAL) - Fiscais e Meirinhos, 425).

Casa da Moeda - CUIABÁ

Segundo alguns, não passou de uma mera oficina monetária, apensa à Casa de Fundição daquela cidade. Mas, ela não se limitava a recunhar moedas já existentes; produziu numerário novo, de cobre, marcado com a letra monetária "c". Sua duração também foi bastante longa, havendo documentos sobre sua existência datados de 1753 e 1833. Provavelmente acompanhou a mudança da administração de Cuiabá para Vila Bela da Santíssima Trindade de Mato Grosso, em 1772. Nesse caso, teria retornado a Cuiabá em 1819. Em 1828 ainda contava com 10 funcionários e era separada da Casa de Fundição. (FONTES: ALINCOURT, Rezultado dos Trabalhos e Indagações Statisticas da Provincia de Mato-Grosso - GONÇALVES, Casa da Moeda do Brasil, 40/45 - IDHCO, 4:144).

Casa da Moeda - MINAS GERAIS

Instituída por Carta Régia de 19 de março de 1720, em Vila Rica, atual Ouro Preto-MG. Sua letra monetária era "M". Foi instalada no morro de Santa Quitéria, numa casa modesta "de pau a pique", começando a cunhar em 1/2/1725. Funcionou poucos anos, pois a Carta Régia de 18 de julho de 1734 ordenou que ela encerrasse as atividades, o que ocorreu no ano seguinte. O prédio que ocupava sofreu várias remodelações, sendo aproveitado depois como Palácio dos Governadores. Hoje, aloja a Escola de Minas de Ouro Preto. ((FONTES: GONÇALVES, Casa da Moeda do Brasil, 100/104 - Fiscais e Meirinhos, 428).

Casa da Moeda - PERNAMBUCO

A Casa da Moeda, que em 1698 viera transferida da Bahia para o Rio de Janeiro, foi removida, em 1700, para Pernambuco. Iniciou suas atividades em 13 de outubro de 1700, cunhando moedas de ouro e prata, usando a letra monetária "P". Por Carta Régia de 31 de janeiro de 1702, determinou o Rei o encerramento das atividades da Casa em Pernambuco, a qual em 12 de outubro desse ano retornou ao Rio de Janeiro. A Casa da Moeda de Pernambuco estivera alojada em Recife, no prédio da antiga Oficina Monetária de Recunhagem, pertencente a Antônio Fernandes de Matos, que a reformou e colocou à disposição do governo. (FONTES: GUERRA, Alguns Documentos de Arquivos Portugueses de Interesse para a História de Pernambuco, 65 - GONÇALVES, Casa da Moeda do Brasil, 76/79 - Fiscais e Meirinhos, 4125).

Casa da Moeda - SÃO PAULO

A mais discutida, talvez nunca tenha existido efetivamente; mas, se existiu, tem a primazia entre todas. Não se pode duvidar da sua criação, por volta de 1644; abundante documentação reunida por Afonso de E. Taunay o comprova. A grande questão que se levanta é se ela chegou a "bater" (cunhar) moeda nova. Teria sido ela uma mera oficina monetária? Ou uma casa da moeda que nunca se instalou? Sabe-se muito sobre ela, inclusive os nomes, os cargos e os atos de nomeação de seus funcionários. Conhece-se também o tipo de moeda que ela deveria fabricar: o "São Vicente", moeda de ouro, nos valores de 750, 1500 e 3000 réis. Moedas desse tipo são descritas no inventário de Lourenço Fernandes, um mascate carioca falecido em São Paulo, em 1646. Teriam sido cunhadas em São Paulo? Se assim fossem, teriam as letras monetárias "SP". Enquanto não se localizar uma moeda dessas, porém, a dúvida continuará pairando: existiu uma casa da moeda em São Paulo? De qualquer forma, a Casa da Moeda não durou muito, desaparecendo por volta de 1650. Deixou aberta, entretanto, uma interrogação a ser respondida por nossos historiadores e numismatas. (FONTES: GONÇALVES, Casa da Moeda do Brasil, 40/45 - TAUNAY, A Primeira Casa da Moeda do Brasil - Pauliceae, 2:313/356).

Casa da Moeda - RIO DE JANEIRO

A Casa da Moeda da Bahia foi transferida para o Rio de Janeiro em 1698, em obediência à Carta Régia de 12 de janeiro desse ano. Em 1700 foi novamente removida, desta vez para Pernambuco, mas em 1702 estava de volta ao Rio de Janeiro. E até hoje, quase três séculos decorridos ainda está na "cidade maravilhosa", conservando o mesmo nome e as mesmas atribuições. Em 1698, a Casa da Moeda, vinda da Bahia por mar, com seu pessoal e ferramentas, foi instalada na rua Direita, atual Primeiro de Março, no prédio dos armazéns da Junta de Comércio, nas proximidades da ladeira de São Bento. Ao voltar de Pernambuco, em 1702, novamente se instalou no mesmo local. Sua letra monetária era "R". Junto com a Casa da Moeda, usando seu pessoal e instalações, estabeleceu-se, em 1703, uma Casa dos Quintos, para arrecadar o tributo daqueles que não quisessem trocar seu ouro por moedas. Tornando-se inadequadas as dimensões do prédio da Junta do Comércio, a Casa da Moeda transferiu-se para duas casas dos frades carmelitas, no Terreiro do Carmo, hoje Praça XV. Isso ocorreu por volta de 1707. Nas invasões francesas, a Casa da Moeda foi afetada de formas diversas. Em 1710, travou-se nas suas proximidades a principal batalha; vencidos os invasores, parte dos prisioneiros foi recolhida à cadeia existente na Casa da Moeda. Na invasão de Duguay-Trouin, em 1712, a Casa da Moeda foi obrigada a pagar a avultada soma de 110:077$600 (cento e dez contos, setenta e sete mil e seiscentos réis), como parte do resgate da cidade. Além disso, foi pesadamente bombardeada, ficando inutilizadas as suas oficinas, o que a obrigou a suspender os trabalhos por muitos meses. Em 1743, o Conde de Bobadela, Gomes Freire de Andrade, edificou no local um novo prédio, o imponente Palácio dos Governadores. A Casa da Moeda ficou ocupando uma parte do térreo, voltada para a rua Direita. Já no século XIX, em 1814, a Casa da Moeda mudou-se para o antigo rudimento de museu de história natural, na rua do Sacramento, a famosa "Casa dos Pássaros", que compartilhou com o Erário Régio. No período em que esteve na rua do Sacramento, a Casa da Moeda emitiu, pela primeira vez na América, selos postais, os célebres "olhos de boi". Nesse edifício, a Casa da Moeda ficou até 1868, quando foi removida para o prédio próprio, especialmente construído para ela na Praça da Aclamação, hoje Praça da República. E ali ficou por mais de um século até 1983, quando foi removida para o Parque Industrial Santa Cruz, onde dispõe das melhores instalações possíveis. (FONTES: GONÇALVES, Casa da Moeda do Brasil - Fiscais e Meirinhos, 426).
Texto publicado no Boletim n° 33 da Sociedade Numismática Paranaense às folhas 21 a 26 Organizado por João Gualberto Abib

28 de jul. de 2008

A MALDADE FAZ ESTREITAR OS HORIZONTES

Quão verdadeira é esta afirmativa, talvez certeira na Justiça Divina pela ótica do resultado. Quanto mais maldade operamos em nossas vidas pelo sabor de vingança, sejam em atos ou palavras, menos horizontes nos abrem e conseqüentemente menos enxergamos, pelo efeito do estreitamento natural dos horizontes, ou seja, das oportunidades que a vida em harmonia poderia nos proporcionar.

Certeza mesmo, é o que Deus quis fazer com este estreitamento de visão dos possuídos pela gana de vingança, os quais imbuídos na determinação de se saciarem pela maldade, ficam tolhidos de visão, como um castigo, imposto pelo Divino.

É a natural rejeição da aplicação da maldade, que impregna em nossos corações, posse e prerrogativa exclusiva das pessoas que são filhas de Deus. Rejeitamos a vingança como uma forma da aplacar nossas indignações para com o mundo terrestre e para com nossos semelhantes, as quais das mais diversas formas nos têm desafiado, muitas das vezes de forma tormentosa.

O verdadeiro filho de Deus, conforma-se piedoso para consigo mesmo, seus horizontes são abertos com visão otimista para o mundo que se apresenta, com realizações plenas e satisfatórias da vida como um todo. Compadece-se das coisas que acontecem a sua volta, mas entretanto, fica distante o suficiente dos conflitos que ocorrem em seu círculo, pois como não pode e assim não deve vingar-se por si, muito menos pelos outros. É complacente, sim, mas sem interagir com a intensidade necessária dos envolvidos diretamente pelos conflitos existentes.

A primeira vista, percebe-se que somos covardes, não temos coragem para revidar, mas não, na realidade é a Sabedoria Divina impregnada em nossos caminhos, mesmo que isto venha ser interpretada como falta de coragem e de força para enfrentar os problemas, mas pelo contrário, não enfrentar os problemas pela ótica da maldade e da vingança, nos resta a resignação, e esta, se opera pela paciência e o esquecimento daquilo que nos atormenta.

Passa-se dois mil anos, e vê-se que os conflitos são instantâneos, uma pequena fração, um raio apenas, nesta eternidade que vivemos. Tudo fica insignificante numa passagem de 2.000 anos. Mesmo estes dois mil anos numa existência de milhares de anos são insignificantes e assim, sucessivamente.

O que fica é a sabedoria, de aprendermos com os fatos, não revidarmos a altura, pois desta forma estaríamos fazendo o jogo do inimigo. Assim, também seremos tolhidos pelo estreitamento de visão, é como um castigo, faríamos mal a pessoas inocentes onde se todos revidassem da mesma forma, aonde chegaríamos?

Não revidar, conformar-se com piedade, assim, estaremos abrindo nossos horizontes para tudo aquilo que Deus nos permite, e este impasse passara como um raio, imperceptível em nossas vidas.

É um momento de reflexão, sem dúvida alguma, mas prevalecerá a coragem de operar neste momento com a sabedoria em toda sua plenitude.

Que Deus queira assim.

Texto escrito em 12/09/2001 – 01:30 ( madrugada)

Escrito um dia após aos ataques de 11 de setembro de 2001, onde por alguns instantes, com angustia, me coloquei no lugar do povo norte-americano, mas erradamente acreditei que não haveria revide por parte deles ao Iraque. Mas estava enganado. A vingança foi operada em toda sua plenitude, e como acontece nestes casos, muitas pessoas inocentes morreram. A história e o tempo proporcionarão a resposta de quem estava certo ou errado.

Texto escrito em 01/11/2003 – 17:30 (uma tarde revendo este texto escrito acima)

Já se passaram quase 7 anos e a Guerra ainda não se acabou, já morreram mais de 4.000 soldados, quase o dobro das vítimas do ataque às torres gêmeas em Nova York e já se gastaram 600 bilhões de dólares ( mais de duas vezes o Pib da Argentina) * informação Revista Veja Edição 2071 página 86 de 30/07/2008.
Este é o resultado do “estreitamento dos horizontes” do qual citei um dia após o atentado que entrou na História de nossa humanidade. A pergunta que não quer calar.... a quem interessa esta Guerra??? Momento de muita reflexão aos amigos da Numismática.

Texto escrito em 28/07/2008 - 23:15 ( uma noite, revendo artigos já escritos para inaugurar a criação deste BLOG) do numismata João Gualberto Abib








O "GRANDE ESCÂNDALO" DE POTOSI





Quem é numismata, daqueles que tem especial interesse nas bases dos recunhos dos nossos 960 Réis, que tenha aproximadamente 50 anos de idade e gosta de cinema, deve lembrar-se dos memoráveis filmes de piratas, em sua grande maioria, filmados no Mar do Caribe e suas adjacências. E não é por menos: através de frotas com dezenas de galeões abarrotados, os tesouros do Novo Mundo partiam do Panamá pelo Mar do Caribe e atravessavam o Oceano Atlântico em direção à Península Ibérica, de onde circulavam pelo globo em quantidades inacreditáveis. Essas frotas milionárias eram o alvo predileto de pilhagens por piratas, corsários e bucaneiros privados ou a soldo de nações rivais como a Inglaterra, França, Holanda e até mesmo, de Portugal. Até os dias de hoje, o sonho de qualquer mergulhador ainda é o de encontrar um galeão naufragado, com arcas repletas de moedas! Apesar disso, tanto o Rei espanhol Felipe II (1556-1598) como seus sucessores, Felipe III (1598-1621) e Felipe IV (1621-1665) viveram em guerra permanente contra as nações inimigas e em débito com as casas bancárias européias e a população em geral! As riquezas das Américas apenas passavam pelas mãos espanholas, indo para os cofres das potências bancárias européias como a Holanda, que mantinha forte comércio com o Extremo Oriente, onde os então chamados “trade dollars”, iam parar nas mãos dos mercadores chineses. Porém, por volta de 1640, esses mercadores chineses começaram a recusar as peças de prata espanholas, alegando que estavam com o peso e a lei menor do que valiam. Evitando perder a aceitação mundial de sua adorada moeda, a coroa espanhola iniciou uma devassa em suas colônias no Novo Mundo e descobriu anos de fraudes e abusos na Casa Real de Moeda de Potosi, hoje parte do território boliviano, que naquela época pertencia ao Vice-Reino do Peru.


Peru e Potosi eram nomes que andavam na boca de todos os aventureiros europeus, incandescendo-lhes a mente. Depois de pilhar o ouro dos Incas no Peru e dos Astecas no México, os conquistadores espanhóis descobriram por engano, em 1544, uma montanha inteira fabulosamente rica em prata no altiplano da Bolívia: Cerro Rico de Potosi, uma maravilha da natureza e um verdadeiro milagre para os já combalidos cofres reais espanhóis! Situada na Cordilheira dos Andes, a 4.824 metros de altitude, extraíram mais de 70.000 toneladas de prata durante quase 400 anos! Em valores atuais, mais de dois bilhões e meio de dólares em prata! Aproximadamente 1 milhão de escravos índios e negros morreram na extração e processamento ao longo dos quase 300 anos de dominação colonial espanhola. Vapores de mercúrio e fumaça de fundição reduziam a vida útil dos escravos mineradores para menos de 6 meses, nesta que era então, a maior mina subterrânea do mundo.

Os tesouros em moedas, barras e chapas de prata produzidas pela Casa Real de la Moneda de Potosi, eram carregados em caravanas de lhamas que desciam do altiplano andino para o porto de Lima, numa jornada de mais de 1.000 quilômetros. Os tesouros eram então transferidos para galeões que navegavam pelo Oceano Pacífico rumo ao norte, para o Panamá, onde eram novamente descarregados e postos no lombo de mulas para cruzar o país para o leste, seguindo o trajeto onde hoje existe o Canal do Panamá. Recolocados mais uma vez dentro de galeões, iniciavam uma longa e perigosa jornada pelo Mar do Caribe e o Oceano Atlântico em direção a Espanha, se os piratas e as condições climáticas assim o permitissem.

Uma nota real de 23 de setembro de 1642 estabelecia que a lei ou fineza da moeda de prata proveniente da América deveria ser de 11 dinheiros e 4 grãos, o que equivalia a 0,931 de prata pura. Isso deveria ser rigorosamente cumprido pelos Ensaiadores de todas as Casas Reais de Moedas do Novo Mundo e sua desobediência era considerado crime de lesa-majestade, sujeito a todo o peso da Lei espanhola vigente, o que não era pouca coisa.

Os registros oficiais começam em 12 de abril de 1644, quando o Ensaiador-mór do Reino, dom Andrés de Perera enviou um ofício ao Presidente do Conselho de Fazenda mostrando as fraudes e os transtornos causados pela falta de lei das moedas recentemente recebidas das Índias e solicitando a criação de uma comissão para, “com toda urgência e segredo”, pôr um fim nessa situação. Em 7 de julho de 1648, a Casa de Contratação de Sevilha informou diretamente ao Rei sobre os “embaraços ocasionados pela moeda (nas Índias), não querendo aceitá-las os comerciantes locais até que se realize o ensaio respectivo”. Dias depois, o Conselho de Fazenda do Reino de Aragão mostrou que “faltavam até 3 Reales em cada peça de 8 Reales provenientes do pagamento do exército real na América”, o que fez Felipe IV decretar um ensaio geral nas moedas provenientes de Potosi. O Reino de Castela enviou reclamação similar datada de 5 de setembro de 1648. Evidentemente a moeda potosina havia chegado na metrópole com a frota da América e já estava circulando por toda a Europa, onde fora detectado pelos particulares (e confirmado pelos Ensaiadores Reais espanhóis) que continham falta superior a 25% em prata, o que ocasionava a recusa generalizada. Em resposta, Felipe IV designou o Dr. Francisco de Nestares Marin, pessoa de sua inteira confiança e com amplo conhecimento monetário, para que viajasse a Potosi com plenos poderes para investigar e solucionar a situação. Além disso, o Rei decidiu em 15 de janeiro de 1649, enviar ao Vice-Rei do Peru exemplares dos 8 Reales fraudados, que haviam sido examinadas em novembro de 1648 pelos Ensaiadores Reais Andrés de Perera e Pedro de Arce, para que tomasse as providências devidas.

Nestares Marin iniciou seus trabalhos em Potosi em fins de dezembro de 1648. Como resultado de suas investigações, destituiu e encarcerou o Corregedor-mór da cidade, don Juan Velarde Treviño, destituiu do cargo o então Tesoureiro-mór da Casa Real de Moeda local don Bartolomé Hernández e condenou a morte por crime de lesa-majestade os antigos Tesoureiros Francisco Ximénez de Cervantes e Miguel Ruiz, por cumplicidade na falsificação das moedas. Nestares Marin comprovou ainda que havia cumplicidade entre os funcionários da Casa Real de Moeda e os mercadores de prata da região, pelo qual o Prefeito de Potosi, Francisco Gómez de la Rocha e o Ensaiador Felipe Ramirez de Arellano (cujo monograma “FR” aparece gravado em várias moedas) considerados como os que iniciaram a fraude, foram condenados à morte por garrote-vil em dezembro de 1649, sendo seus cadáveres posteriormente exibidos em praça pública para servir de exemplo à população do rigor com que a coroa espanhola tratava quem ousasse desobedecer as suas Leis. Em seguida, destituiu e julgou o Ensaiador Pedro Zambrano (cujo monograma, “Z” também aparece em diversas moedas) condenando-o à morte, nomeando em seu lugar don Juan Rodríguez de Rodas, que viera da Espanha com Nestares Marin para assumir o cargo. Punidos os principais responsáveis pela fraude, passou-se então a tomar as medidas necessárias para tentar reverter o estrago causado.

Procurando resolver o problema da moeda potosina adulterada, Felipe IV emitiu em 22 de dezembro de 1650 uma nota real que dava autonomia para o Vice-Rei do Peru, o Marquês de Mancera, para que desvalorizasse a moeda potosina, melhorasse a lei das novas moedas e alterasse o desenho dos seus cunhos. Isso deu origem a um novo desenho das macuquinas que começaram a cunhar por volta de 1653, com o desenho que passou a ser conhecido como os COLUNÁRIOS. Mesmo assim, os Ensaiadores Rodas (identificação “..”) e seu sucessor Antonio de Ergueta não conseguiram manter a lei e a fineza dos colunários iniciais cunhando-os com uma falha de 6% na prata. Novamente foram desvalorizadas no valor correspondente, ficando as peças de 8 Reales equivalentes a 7,5 Reales e as de 4 Reales em 3,75 Reales, sendo acrescentada uma coroa ao cunho para identificá-las com maior facilidade. Não foram encontrados registros do destino dado aos dois ensaiadores.

Como a população da metrópole não tinha uma forma rápida de saber exatamente qual era a moeda potosina problemática, as decisões tomadas pelos conselheiros do Rei acabaram criando dois problemas: de um lado, dificuldades para a circulação das moedas no uso diário (paralisação das atividades comerciais e do recolhimento dos impostos até que começassem a circular as moedas boas) e por outro lado, gerando grandes e acirradas discussões entre os Ensaiadores sobre qual procedimento seria utilizado para descobrir e separar as moedas adulteradas (e desvalorizadas) das moedas sãs. Na dúvida, a população começou a guardar em casa todas as suas moedas até que fosse divulgada uma solução definitiva. E, sem as moedas em circulação, com o comércio paralisado e sem o recolhimento dos impostos para pagamento das despesas do reino, surge o desabastecimento de produtos essenciais e a alta dos preços nos mercado, com a insatisfação e o descontentamento geral da população.

Acuado por todos os lados, Felipe IV foi obrigado a emitir uma decisão real datada de outubro de 1650, determinando “que todos os Reales de 8 e de 4 do Peru, sem distinção alguma entre uns e outros, de agora em diante, valham os de 8 em 6 Reales e os de 4 em 3 Reales”. Houve uma correria sem precedente às Casas de Moedas e Fundições em todo o domínio espanhol, com a população levando todas as suas moedas para ensaio, fundição e recunhagem posterior, tentando reduzir suas perdas. Tanta era a insatisfação e a confusão que levou o Rei a emitir uma decisão real em 1651, onde não se cobrava mais taxa alguma para fundir e cunhar as novas moedas. As Casas Reais de Moedas e de Fundição espalhadas por todo o vasto domínio espanhol trabalharam no máximo de suas capacidades, ininterruptamente por mais de nove meses, para dar conta do trabalho. Mesmo assim, em junho de 1651 foi dada autorização para que alguns ricos comerciantes da Espanha enviassem para a Itália, suas barras de prata fundidas das moedas peruanas para que fossem cunhadas moedas por lá, em virtude da sobrecarga nas Casas de Moedas e de Fundição espanholas. Enquanto suas barras viajavam, foram autorizados a sacar diretamente dos cofres da reserva da Casa Real da Espanha, seus saldos em moedas de 8 Reales a uma cotação de 6 Reales, “já que isso não poderia aumentar ainda mais, o descrédito da moeda espanhola”.

Com todos os problemas já descritos e com o descrédito da moeda espanhola, tanto nos domínios espanhóis como em todo o mundo, um caso teve grande repercussão e gerou enorme constrangimento e vergonha ao próprio Rei: foi dito que no final de outubro de 1650, a Rainha Dona Mariana ao pagar algum tipo de compra, usou várias moedas de 8 Reales potosinos, da baixa lei! Foi feita inclusive, uma consulta formal ao Conselho de Fazenda sobre uma forma legal de substituir as moedas da Rainha... O problema da moeda fraudada em Potosi atingiu proporção tão grande nos domínios espanhóis, que manchou até mesmo a reputação da família real!

No início de 1651, no auge da crise econômica causada pela moeda potosina de baixa qualidade, foi proposto pela primeira vez que, em vez de aguardar que toda a moeda em circulação fosse separada e a potosina recunhada dentro da lei voltasse a circular, que aceitassem o pagamento dos impostos com as moedas de 8 Reales cotadas em 6 Reales, proposta aceita pelo Conselho de Fazenda para assegurar em definitivo, tanto o desaparecimento de circulação de todas as moedas adulteradas como a retomada do recolhimento dos impostos para custear as despesas do reino, até então bancadas diretamente pelas reservas do Rei. Entre 1654 e 1657, ainda apareciam esporadicamente, pequenos lotes de moedas potosinas adulteradas, que ainda vagavam pelo mundo afora.

Contudo, somente por volta de 1657, foi considerado solucionado os enormes transtornos causados pelo “Grande Escândalo”, gerado pela redução fraudulenta da lei ou fineza da prata nas moedas cunhadas na Casa Real de Moeda de Potosi. Isso não trouxe conseqüências sérias apenas para os funcionários e mercadores de prata que se uniram para cometer uma fraude, naquela cidade distante no altiplano andino. Todo o vasto domínio espanhol foi afetado, seja pela perda de valor da moeda, seja pelo enorme descrédito que a moeda espalhou por todo o mundo. Até mesmo a família real espanhola passou por situações embaraçosas. Num ensaio monetário realizado na Casa Real de Moeda de Madrid em 26 de setembro de 1650, dos 2.952 Reales em moedas potosinas apurou-se na verdade, 2.203 Reales em moeda legal, deduzindo-se que a lei ou fineza da prata das moedas cunhadas em Potosi era, pelo menos, 25,4% inferior ao que determinava a legislação vigente na época! Aplicando-se esse índice na produção gigantesca de moedas de prata potosina, durante os 8 anos em que se presumem que durou a fraude, o desfalque do “Grande Escândalo de Potosi” alcançaria um montante maior que 10 milhões de Pesos em valores da época, uma cifra astronômica.

Nos dias de hoje, tendo em vista o esforço da coroa espanhola em retirar de circulação as moedas potosinas fraudadas, devolvê-las à circulação devidamente recunhadas dentro da lei e a tentativa de recuperar o prestígio que as peças de prata emitidas no Novo Mundo gozavam antes do Grande Escândalo, é extraordinariamente raro encontrar-se um exemplar das mesmas. Quem porventura as detiver, estará de posse de uma peça de valor inestimável.

No início do texto, as imagens das moedas, representam uma moeda Macuquina "fraudada" e de um Colunário que foi criado em substituição destas moedas, alterando-se o desenho para evitar fraudes daí por diante.
Texto de autoria dos Numismatas - Roberto Keller e João Gualberto Abib ( publicado originalmente no Boletim da Sociedade Numismática Paranaense nª 32, em Setembro de 2007 - Páginas 15 a 21 ) .

FERROVIAS BRASILEIRAS E PERCIVAL FARQUHAR, SOMA DE FRUSTRAÇÃO

BRAZIL RAILWAY COMPANY

A construção e o desenvolvimento das principais ferrovias nos Estados Unidos entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX, caracterizou-se por grandes empreendimentos realizados em direção ao Oeste por poderosos empresários que ficariam conhecidos pela História, justa ou injustamente, como “Barões Ladrões” (Robber Barons) face ao imenso poder e fortuna que acumularam, expulsando e apropriando-se de imensas faixas de terras habitadas pelos indígenas norte-americanos, ao longo dos trilhos. Os “Barões Ladrões” ganharam fama de heróicos aventureiros bem-sucedidos e estimularam muitos jovens ambiciosos a tentar seguir seu exemplo no mundo dos negócios.
Um desses jovens era Percival Farquhar, uma personalidade que se tornou quase lenda no Brasil durante as primeiras décadas do século XX.
Farquhar era filho de um importante industrial, de origem quacker, conhecido e respeitado nos meios financeiros de Nova York e Londres e que partilhou da amizade e dos interesses de todos os presidentes norte-americanos, de Lincoln a Hoover. No final do século XIX, ele rapidamente se entrosou no meio financeiro americano inicialmente trabalhando para grandes empresários, através dos quais teve a oportunidade de estreitar os laços de amizade com os principais banqueiros da época.
Visionário, determinado e ambicioso, Farquhar logo percebeu que as oportunidades para fazer fortuna iam se tornando cada vez mais escassas nos Estado Unidos. Mas que eram abundantes em países ainda em desenvolvimento no continente americano.
Aliou a sua enorme ambição e seu círculo de amizades com os ideais do Destino Manifesto, uma expressão típica da época, na qual expressava a crença de que o povo dos Estados Unidos foi eleito por Deus para comandar o mundo. Por isso, o expansionismo norte-americano é apenas o cumprimento da vontade Divina. Tanto os ingleses como os nazistas também tiveram as suas versões locais dos mesmos ideais de expansão e dominação, o que acabou levando o mundo para a Segunda Grande Guerra Mundial, em 1938. Os defensores do Destino Manifesto acreditavam que a expansão não só era boa, mas que era inevitável (“destino”) como também, óbvia ("manifesto"). Originalmente uma frase de propaganda política do século XIX, o Destino Manifesto se tornou um termo histórico padrão, freqüentemente usado como um sinônimo para a expansão territorial dos Estados Unidos por todas as Américas e pelo Oceano Pacífico. As doutrinas do Destino Manifesto foram usadas explicitamente pelo Governo e pela imprensa norte-americana durante a década de 1840, até a compra de Gasden (sendo também incluída a compra do Alasca por alguns historiadores), como justificativa para o expansionismo norte-americano nas Américas. Esta expressão deixou de ser utilizada oficialmente, da década de 1950 (época da Guerra Fria) até o final da década de 1980 com o fim do regime soviético (época da glasnost e da Perestroika) quando foi então revivida e voltou a ser falada publicamente por militares e políticos norte-americanos, como uma justificativa para o expansionismo norte-americano fora das Américas. Logo, porém, deixou de ser utilizada explicitamente pela mídia e por políticos em geral por ser “politicamente incorreta”, sendo substituída pela expressão “defesa dos interesses norte-americanos”, embora alguns especialistas demonstrem que, certas doutrinas do Destino Manifesto tenham forte influência sobre a política externa de todos os Governos norte-americanos até os dias de hoje.
Os primeiros empreendimentos de sucesso de Farquhar nas áreas de transporte e infra-estrutura foram em Cuba e na Guatemala, entre 1898 e 1908, quando passou a se dedicar quase que exclusivamente a explorar oportunidades de empreendimentos no Brasil.
O interesse de Farquhar pelo Brasil começou em 1904, participando da organização de empresas, com a emissão de títulos para obtenção de recursos nos mercados financeiros europeu e norte-americano, que posteriormente se tornariam famosas, como por exemplo, a Rio de Janeiro Tramway, Light & Power Company. Seu primeiro empreendimento ferroviário (e pelo qual ficaria mais conhecido no Brasil) foi em 1907, com a constituição e capitalização da Madeira-Mamoré Railway Company também através da emissão de títulos de diversos valores nominais na Europa e nos Estados Unidos, empresa criada para construir a ferrovia do mesmo nome em plena selva amazônica, por encomenda do Governo Brasileiro, como cláusula do acordo de aquisição do Acre junto ao Governo da Bolívia, integrando-a a navegação fluvial como parte de um sistema de transporte e exportação da borracha nativa da região. A ferrovia era longa, tinha 364 km, e foi inaugurada em 1912, justamente quando chegava ao fim o boom da borracha nativa. De projeto controverso, teve a sua construção tumultuada, com milhares de vítimas, atrasos constantes e orçamento crescente. Depois de pronta e inaugurada, teve operação deficitária, foi nacionalizada e teve o seu tráfego suspenso em 1931.
(imagens dos títulos da Light e da Madeira-Mamoré)
Entretanto foi no sul do Brasil que Farquhar vislumbrou criar um gigantesco complexo de transportes e colonização, inspirado pela suas crenças no Destino Manifesto e na sua formação quacker, no clima ameno e nas terras semelhantes às que atraíram milhares de imigrantes europeus para a América do Norte. Em 12 de novembro de 1906, ele fundou nos Estados Unidos, a Brazil Railway Company, destinada a se tornar em apenas seis anos, a maior empresa ferroviária privada que o Brasil já conheceu.
(imagem do título da Brazil Railway)
As principais ferrovias que Farquhar comprou ou arrendou neste período foram:
• São Paulo-Rio Grande (SP-RG): A concessão da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, iniciou com o engenheiro João Teixeira Soares em 1890, abandonando o projeto em 1908, quando foi adquirida por Percival Farquhar e passou a ser a espinha dorsal das linhas da Brazil Railway Company nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A SP-RG na época ligava Ponta Grossa (PR) às cidades vizinhas de Porto União (PR) e União da Vitória (SC) e possuía diversas concessões para outras linhas, incluindo seu prolongamento até Marcelino Ramos no Rio Uruguai, fronteira com o estado do Rio Grande do Sul. A União garantia, por contrato firmado entre as partes, uma subvenção de 30 contos de réis por quilômetro construído mais juros de 6% ao ano sobre todo o capital que a concessionária investisse na obra. Assim sendo, a Brazil Railway Company procurou alongar a linha ao máximo, contornando os obstáculos naturais através de longas curvas e economizando nas construções de aterros, pontes, viadutos e túneis. Além do que, recebeu a propriedade das terras que ficavam até 15 quilômetros de cada lado da linha, o que configurou uma doação contratual por parte do Governo Brasileiro de 15.894 km² de terras férteis, cobertas por florestas de araucárias, numa área de 656.776 alqueires. Essas terras foram consideradas tanto pelo Governo como pela Brazil Railway Company, devolutas e desabitadas, o que não era verdade. Desde o século XVIII, com os rebanhos de gado tocados pelos tropeiros que, partindo de Viamão (RS) com destino ao comércio em Sorocaba (SP), diversas localidades surgiram ao longo do caminho, inicialmente como locais de pouso. Durante muito tempo, milhares de brasileiros habitantes dessas localidades viveram semi-isolados, criando gado, colhendo erva-mate e extraindo madeira para seu próprio consumo. A erva-mate colhida já era então, vendida até na região do Rio da Prata. Enquanto houve emprego disponível na construção da ferrovia, não ocorreram maiores problemas. Porém, após o término das obras e por razões desconhecidas até hoje, a Brazil Railway Company não cumpriu o seu compromisso de encaminhar e pagar a viagem de volta para os seus locais de origem, dos mais de 4.000 operários que contratara por todo o Brasil. Desempregados e sem condições de retornar a seus lares, juntaram-se aos demais nativos que foram demitidos e começaram a perambular pela região, sem abrigo e nem alimento. A intolerância dos proprietários rurais de um lado e a fome e a miséria dos desempregados de outro, acabaram em saques, roubos e mortes. Esses lamentáveis episódios serviram como estopim do que acabaria se tornando a Guerra do Contestado.
(imagem do título da São Paulo-Rio Grande)
• Estrada de Ferro do Paraná: Umas das obras primas da engenharia ferroviária brasileira, a linha-tronco entre Curitiba e Paranaguá construída entre 1880 e 1885 é ainda hoje, admirada pelo impressionante trecho de simples aderência que transpõe a Serra do Mar.
• Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina: A importância desta estrada no Estado de Santa Catarina era garantir o aproveitamento de parte de suas linhas como parte da ferrovia que Farquhar planejava de São Paulo ao Rio Grande do Sul.
• Estrada de Ferro Sorocabana: Farquhar adquiriu o controle da grande ferrovia que se desenvolvia na época entre a capital de São Paulo até quase a fronteira com o Paraná através de um dos lances empresariais mais audaciosos da época. Farquhar, por acaso, estava em Londres no inicio de maio de 1907, quando o prestigioso jornal The Times publicou uma notícia dando conta que o superintendente geral da São Paulo Railway, ferrovia de capital inglês, estava embarcando de volta para o Brasil, com a missão de arrendar a Sorocabana, então sob controle estadual. A posse da Sorocabana pela Brazil Railway Company era considerada fundamental e Farquhar há muito vinha tentando sem sucesso, uma negociação neste sentido com o Governo do Estado de São Paulo. Como o navio trazendo o superintendente da SPR iria demorar semanas para chegar ao Brasil, Farquhar iniciou uma desesperada operação de engenharia financeira para obtenção de recursos em Paris e nos Estados Unidos, correndo contra o tempo para poder fazer sua oferta antes dos seus concorrentes ingleses. Após intensas negociações que duraram vários dias seguidos, Farquhar despachou um telegrama urgente para os seus representantes no Brasil negociarem o arrendamento da Sorocabana com o governo paulista, de maneira que quando o superintendente da São Paulo Railway finalmente desembarcou em São Paulo, a Sorocabana já era mais uma ferrovia sob controle da Brazil Railway Company.
(imagem do título da Sorocabana)
• Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer du Brésil: era arrendatária de cerca de 2000 km de linhas no Rio Grande do Sul, constituindo-se em um elo natural na cadeia de ferrovias da Brazil Railway Company. O arrendamento da Auxiliaire, em 1910, foi relativamente simples para Farquhar, já que ele matinha boas relações com o grupo de banqueiros belgas que detinham o controle desta companhia.
(imagem do título da Auxiliaire)
• Companhia Paulista e Companhia Mogiana: Farquhar interessou-se também por controlar as principais concorrentes da Sorocabana que, como ela, foram construídas por ricos fazendeiros paulistas conhecidos como os Barões do Café, seguindo o avanço do plantio e colheita do café. Mas nesse caso os investimentos teriam que ser muito grandes. Ao invés disso, a Brasil Railway Company acabou por adquirir um significativo lote de ações de ambas as ferrovias, nomeando diretores para influir aos menos em parte na administração, de acordo com seus interesses. A influência maior acabou sendo na Mogiana, que na época carecia de recursos. Farquhar tentou ainda superar a si mesmo e através de complexas manobras financeiras, quase veio a adquirir o controle da própria São Paulo Railway. Esta operação acabou não dando certo pelo repentino recuo de um dos banqueiros acionista da SPR, que Farquhar acreditava estar do seu lado.
(imagens dos títulos da Paulista e da Mogiana)
Para tornar viável o gigantesco empreendimento da Brazil Railway Company, Farquhar também investiu pesado na construção de diversas linhas de conexão, tornando a ligação ferroviária entre São Paulo e o Rio Grande do Sul uma realidade. Farquhar orientava as companhias para que construíssem as novas linhas nas melhores condições técnicas possíveis, contratando os melhores especialistas dos Estados Unidos. Farquhar também não economizava em material rodante, fazendo a primeira grande padronização de equipamentos ferroviários no Brasil.
No auge da Brazil Railway Company, Farquhar era considerado o maior símbolo do poder econômico norte-americano no Brasil. Seus investidores também eram dirigentes da Canadian Pacific Railway, da Canadian Steamship Company, da Wisconsin Central Railway, da Minneapolis and St. Louis, da Geórgia Central Railroad, da United Fruit Company. Também havia sócios das ferrovias da Guatemala, Jamaica e Costa Rica, da Mexican Light and Power e do Banque des Pays-Bas.
O “Sindicato Farquhar” reunia no Brasil, 38 empresas e parecia grande demais aos olhos do Governo, da opinião pública, da concorrência e principalmente, dos políticos. Havia de tudo; desde operadoras de docas em importantes portos brasileiros, a maior companhia madeireira das Américas, uma fábrica de papel, enormes áreas de terras para pastagens e plantio em Mato Grosso e no Pará, seringais, o primeiro frigorífico moderno do Brasil, a Bahia Tramway, Light and Power Company, hotéis de luxo, restaurantes, companhias telefônicas até uma grande frota de vapores no Amazonas. A Brazil Railway Company também compartilhava diretores com a Great Western, com a Leopoldina e com a Brazilian Traction, a maior empresa de bondes para transporte urbano de passageiros do Brasil.
A essas alturas, por volta de 1912, eclodiu um surto nacionalista alimentado por grupos nacionais e estrangeiros, interessados em desmembrar e tomar posse dos empreendimentos em atividade. Farquhar e suas empresas sofreram uma intensa campanha de difamação sem tréguas pela imprensa, que perdura até os dias de hoje, onde ele é invariavelmente retratado como o representante dos “tentáculos do imperialismo ianque sobre o Brasil". Ao mesmo tempo, acabava a calmaria no mercado financeiro internacional. A história registra que o empreendimento da Brazil Railway Company só foi possível pela abundante oferta de capitais que se verificou no mundo até meados de 1912. O agravamento da crise política européia acabou levando as nações mais desenvolvidas a entrarem na Primeira Grande Guerra Mundial e fez com estes capitais se retraíssem justamente numa época em que a Brazil Railway Company começava a dar os primeiros sinais de desequilíbrio financeiro. A partir de 1913, a Brazil Railway Company começou a ficar insolvente e Farquhar tentou desesperadamente obter recursos no exterior. Mas a situação foi se deteriorando rapidamente e o inevitável aconteceu: em outubro de 1914 foi decretada a falência da Brasil Railway Company lá nos Estados Unidos. Todo o complexo da Brazil Railway Company acabou sendo dominado pela corrupção, indo à bancarrota aqui no país em 1917.
O Governo Federal e os governos de São Paulo e do Rio Grande do Sul intervieram rapidamente na administração das principais ferrovias da Brazil Railway Company, enquanto corria uma avalanche de processos nas Justiças norte-americana, brasileira e francesa. Pelo menos em termos de equipamento, a Brazil Railway deixara as ferrovias sob sua administração, numa situação infinitamente melhor do que as encontrara. Em 1940, o governo Getúlio Vargas encampou todos os bens da Brazil Railway Company, incorporando o seu acervo ferroviário na RVPSC Rede Viação Paraná-Santa Catarina. E esta acabou sendo incorporada na RFF Rede Ferroviária Federal em 1957.
(fotos da fachada da estação da RVPSC e da RFF)
Farquhar continuaria a ser manchete no Brasil por mais de trinta anos a partir de 1919, travando desta vez uma batalha para explorar o minério de ferro das reservas da Itabira Iron, em Itabira (MG), envolvendo a Estrada de Ferro Vitória a Minas.
Em 1904 foi inaugurada a Companhia Estrada de Ferro Vitória-Minas (CEFVM) ligando Cariacica, ES, a Alfredo Maia, MG. Durante a sua construção, chamou a atenção de grupos ingleses para existência de imensas jazidas de ferro na região. Estes grupos adquiriram grandes áreas de terra na região de Itabira, MG e fundaram, em 1909, o Brazilian Hematite Syndicate. Adquiriram também a maioria das ações da estrada de ferro.
(imagem do título da Vitória-Minas)
Em 1910, durante o XI Congresso Geológico e Mineralógico, realizado em Estocolmo, o mundo toma conhecimento dessas reservas, que têm alto teor de ferro e são estimadas em 2 bilhões de toneladas.
Em 1911, Percival Farquhar adquiriu a maioria do capital do Brazilian Hematite Syndicate, alterando seu nome para Itabira Iron Ore Company.
Com um ousado e gigantesco projeto, orçado em 80 milhões de dólares na época, obteve toda a simpatia do então Presidente da República Epitácio Pessoa, que assinou o famoso Contrato Itabira de 1920. Imediatamente Farquhar passaria a sofrer uma feroz oposição de Arthur Bernardes, então Presidente do Estado de Minas Gerais.
Ambos tinham visões conflitantes e irreconciliáveis: Arthur Bernardes pretendia implantar na região um império siderúrgico, sonhando com uma nova Região do Ruhr em seu estado, enquanto as prioridades de Farquhar se concentravam na exportação do minério bruto e na atividade ferroviária e marítima relacionadas a seu transporte.
Farquhar sofre seu grande revés quando Arthur Bernardes foi eleito Presidente da República em 1922 e promulga uma lei que taxava em 3 mil réis por tonelada, o minério de ferro que fosse exportado em bruto, inviabilizando assim o negócio.
Em 1930, o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas, de forte discurso nacionalista e contando com o apoio dos tenentes, assume o poder no Brasil à frente do Golpe de Estado de 1930.
Em 1935, o governo de Getúlio Vargas enfrenta os interesses da poderosa Itabira Iron Ore, quando encampa a Estrada de Ferro Vitória a Minas.
Em 1937, é outorgada uma nova Constituição para o Estado Novo, com uma nova legislação determinando que a exploração das jazidas minerais no Brasil passasse a depender de prévia concessão do Governo Federal, a qual só poderá ser outorgada a empresas brasileiras, cujos acionistas fossem cidadãos brasileiros.
Em 1941, Farquhar vendo sua margem de manobra cada vez mais tolhida por Getúlio Vargas, resolve associar-se a empresários brasileiros e divide a Itabira Iron Ore em duas empresas "brasileiras": a Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia e a Companhia Itabira de Mineração.
Negociando habilmente com o governo norte-americano (que precisava urgentemente de autorização para poder operar aviões militares em bases aéreas no nordeste brasileiro durante a 2ª Guerra Mundial) Getúlio Vargas conseguiu obter o apoio técnico e financeiro norte-americano para a construção de uma siderúrgica de grande porte no Brasil, que se tornaria a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta Redonda, RJ, e mais ainda, conseguiu fazer com que os americanos intercedessem junto ao governo inglês no sentido de evitar quaisquer objeções dos sócios ingleses à encampação das reservas de minério de ferro que ainda detinham em sociedade com Farquhar.
Estes entendimentos foram denominados como Acordos de Washington, uma série de cinco acordos que estabeleciam a concessão de um crédito de US$ 50 milhões para auxiliar a criação de um Banco Central brasileiro; a concessão de um empréstimo de US$ 19,2 milhões do Eximbank para a liquidação de atrasados comerciais e a reativação do intercâmbio comercial entre os dois países; o compromisso desse mesmo banco de financiar vendas norte-americanas para o Brasil com prazos de pagamento e juros favorecidos, e a promessa do governo Roosevelt de facilitar a formação de companhias de desenvolvimento, com capitais americanos e brasileiros, destinadas à industrialização de matérias-primas brasileiras. Em contrapartida, o governo brasileiro assumiu o compromisso de liberar o mercado de câmbio para as transações comerciais, facilitar a transferência de lucros de capitais norte-americanos aplicados no Brasil e retomar o pagamento da dívida externa. Acertou-se também a troca de visitas dos chefes de Estado-Maior dos Exércitos norte-americano e brasileiro, respectivamente o general Marshall e o general Góes Monteiro, iniciativa de significado mais político do que militar, visando uma colaboração que barrasse o aumento da influência militar alemã, bem sucedida a ponto de acabar levando o Governo Brasileiro a romper relações diplomáticas com os países do Eixo, declarando-lhes estado de guerra e instituindo a FEB Força Expedicionária Brasileira que foi enviada para os campos de combate da Itália. Ademais, houve um enorme aumento na aquisição de nossas matérias-primas por parte dos Estados Unidos, para o esforço de guerra aliado, como café, algodão, milho, arroz, frutas diversas, juta, borracha, cristais, minerais estratégicos e madeira.
Em decorrência dos acordos, Getúlio Vargas assina o decreto-lei nº 4.352 de 1º de junho de 1942 criando a Companhia Vale do Rio Doce. A nova empresa, constituída como uma sociedade anônima de economia mista, encampa todo o empreendimento de Farquhar e assume o controle da Estrada de Ferro Vitória a Minas, com o objetivo de assegurar o suprimento estratégico de minério de ferro para a recém-criada Companhia Siderúrgica Nacional - CSN, bem como para dedicar-se à exportação de minério de ferro. Com controle acionário do governo federal, a CVRD foi organizada para explorar as riquezas minerais do subsolo brasileiro, principalmente o ferro.
(imagem de uma ação da CVRD)
Com as disposições contidas no Código de Minas - que fazia distinção entre a propriedade do solo e a do subsolo e vedava a exploração do subsolo brasileiro a estrangeiros, o governo federal implementou a partir da década de 1940 projetos para a área da exploração mineral.
Com sua nítida postura nacionalista, o governo Vargas encerrou definitivamente as atividades que Percival Farquhar e a Itabira Iron Ore Company mantinham no Brasil.
Desta forma, acabou um sonho de Percival Farquhar, um dos grandes precursores nos investimentos de infra-estrutura brasileira com capitais internacionais.
Uma lástima....

Texto de Autoria dos Numismatas, JOÃO GUALBERTO ABIB e ROBERTO KELLER.

KURT PROBER - CIENTISTA NUMISMÁTICO

Prezados Amigos do meio Numismático:

É com pesar, que recebo tardiamente a notícia sobre o falecimento de Kurt Prober.
Vejo que o Claudio Schroeder, de Porto Alegre, enviou a notícia para o Cléber de Brasília e o Cléber repassou o e-mail para o Antonio Tomaz de Curitiba e assim foi enviada do Tomaz para o meu e-mail.
Lamentável mesmo em saber que o destemido, e sempre corajoso Kurt Prober, tenha falecido dia 23 de março de 2008, aos 99 anos de idade que se completou dia 12 de março, ele morava na Ilha de Paquetá no Rio de Janeiro e lá vivia recluso, já algum tempo, longe dos acontecimentos numismáticos que ocorreram nestes últimos anos. Sua própria trajetória e sua vida, mais do que longa, talvez se expliquem por si só, esta sua escolha em viver seus últimos anos nesta linda e maravilhosa Ilha, afinal, mais do que merecido este seu descanso na esplendorosa Paquetá.
É muito natural que quando as pessoas morram, ainda mais ele, de alto grau maçônico e já com seu nome mais do que inserido na Numismática Brasileira, como poucos, entram para a história de forma definitiva.
Foi um grande estudioso sobre as moedas de nosso País e especialmente sobre as moedas de cobre, e na Numismática Brasileira, não há do que se relatar sobre os principais acontecimentos Numismáticos ocorridos nos últimos 70 anos, que este grande personagem não tenha participado ativamente.
Foi protagonista de alguns acontecimentos históricos, como comerciante, como pesquisador e sempre destemido e corajoso, aliás, esta é a sua maior marca, enfrentou poderosos, contrariou interesses, publicou denúncias, fez inimizades no meio, lançou intrigas, envolveu pessoas, mas acima de tudo, sempre em benefício da Numismática Brasileira. Todos temos muito a agradecer a este grande personagem.
Mas lembro aos que não sabem, que ele sempre se dedicou às moedas e jamais, em tempo algum, perdeu tempo com cédulas, e arrisco até em lhe cunhar o grau de CIENTISTA NUMISMÁTICO de maior relevância que o Brasil já teve nestes últimos 70 anos.
As Sociedades Numismáticas, bem como os estudiosos desta, deveriam se debruçar em analisar o legado que este verdadeiro Cientista deixou para nós, em forma de seus catálogos, suas publicações, suas denúncias, e até sobre suas intrigas largamente publicadas.
Entender este legado, traduzir estes ensinamentos e, principalmente, ver o alcance de tudo isto na atualidade, perfeitamente, podemos entender o quão grande foi este personagem na Numismática Brasileira.
Até em sua morte, ele nos trás um ensinamento, morreu dia 23 de março de 2008 e só hoje, dia 24 de Julho, ou seja 4 meses depois, eu que me considero um numismata ativo, só agora, tomo conhecimento de sua morte. Temo lamentar em não estar atento as verdadeiras coisas, e reconhecer minha falha, depois de 4 meses, tomo conhecimento da morte deste grande e agora, pelo menos para mim, maior cientista Numismático que o Brasil já teve.
Vá com Deus meu amigo, sua parte já foi feita, cabe agora aos bem aventurados, em reconhecer sua obra, entendê-la em sua plenitude, e dar continuidade a mesma.

João Gualberto Abib de Curitiba – Paraná
Membro da Sociedade Numismática Brasileira e Membro da Sociedade Numismática Paranaense.