28 de set. de 2008

O QUE REPRESENTA O PASSADO EM RELAÇÃO AO FUTURO, PARA A NUMISMÁTICA BRASILEIRA?


Exercitando o pensamento, e dar uma resposta simples, curta e direta, sobre o que representa o passado em relação ao futuro, ficamos com a definição de que no futuro, o passado representa apenas e tão somente, as nossas lembranças.


Ou melhor definindo, as lembranças já são o passado. Do ponto de vista numismático, para que num futuro haja estas lembranças, vivas, é de suma importância que os relatos sejam publicados, e de preferência nos Boletins das Sociedades Numismáticas, só assim, preservaremos esta memória dos fatos passados, para as gerações futuras.


Recebi no encontro da Sociedade Numismática Paranaense, que se realizou, nos dias 26 e 27 de Setembro de 2008, o Boletim de nº 35 daquela sociedade, a qual tenho a honra de participar, e para minha surpresa e felicidade, todos os textos que enviei, a partir deste BLOG, foram publicados naquele Boletim. Uma publicação exemplar, de apresentação gráfica moderna e de excelente bom gosto, deixando para trás aquelas publicações tupiniquins que os associados estavam recebendo a cada edição do Boletim da SNP. Tínhamos um conteúdo excelente até então, e uma forma gráfica de publicação, que deixava a desejar. De agora em diante, contempla-se boas matérias, com exímia apresentação.


Quando pedi meu afastamento da Diretoria de Divulgação, por falta de tempo para dedicação, o Marcos Lepca, Presidente da Sociedade, ainda demorou algumas semanas para encontrar a pessoa certa para que viesse a assumir esta importante missão, mas foi feliz em nomear o Sr. Ederson Sobânia, também membro de SNP, o qual parabenizo pela edição deste Boletim, pois foi e será um marco histórico, uma divisão de aguas, entre o VELHO e o NOVO boletim da SNP.

Mas voltando ao assunto inicial, em que no futuro, o passado representará apenas e tão somente lembranças em nosso pensamento. Já do ponto de vista numismático, temos que fazer de tudo para que os estudos já publicados, desde de 1933 pela SNB, até agora, e pelas outras sociedades numismáticas, através de seus Boletins, e até por publicações autônomas, de numismatas, bem como de todos os catálogos numismáticos publicados até então, que digamos assim, este conjunto de obras, forma-se em definitivo os verdadeiros ANAIS DA NUMISMÁTICA BRASILEIRA, existentes até agora.
Mas deseja-se que todas estas informações não se percam e ao mesmo tempo, sejam compiladas de uma forma lógica, para que num momento de pesquisa, seja de fácil acesso a todos. Este é um grande desafio que paira sobre os estudiosos da numismática brasileira.

Já estamos trabalhando numa reunificação de matérias publicadas sobre diversos assuntos, desde a origem da numismática brasileira até ao presente, e esperamos, que com esta reunificação, aos poucos sendo divulgadas, em matérias de Boletins, ou em publicação neste BLOG, ou talvez, até, numa publicação em Livros, passaremos a entender melhor sobre tudo o que aconteceu de forma histórica, mas de uma forma racional e bem embasada, sempre do ponto de vista numismático.

Se faz necessário esta reavivação de memória, pois como tivemos várias publicações nos seus variados Boletins, publicados por diversas sociedades numismáticas, algumas das quais, nem existem mais, e se pegarmos um único assunto, como por exemplo: A CRIAÇÃO DO PATACÃO 960 RÉIS, vamos nos deparar, certamente, com informações conflitantes e até com algumas, que sem nenhum critério de avaliação histórica, nos faz acreditar uma coisa, e na verdade pode ser apenas o exercício exacerbado do pesquisador que nos levou a acreditar numa mentira que passou a ser verdade.

Para aguçar um pouco mais, e despertar a curiosidade, sobre a importância da revisão destas matérias até então publicadas, e seus conflitos históricos, vou citar apenas uma: A questão de que D. João VI chegou ao Brasil e criou o 960 Réis com a finalidade de lucrar uma diferença entre um valor e outro em relação aos 8 Reales, para sustentar a Corôa e a grande maioria dos nobres que vieram com ele para cá. Carece de estudo lógico esta afirmação e tudo vai ser desvendado a seu tempo. É sobre estas lembranças que se deve dar um ordenamento histórico e lógico.

O passado representa também o futuro. Lógico que tudo o que se publicou em Numismática no Brasil, é hoje um vasto acêrvo de pesquisa, mas a comparação de um mesmo assunto sendo analisado também do ponto de vista histórico, econômico e cultural, pode nos trazer à tona o conflito das informações.

Esta reunificação dos assuntos, será também um marco, assim como o dispêndio para sua divulgação, mas enquanto houver forças físicas e mentais, e porque não, até financeiras, estes estudos aos poucos serão publicados. Pode-se demorar dias, meses, anos ou décadas, para se alcançar este objetivo, mas em nada se alterará esta determinação.

Assim se deseja construir uma verdadeira numismática no Brasil, pois não podemos esquecer jamais: a numismática é uma ciência, e como tal, deve ser reconhecida e acima de tudo, estudada, e principalmente, que todos os estudos sejam divulgados em forma de publicações.

Para finalizar: se as lembranças já são fruto do passado, que ao menos estas lembranças sejam corretas, e principalmente, construídas de forma racional, bem embasadas históricamente e que não sejam no futuro, como agora, contestadas em alguns aspectos.


Texto de autoria de Joao Gualberto Abib - Originariamente publicada neste BLOG.

25 de set. de 2008

CAROLUS III, CAROLUS IV E FERDIN VII - MAS AFINAL, QUEM FORAM AS TRÊS FIGURAS?

De tanto examinar com lentes de aumento, na finalidade de certificar recunhos, dos nossos patacões 960 Réis e sempre se deparar com busto de Carolus III, com certa escassez, e Carolus IIII, na grande maioria comum e com extrema raridade quando aparece com a grafia CAROLUS IV e ainda, com FERDIN VII, na grande maioria comum e com certa escassez FERDINANDUS VII e com certa raridade quando aparece FERDND VII e FERDIND VII, achei por necessidade pesquisar sobre estas três figuras, na verdade sobre estes três que foram Reis da Espanha.

Agora que já faz parte de nosso cotidiano observar seus bustos nas moedas que examinamos, foi assim interessante pesquisar e saber algo sobre eles. Encontramos suas biografias publicadas no Catalogo de Monedas de Plata, Columnarias y de Busto – Ceca de Potosi 1767 a 1825, de autoria de Oscar Marotta e Miguel A. Morucci Buenos Aires – Argentina, 1995. Livro editado na língua espanhola.

Solicitei assim, ao meu amigo Roberto Keller, também membro da Sociedade Numismática Paranaense e que trabalha em colaboração comigo, que traduzisse estas Biografias do espanhol para o português e achei por bem, solicitar a SNP a publicação destes textos biográficos.

Lendo as Biografias, chama a atenção: “Carlos III era robusto, com a sua feiúra agravada por um enorme nariz”, coisa que constatamos todos os dias, mas leiam abaixo e descobrirão outras coisas bizarras sobre estes três Reis da Espanha e ou sobre os três “FIGURAS”.

BIOGRAFIA - CAROLUS III

Nasceu em Madri em 20 de janeiro de 1716 como filho mais velho de Felipe V e de sua segunda esposa, Isabel de Farnesio. Por causa da guerra de sucessão na Polônia, entrou em Nápoles e logo depois de renunciar aos Ducados de Toscana, Piacenza e Parma, converteu-se em Rei de Nápoles e das duas Sicílias, de 1734 até 1759. Sua etapa napolitana deu-lhe uma sólida formação cultural e uma proveitosa experiência, incentivando as escavações arqueológicas de Pompéia, tornando-se fã das Belas Artes, especialmente a gravação e sendo muito amado por seus súditos.
Em 10 de agosto de 1759 converte-se em Rei da Espanha aos 43 anos, sucedendo no trono a seu irmão biológico, Fernando VI. Havia se casado em 1736 com Maria Amália de Sajonia com quem teve vários filhos, o segundo dos quais, Carlos Antonio, sucedeu-o no reinado em 1788 como Carlos IV. Carlos III era robusto, com a sua feiúra agravada por um enorme nariz, de inteligência mediana e fã de caçadas, dos estudos de economia e de temas agrícolas e industriais.
Seu reinado é o mais característico dos chamados Déspotas Esclarecidos e apesar de sua política exterior não ter sido favorável à Espanha, na política interna, alguns ministros discretos que o serviram ajudaram-no a sanear a administração, manter a economia e favorecer a cultura. Com respeito à moeda, não houve reformas importantes na Espanha, salvo a introdução dos maravedis de cobre de 1770, cuja vigência chegaria até a metade do século XIX. Em 1771 regulou-se a Lei do Ouro, que passou de 22 para 21,42 quilates: na prata, baixou-se a Lei de 11 dinheiros para 10 dinheiros e 20 grãos e as marcas de ensaiador, valor e casa de cunhagem passaram para o reverso. Foi importante a unificação do valor da Onça em 320 reais de vellon, como a que teria na América Hispânica em 1779. Carlos III cunhou com o título de Carlos IV em Navarra. Também é importante, apesar de não se conseguir praticar totalmente, a disposição de mandar retirar da América, toda a moeda macuquina. Na Casa da Moeda de Potosí, produz-se a cunhagem das “Colunárias” de mundos e mares desde 1767 até 1770, sendo logo substituídas em 1773 em cumprimento de uma Cédula Real de 18 de março de 1771 e Pragmática de 29 de maio de 1772, por novas peças com o busto real “a la romana”.


BIOGRAFIA - CAROLUS IV

Nascido em Portici, Nápoles, em 11 de novembro de 1747 e era filho de Carlos III e de Maria Amália de Sajonia. Contraiu matrimônio com a sua prima Maria Luisa de Bourbon-Parma em 1765, tiveram 13 filhos, um dos quais, Fernando Maria, sucedeu-o no trono da Espanha como Fernando VII. Carlos IV converteu-se em Rei da Espanha em 14 de dezembro de 1788 aos 40 anos de idade, por incapacidade de seu irmão mais velho Felipe. O rei era robusto de corpo, porém fraco de caráter, pouco inteligente, fã de música e dos trabalhos manuais; sua esposa Maria Luisa era ambiciosa, carecia de beleza física e de dotes morais. Carlos IV costumava deixar o governo em mãos alheias e seu reinado significou a dissolução do extenso mundo onde a Espanha reinava: um império que compreendia as Américas (exceto o Brasil) e no norte, a Luisiana, Arizona, Novo México e México além de extensos territórios na Oceania. Recebeu um país empobrecido pelas guerras, oscilando entre as ambições da Inglaterra e França e sua política não foi a mais acertada para recuperar a solidez econômica. Não enfrentou os desdobramentos das mudanças provocadas pela Revolução Francesa e pela Independência dos Estados Unidos. Goya, o grande pintor daqueles tempos, refletiu cruamente o caráter e o aspecto físico de Carlos IV e sua família no célebre quadro do Museu do Prado. Finalmente, em 1808 acontece o motim de Aranjuez que obrigou o Rei a abdicar em favor de seu filho Fernando em 19 de março de 1808: exilado na Itália, nunca mais voltou para a Espanha já que seu filho Fernando VII proibiu-o e morreu em Nápoles em 19 de janeiro de 1819. As moedas cunhadas por Carlos IV continuaram como as que já existiam, com as alterações lógicas de busto e inscrição; as emissões de ouro e prata foram normais em Madri e Sevilha. Na América fizeram emissões irregulares e póstumas em 1789 e 1790 com o busto de Carlos III e a legenda “CAROLUS IV”, pelo falecimento do monarca anterior, passando-se vários meses até Potosi receber os cunhos com a efígie do novo rei. Também continuou circulando a moeda macuquina devido à escassez das de busto; esta série começou em 1794 em Potosi, com a emissão de uma moeda pequena e diferente, o quartilho; em 1778 cunharam-se nesta mesma casa da moeda as primeiras peças de ouro de 1-2-4 e 8 Escudos(Onça).


BIOGRAFIA - FERDINANDUS VII

Nasceu no Escorial em 12 de outubro de 1782 e era o filho mais novo de Carlos IV e de Maria Luisa de Parma. Casou-se quatro vezes: em 1802 com Maria Antonia de Nápoles de quem enviuvou em 1806, logo voltou a contrair matrimônio em 1816 com Maria Isabel de Bragança; em 1819 casa-se com Maria Josefa Amália de Sajonia que morreria em 1829 para finalmente casar-se pela quarta vez, no mesmo ano, com sua sobrinha Maria Cristina de Nápoles, que assim que o rei faleceu, em Madri no dia 14 de setembro de 1833, garantiu que a filha deste casamento, a infanta Maria Isabel, seria a futura Rainha da Espanha como Isabel II. Fernando VII cresceu aborrecendo e tramando contra seu pai e sua mãe, com o motim de Aranjuez conseguiu destrona-los e converteu-se no Rei da Espanha em 19 de março de 1808. Os primeiros anos transcorreram sob o domínio de Napoleão que era o verdadeiro senhor da política espanhola; refém em 1814, após a guerra da independência, pode regressar a Espanha para retomar o poder. Entre 1814 e 1820 desenrola-se o período marcado pelo absolutismo de Fernando, perseguindo aos liberais que defendiam a constituição de 1812; finalmente em 1820, depois de uma série de agitações revolucionárias, conseguem que o rei jure a constituição, abrindo um período de 3 anos de obediência fingida por parte do rei. Em outubro de 1823, depois de Fernando conspirar com as potências da Santa Aliança, conseguiu que um exército francês invadisse a Espanha e devolvesse os poderes absolutos, como monarca. Iniciou-se então, a chamada “década vergonhosa” que foi de 1823 até 1833, em que se registraram movimentos absolutistas incentivados pelo clero e pelo seu irmão Carlos que se anunciava como seu sucessor. Porém, seu ultimo casamento acabou com as pretensões deste. Não houve novidades nas cunhagens de Fernando VII em Madri e Sevilha até a guerra da independência. Em 1818 autorizou-se a circulação de moedas francesas que estavam em curso no país. As mudanças aconteceram na etapa constitucional, com a cabeça desnuda do rei e mudando a redação em latim para castelhano “Por la gracia de Dios” a que se acrescentou “y la constitución”. Valencia emitiu uma bela peça obsidional e emissões semelhantes apareceram em Mallorca e outras casas de cunhagem, o que produziu uma quantidade variada de retratos de Fernando VII. Na Casa de Cunhagem Imperial de Potosi continuaram as peças de busto com o novo monarca sendo que nos primeiros anos (1808 e 1809) só a fizeram em 2 e 8 reales; quando Fernando VII se afirma no poder após as guerras napoleônicas, regulariza-se a emissão de todos os valores (1/2 – 1 – 2 – 4 e 8 reales) em Potosi, a partir de 1816 indo até 1825, ano da independência da Bolívia. As peças de ouro de 1 – 2 – 4 e 8 Escudos com o busto de Fernando VII só foram cunhadas em 3 anos, de 1822 a 1824.
Texto: JOAO GUALBERTO ABIB – Numismata, Membro da SNP e da SNB. Publicado originariamente no Boletim n° 29 de agosto de 2006 da SNP.

23 de set. de 2008

960 RÉIS - UM ENIGMA SEMPRE A SER DESCOBERTO

Uma grande paixão de alguns colecionadores é colecionar os 960 Réis. Moeda brasileira cunhada entre 1809 a 1834, conhecida entre todos como patacão ou três patacas.

A curiosidade e o enigmático nestas moedas é que entre 1809, na verdade entre 1810 a 1827, pode-se afirmar que talvez mais de 99% delas foram recunhadas sobre moedas Hispano-Americanas e outras que falaremos mais adiante. A exceção da regra é encontrar 960 Réis que não foram cunhados sobre outras moedas, quando encontrado nesta classificação, são chamados de “ disco próprio” e não deixa de ser uma raridade, ou ao menos uma escassez.

Sendo assim, o enigma, a curiosidade e a grande riqueza, está em afirmar certamente, que não existe neste período de recunho nenhum PATACÃO, um igual ao OUTRO. São peças únicas, mesmo as quais coincidem as mesmas variantes e os mesmos recunhos. Sempre haverá algum detalhe que não bate com o outro patacão na sua comparação. Todas são peças únicas como os mais belos quadros e obras de arte existentes no mundo. Nestas condições é que sempre são estudados ao longo dos anos, definindo-se suas variantes e a origem das moedas base.

Esta condição sui-generis, eleva o patacão 960 Réis de talvez, ser a moeda dentre todas do Brasil, a mais estudada ao longo dos anos, pelos numismatas e estudiosos do assunto há pelo menos 150 anos. Basta pegar em mãos e já desperta a curiosidade natural de observação. Pelas ranhuras, espera-se detectar a moeda base, pelo desenho, quer se descobrir as variantes e assim a exploração da descoberta se inicia.

Quanto ao diâmetro e peso, também variou muito durante todo período de recunho. Observa-se a existência de diâmetros entre 37 a 44 mm., mas que oficialmente deveria ter somente 40 mm. Observa-se peso que varia também entre 23 a 30 gramas de peso, mas que oficialmente deveria pesar somente 27 e 28 gramas em certos períodos. Temos ainda o teor da Prata, que em alguns períodos tinham teores de 917, 896 e 900.

Quanto aos recunhos conhecidos, foram a grande maioria, sobre moedas de 8 Reales Hispano-Americanos, tipo busto, Carolus III, Carolus IIII e Ferdin VII, Reis da Espanha. Sendo os de Potosi, atual Bolívia; Lima do Peru; Cidade do México; Santiago do Chile; estes citados são os mais comuns. Os mais raros são os de Nueva Guatemala atual Guatemala; e o extremamente raro os de Popayan da atual Colômbia. Os considerados não menos raros, temos do “Peru Libre” entre 1822 e 1823 e mais raros ainda sobre “República Peruna” entre 1825 e 1826, embora alguns considerem o “Peru Libre” mais raro que “República Peruana”.

Teve também os classificados como escassos, os sobre 8 Reales e 8 Soles de Províncias Del Rio de La Plata atual Argentina onde aparecem somente em dois anos os de 1813 e 1815, conhecido como “Sol Argentino”. Nesta categoria de escasso aparecem sobre 1 Peso do “Chile Independiente”, ocorridos entre 1817 a 1823, embora sobre estas moedas da República do Chile pudessem ser encontradas até 1826. No México também, além da casa de cunhagem da Cidade do México, tinham as casas de Durango; Guanajuato; Zacatecas; Guadalajara, esta casas, exceto a de cidade do México são escassas e raras, mas verdadeiras raridades são as ocorridas no Império de Itúrbide – Augustinus, que durou menos de um ano, contudo teve moedas cunhadas entre 1822 e 1823, e as da República Mexicana cunhadas somente em três anos, 1823, 1824 e 1825 em três casas Cidade do México, Guanajuato e Durango.

Já as Hispano conhecidas como moedas Espanholas, tiveram moedas cunhadas nas casas de cunhagem de Madri; Sevilha; Valencia, Catalunha, Cádiz e Barcelona. As mais raras destas da Espanha são as de Valência, Barcelona e Catalunha e a escassa sobre Madri Cunhagem de Vellón entre 1809 a 1813, com busto de J. Napoleão.

Tivemos ainda alguns recunhos extremamente raros sobre 1 Dóllar Americano de 1798 e 1799, sobre moedas Francesas, 1 Ecu Luís XVI de 1790, sobre 5 Francs Napoleão 1º Cônsul ano 12 de 1803 e 1804, 5 Francs Napoleão Impedor de 1812 e 5 Francs Luís XVIII de 1814, sobre moedas Italianas, 1 Tallero Pietro Leopoldo – Toscana - de 1784 e 5 Liras Reinado de Napoleão de 1812. Temos ainda sobre Áustria, 1 Thaler Maria Theresa 1780 e sobre um ducado de 1805 de República Batava (província Utrecht) e Holanda sobre 1 ducado de Holanda Unida 1771 e 1791 e sobre 1 patagon Brabante talvez de 1710. E provavelmente sobre outras moedas ainda desconhecidas e não relatadas; razão do estudo contínuo e prazeroso de muitos numismatas ainda nos dias de hoje.

De todos os estudos sobre os “recunhos” dos 960 Réis no Brasil, opino que o melhor deles é o Livro de David André Levy e de seus colaboradores; estudo amplo sobre a matéria de recunhos e recomendaria que todo colecionador e numismata aficcionado dos 960 Réis, deveria ter um exemplar sempre as mãos para consulta, livro este, lançado com somente 500 exemplares no ano de 2002.

Já sobre as “variantes” dos 960 Réis com Letra Monetária “R” recomendaria o Livro Catálogo descritivo dos patacões da Casa da Moeda do Rio, Volume I e Volume II, do saudoso numismata Lupércio Gonçalves Ferreira editado em 1981, com somente 500 exemplares numerados e rubricados pelo autor de 001 a 500.

Quanto sobre as “variantes” dos 960 Réis com Letra Monetária “B” recomendaria o Livro Catálogo Descritivo dos 960 Réis da Casa da Moeda da Bahia, dos numismatas, José Serrano Junior e Flávio Barbosa Rebouças, lançado em 2003, cujo trabalho, veio a atualizar as variantes já identificadas pelo saudoso numismata Renato Berbert de Castro, em seu trabalho editado em 1970.

Até aqui, foi feito um pequeno resumo sobre o Patacão ou Três Patacas ou 960 Réis, como queiram chamar. Deixamos de fora ainda qualquer comentário sobre carimbos e moedas base carimbadas, que também serviram como base dos nossos Patacões, pois se adentrássemos mais, neste assunto, mereceria outro texto. Também não falamos sobre todas as casas de cunhagem dos 960 Réis. Assuntos que ficarão para uma próxima oportunidade.
Publicado originariamente no Boletim n° 29 de Agosto de 2006 da SNP.
Texto de autoria de João Gualberto Abib, Numismata sediado em Curitiba- PR e membro da SNP - Sociedade Numismática Paranaense e da SNB - Sociedade Numismática Brasileira.

22 de set. de 2008

Royal Silver Mines of Potosi - Debênture 113 de 1891 doada a S.N.P. - Sociedade Numismática Paranaense.

Em agosto de 2005, portanto, há mais de 3 anos, quando resolvi me associar à Sociedade Numismática Paranaense, pensei no que eu poderia dar de presente e a título de doação para a sociedade, que viesse a marcar minha entrada de uma forma simbólica, mas que ao mesmo tempo ficasse marcada para sempre.

Primeiramente, tive que levar em consideração, que minha trajetória no mundo do colecionismo numismático até então, era quase que exclusivamente no mundo da Scripophilia, (coleção de papéis de emissão de valor), mundo este, que eu tinha iniciado em 1994 e em 2005, já fazia 11 anos, somente neste tipo de colecionismo. Nesta época tinha eu, em minha coleção, pouquíssimas peças numismáticas, e a maioria delas eram patacões 960 réis.


Foi daí, com a intenção de expandir minha coleção, que resolvi começar a me associar às Sociedades Numismáticas, e assim, vim a me filiar primeiramente da S.N.P. e depois da S.N.B. - Sociedade Numismática Brasileira, dentro daquele mesmo ano de 2005.

Mas pensei, o que poderia simbolizar numa mesma peça, a Numismática e a Scripophilia, que para muitos, ainda, é um colecionismo desconhecido, e que consagrasse por importância histórica ambas? Não foi muito difícil a escolha, e logo percebi a linha tênue que separa e ao mesmo tempo une uma coisa da outra.

Escolhi assim, "as Minas de Potosi", pois, certamente, haveria de ter algum documento de Scripophilia, afinal a EXPLORAÇÃO comercial de uma MINA, teria captacão de recursos e a emissão de algum documento que representasse a captação de recursos financeiros, necessários para a exploração desta atividade extrativista mineral e principalmente, para a extração de PRATA, cuja mina, foi de maior e suma importância para a numismática, não só a Brasileira, mas para a numismática mundial.

Para quem não sabe, a grande maioria dos moedas espanholas e dos Países sul americanos, foram cunhadas em PRATA extraída quase que exclusivamente, daquela grandiosa Mina, que pertenceu ao Vice Reinado do Perú, de domínio espanhol e hoje localiza-se geograficamente na atual Bolívia.

Muito lógico que não viria a encontrar um documento do período de exploração da prata, do mesmo tempo que este metal era utilizado no fabrico das moedas potosinas, mas como simbologia, acabei encontrando um documento do ano de 1891, que foi uma emissão para captação de recursos para a exploração desta grandiosa mina de Potosi.


Foi fazendo buscas em sites especializados na Europa e em várias lojas do ramo numismático e de scripophilia, que acabei achando esta peça então doada, em um leilão no Ebay. Não pensei duas vezes, acabei arrematando esta Debênture e quando chegou em minhas mãos, já no início do mês de Agosto, fiz um resumo sobre a Mina de Potosi em 13 de agosto de 2005 e logo em seguida, mandei emoldurá-la, e acabei fazendo a doação no dia 20 de agosto de 2005, num sábado "par", na S.N.P., na presença de alguns sócios presentes naquele dia.

Quem hoje visita a sede da sociedade, esta lá fixado, este quadro, em exposição na parede do lado direito de quem entra. Esta debênture, hoje rara, têm um certo valor histórico e cultural, pois pertence ao mundo numismático e de scripophilia.

Foi desta forma que consegui achar algo para doar para a SNP em agosto de 2005, que ao mesmo tempo simbolizasse o que eu já colecionava e também que contemplasse aquilo que eu viria nestes poucos anos a colecionar: as peças numismáticas brasileiras.

Pena, que este registro histórico, tenha sido feito por mim mesmo, neste BLOG, pois já se passaram mais de 3 anos e não recebi oficialmente por parte da SNP, nenhum registro desta doação. Também, verificando os Balanços da mesma sociedade, (pelo menos os afixados no mural da mesma), não há nenhum registro deste recebimento, e também, não há referência em nenhum Boletim publicado pela sociedade de 2005 até o presente momento, que citasse o recebimento por parte da mesma, desta linda peça de coleção. Talvez, pelos dirigentes da sociedade, seja muito comum receberem doações e não fazerem nenhum registro. Talvez, até não deram nenhuma importância, por considerarem não ser importante mesmo, e isto eu respeito. Mas para mim, este singelo oferecimento desta peça de coleção, entrou para minha história numismática. Por isto faço este registro.

O relato, que aparece logo ao lado da IMAGEM, desta linda peça de coleção é o seguinte:


BREVE RELATO HISTÓRICO:

Depois de pilhar o ouro dos Incas no Peru e dos Astecas no México, os conquistadores espanhóis descobriram em 1544 uma montanha fabulosamente rica em prata no altiplano da Bolívia: Cerro Rico de Potosi. Situada a 4.824 metros de altitude, produziu mais de 70.000 toneladas de prata durante mais de 400 anos! Mais de 1 milhão de escravos índios e negros morreram na extração e processamento ao longo dos quase 300 anos de dominação colonial espanhola. Vapores de mercúrio e fumaça de fundição reduziam a vida útil dos escravos mineradores para menos de 6 meses, nesta, que foi a maior mina subterrânea do mundo.

Os tesouros em moedas de prata, barras, chapas, dobrões de ouro e peças de 8 reales, cunhadas na Casa de la Moneda de Potosi, era carregado em lhamas e transportado para o porto de Lima, uma jornada de mais de 1.000 quilômetros. O tesouro era então transferido para galeões que navegavam pelo Oceano Pacífico, rumo ao norte, para o Panamá onde era novamente descarregado e posto no lombo de mulas para cruzar o país para o leste, seguindo o roteiro onde hoje existe o Canal do Panamá. Recolocado mais uma vez dentro de galeões, iniciando uma perigosa jornada pelo Mar do Caribe e o Oceano Atlântico em direção à Espanha, se os piratas assim o permitissem.

A partir de 1865 a mineração de prata entrou em declínio. A prata cedeu lugar para o estanho. A extração e o processamento do estanho em grande escala iniciou-se em 1895 e a Bolívia abastecia 48% da demanda mundial em 1945.

Em 18 de julho de 1884, um grupo de investidores liderados por Edward Norman e Mateo Clark fundaram a Royal Silver Mines of Potosi, Bolívia Limited com capital inicial de £ 600,000 formado a partir de 30.000 ações preferenciais de £10 e 6.000 ações de £50 além de £71,200 em Debêntures Hipotecárias de £100, com 8% juros anuais, entre 1889 e 1890. Com sede em Londres no 19 Coleman Street, deixou de operar em 1915.

Na revolução ocorrida em 1952 na Bolívia, a mina de Potosi foi nacionalizada e hoje, 45 mineradores locais ainda exploram, de maneira artesanal, pequenos túneis onde retiram estanho da Mina Candelária, localizada na metade do caminho entre a cidade de Potosi e a entrada principal do Cerro Rico.

A Debênture ao lado de número 113 datada de 1891, representou a captação de Recursos externos para a exploração da Mina de Potosi. O documento possui na atualidade imenso valor histórico e cultural e é de muita raridade, constitui-se em peça de colecionismo de SCRIPOPHILIA. A peça ao lado foi adquirida em Leilão na Europa, pelo MEMBRO DA SOCIEDADE NUMISMÁTICA PARANAENSE, o Colecionador Sr. João Gualberto Abib, o qual fez questão de doar esta peça à mesma sociedade, fazendo este breve relato histórico. CURITIBA, PR 13 DE AGOSTO DE 2005.

17 de set. de 2008

5º Encontro de Multicolecionismo do Ceará 2008

Foi realizado entre os dias 11 a 13 de Setembro de 2008, no hotel Praia Centro, Praia de Iracema em FORTALEZA, o 5º Encontro de Multicolecionismo do Ceará, do qual participei à convite.

Lembro que mesmo não sendo sócio da sociedade numismática e filatélica daquele Estado, tive mesa de negociação e pude rever grandes e potenciais clientes que tenho naquela região, que não os conhecia, apenas negociava até então, somente pelo mercado virtual, como o do Mercado Livre.
Desta forma minha ida foi muito bem proveitosa do ponto de vista financeiro, e muito bem recompensada, por conhecê-los pessoalmente.

Assim como eu, vários comerciantes de numismática, filatelia, telecartofilia, e outros, do multicolecionismo em geral, certamente, muitos estavam na mesma situação que a minha, sem serem associados naquele estado e tiveram a honra de participarem daquele MAGNÍFICO EVENTO, como convidados e todos foram muito bem recebidos.

Foi uma lição para mim, sobre o que deve ser feito para o sucesso de um EVENTO daquele porte. Lá mesmo, quando já instalados em nossas mesas de negociação, observamos que o evento estava sendo coberto por várias cadeias de televisão, rádios e jornais, inclusive alguns de fora da localidade. Eram "flashes" de iluminação de fotógrafos, com a presença de vários repórteres, de rádios e de televisão, onde tudo era perfeitamente divulgado, com a interação de todos.

Logicamente, que com esta total cobertura da imprensa em geral, observamos também, uma super-população de estranhos junto às mesas de negociação, alguns certamente leigos no assunto do colecionismo, mas bem curiosos para perguntar sobre tudo e principalmente saber como funciona a atividade. Respondi todas as perguntas e não me senti em nenhum momento ameaçado pela super-população de "Gabirús" como diz o mestre Antonio Tomaz, da sociedade do Paraná.

Acredito que todo colecionador, antes de ter decidido começar sua coleção, sendo numismata e ou filatelista, já foi também um "Gabirú", e muitos, acendeu o interesse no colecionismo em eventos desta magnitude, como foi o de Fortaleza.

Recebemos também, uma leva de alunos que vieram de várias escolas, acompanhados de seus professores e monitores, onde até, alguns alunos arriscaram a comprar algumas cédulas, daquelas de 1 a 2 reais. Lógico que compraram a título de pura curiosidade, mas assim é que se começa um novo colecionador. Falei muito com algumas professoras e professores que acompanhados de seus alunos, e a pedido deles, fiz uma explanação sobre as cédulas do Império do Brasil, todos os alunos observavam. Nada foi comprado por eles, mas a semente do colecionismo foi vendido a todos.

Depois destas visitas de alunos, e das entrevistas, o salão começou a se encher de pessoas vindas de várias regiões, onde numa dessas ondas de pessoas, apareceu uma delas, vendendo um lote de cédulas, e para minha curiosidade, fiz uma proposta indecorosa e ela foi aceita, para meu espanto. Examinando melhor o lote, tinha uma cédula bem escassa que rapidamente levei ao Irlei Neves, que acabou comprando pelo valor que eu havia pago no lote todo, assim, meu lucro foi as cédulas que restaram.

Logo em seguida, chegou um rapaz de uns 15 a 17 anos, e me apresentou um patacão 960 Réis e pedia 600,00 reais pelo mesmo, logo fui falando: neste preço só se o patacão for raro. Peguei minha lupa e examinando melhor o recunho, vi que tratava-se sobre um recunho de PERÚ LIBRE, que é de uma certa escassez, mas achei por bem não comprar, mas indiquei o amigo Irlei Neves, ao rapaz e o mesmo acabou fazendo negócio. Este mesmo rapaz, acabou voltando a minha mesa e comprou aquele restante de cédulas, que era o meu lucro daquela operação anterior. Acabei vendendo, afinal ele estava com o dinheiro da venda do patacão.
Logo depois, uma hora talvez, encontrei este mesmo rapaz, na mesa do Cléber Coimbra de Brasília, e ele acabou me dizendo que aquele lote de cédulas que havia comprado, já tinha vendido algumas e com lucro, a outros comerciantes alí mesmo no salão.
O Cléber dirigiu-se a mim, na presença dele e disse: Olhe ABIB, este menino, começou a colecionar com uns 12 anos de idade e é meu cliente também e hoje já é um colecionador de peças numismáticas. Esta é uma semente da qual plantei e hoje se colhe. Foi num destes eventos promovidos aqui no Ceará, que acendeu o interesse deste menino pelo colecionismo.

O que eu pretendo demonstrar com toda esta história??

É que os encontros devem ser divulgados, e ABERTAMENTE, pois somente assim, teremos NOVOS COLECIONADORES. Parabéns ao Cléber, por ter conseguido fazer um colecionador jovem ainda e com grande potencial de amanhã, ser talvez, um grande comerciante, pois talento e sorte já demonstrou que tem. Peço ao Cléber que se ler este artigo, faça um comentário e se lembrar do episódio, divulgue o nome deste rapaz.

Hoje, o multicolecionismo é a salvação da lavoura de muitos comerciantes, pois eu mesmo, acabei vendendo, desde: selos, moedas, cédulas, medalhas, livros numismáticos, cartões postais, imagens litografadas, até apólices da dívida pública, ações históricas de empresas centenárias e títulos de maçonaria. Este é o futuro do mercado, O MULTICOLECIONISMO, e o pessoal de Fortaleza saiu na frente.

Nos três dias do encontro, foi exaustivo, pois afinal levei mais de 90 quilos de mercadorias colecionáveis e voltei com menos de 60 quilos, mesmo assim, tive que pagar excesso de bagagem na ida e na volta, nas companhias aéreas, mas financeiramente, foi altamente rentável, pois comprei várias coleções e lá mesmo, consegui vender a outros comerciantes e colecionadores.

Do Paraná, ligado à numismática, estava somente eu e o Dr. Arno, e até com o amigo, comprei um lote de patacões 960 Réis e em menos de 2 horas, já havia vendido lá mesmo, mas o Dr. Arno ganhou na rapídez, pois levou menos de 15 minutos para comprar de outra pessoa e me repassar o lote. Realmente este encontro foi uma festa para todos.

Com este meu relato, não preciso mais falar sobre o sucesso do evento. Mas vou relatar mais, pois neste encontro foi lançado um catálogo chamado de CATÁLOGO ADRIANO DE CARTÕES TELEFÔNICOS TELEBRÁS 2008, de autoria de Adriano Vasconcelos que é publicitário e telecartofilista, e foi vendido lá no encontro a R$ 60,00 cada exemplar, um trabalho bem elaborado, com 141 páginas. O Exemplar nº 00000 foi a leilão pelos organizadores do encontro e eu como coleciono catálogos de números iniciais, acabei arrematando em leilão. Logicamente, com um pouco de ágio ao preço inicial de venda do catálogo.

Também foi lançado 10 cartões comemorativos (de propaganda) do 5º Encontro de Multicolecionismo do Ceará, cuja série teve menos de 100 exemplares cada uma e adquiri uma série completa, sendo uma de cada.

Cumprimentos pelo sucesso absoluto deste evento do qual participei, aos organizadores, na pessoa do Sr. Sérgio e ao Sr. Flávio, e aos demais colaboradores. Certamente voltarei no evento do próximo ano.

9 de set. de 2008

VISCONDESSA DE CAVALCANTI - MÃE DA NUMISMÁTICA BRASILEIRA



Aos amigos da numismática, e especialmente aos que se dedicam aos estudos da medalhística brasileira, transcrevo aqui o biografia da Viscondessa de Cavalcanti, extraída do site do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, de cuja instituição a mesma foi membro ativa e prestou grandes serviços a comunidade geográfica e histórica, bem como à ciência auxiliar da história, a numismática.




Se Julius Meili foi agraciado pela comunidade numismática como PAI DA NUMISMÁTICA BRASILEIRA, poderíamos ao menos reconhecer também, com justiça, o título à Viscondessa de Cavalcanti, como a MÃE DA NUMISMÁTICA BRASILEIRA.


Vamos inicialmente à sua Biografia:


D.Amélia Machado de Coelho e Castro nasceu no Rio de Janeiro, filha do Dr. Constantino Machado Coelho de Castro e de D. Mariana Barbosa de Assis Machado. Foi a sexta mulher a ingressar no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, em 5 de agosto de 1905, após Marie Rennotte (1901), Mary Robinson Wright (1901) Júlia Lopes de Almeida (1902), Veridiana Valéria da Silva Prado (1902) e Ibrantina Cardona (1905).

Célebre por sua beleza e elegância, D. Amélia foi considerada uma das mais notáveis damas da corte no segundo reinado. Um fato pitoresco, que lhe diz respeito, envolveu o nome de Pedro Luiz Pereira de Sousa, poeta, jornalista e político de muito prestígio no Rio de Janeiro. Conta-se que, numa recepção no Palácio Isabel, Pedro Luiz valsava com Amélia, futura Viscondessa de Cavalcanti, quando, inesperadamente, entrou na Salão Nobre o Imperador D.Pedro II. Na vertigem da valsa e encantado com sua parceira, Pedro Luiz fingiu não ter visto D. Pedro II, tendo acenado à orquestra para que continuasse a tocar, fato que não passou despercebido ao Imperador.


Meses depois, o nome do jornalista e político foi lembrado para ocupar importante cargo, tendo sido imediatamente vetado pelo monarca com esta frase irônica: “O Pedro Luiz é um homem que ainda valsa”. Pedro Luíz era parente de Washington Luíz, último presidente da República Velha.


Amélia casou-se com o senador Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque (1829 – 1899), filho de Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque e de Angela Sophia Cavalcanti Pessoa. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Olinda, Diogo Velho foi deputado provincial, deputado geral, Senador do Império pelo Rio Grande do Norte e Ministro de Estado, tendo sido agraciado com várias comendas. Pelos serviços prestados ao Império, D. Pedro II concedeu-lhe o título de “Visconde com honras de grandeza”, por decreto imperial de 30 de maio de 1888. Os Viscondes de Cavalcanti, Diogo e Amélia, foram co-proprietários do engenho Baixa Verde, Comarca de Nazaré da Mata, em Pernambuco, tendo vendido parte dessas terras a “The Great Western Co. of Brazil Ltda.“, necessária à construção da estrada de ferro Nazaré-Timbaúba.“Tudo ajudava àquele casal para o sucesso social que o assinalava, desde a inteligência do futuro Visconde às finas graças e formosura de D. Amélia Cavalcanti... O grande fulgor do Salão da Viscondessa de Cavalcanti durou de 1875 a 1878, período em que seu marido foi Ministro, mas, depois disso, continuou a ser um dos mais elegantes centros da alta sociedade do Rio, às quintas e aos domingos”.


Na fase final da Monarquia, em 1889, às vésperas da República, com o intuito de prestar homenagem à dedicação e lealdade de Diogo Velho, D. Pedro II nomeou-o Comissário do Brasil junto à Exposição Universal em Paris. Estabelecido o regime republicano, os Viscondes preferiram permanecer na França.


O advento da República interrompeu, assim, a carreira de um homem de Estado que, aos cinqüenta anos, já havia ocupado os mais importantes cargos político – administrativos no Brasil, e que teve o comovente mérito de jamais abandonar seu amigo, o Imperador destronado.Ao adoecer, com grave prognóstico, o Visconde expressou o desejo de regressar ao Brasil, tendo falecido em Juiz de Fora, Minas Gerais, em junho de 1899. Pouco se disse dele na época, apenas algumas sentidas orações fúnebres por parte daqueles que tiveram o privilégio de privar de sua intimidade. Convinha à conspiração republicana e aos adeptos do sistema vigente apagar a memória desse grande estadista da monarquia. Viúva, a Viscondessa decidiu voltar para a França, onde residiu durante 26 anos.


Catálogo de Medalhas Em 1889, a Viscondessa de Cavalcanti publicou no Rio de Janeiro, o “Catálogo das Medalhas Brasileiras e das Estrangeiras Referentes ao Brasil”, de sua coleção particular. Foram impressos 25 exemplares, 5 em papel Japão e 20 em papel de Holanda. Essa rara publicação descreve 115 medalhas, cujas datas vão de 1596 a 1888. Em 1910, uma segunda edição aumentada e ilustrada, com tiragem de 100 exemplares, foi publicada em Paris. Nela, descrevem-se 294 medalhas, com datas de 1596 a 1903, incluindo-se o período do Brasil República.


Lê-se na segunda edição:“Les médailles ne sont pas seulement des objects d’art, ce sont aussi des monuments historiques. Les événements y sont marqués plus sûrement que dans les livres, et leur témoignage, sans être irrécusable, est plus naif et plus authentique, plus sûr que celui de l’histoire parce qu’il ne faut qu’un instant et un trait de plume pour écrire une erreur ou un mensonge, tandis qu´íl en coûte tant de peines et de jours pour les modeler et les fondre, encore pour les graver! Chaque medaille est un abrégé de la petite histoire écrite en marge de la grande, et qui est celle des individualités marquantes dont les traits sont désormais transmis à la posterité par la main du sculpteur ou du graveur (Charles Blanc)”.


As medalhas estão descritas em termos dos seguintes períodos históricos: Brasil Colonial, Ocupação Holandesa; Brasil Colonial, Domínio Português; Brasil Império, Primeiro Reinado – D. Pedro I; Segundo Reinado – D. Pedro II; Brasil República, este incluído na segunda edição.


Algumas classificações apresentam subtítulos temáticos.As medalhas da coleçãoÉ interessante mencionar as duas medalhas mais antigas da coleção da Viscondessa, referentes ao Brasil Colonial durante a ocupação holandesa, cunhadas no ano de 1596. Trata-se da “SIDERE PROFICIANT DEXTRO NEPTUNIA REGNA”, a qual diz respeito às expedições comerciais dos holandeses. Em guerra contra o rei da Espanha e Portugal, estes organizaram uma expedição marítima à América portuguesa para fazer um carregamento de pau brasil, com conivência de portugueses da Colonia, que desconsideraram as severas ordens do Reino. Nesse mesmo ano, a “NUNC SPE NUNC METU” comemorou a esquipação da primeira frota holandesa destinada ao Brasil.

A Viscondessa possuía, também, a primeira medalha referente ao Brasil Colonial, no domínio português. Trata-se da “RENÉ DUGUAY-TROUIN”, cujo nome relaciona-se à história do Brasil, pela expedição realizada ao Rio de Janeiro. Perpetua a memória de sete naus de guerra, oito fragatas e dos 5.684 homens que conquistaram a cidade em 1711.As medalhas sobre Portugal começaram a surgir a partir do ano de 1800. Em nota de rodapé, no Catálogo, menciona-se o nome de Zeferino Ferrez, como a primeira pessoa a introduzir a gravura de medalhas no Brasil, em 1820.


A propósito dos valiosos catálogos publicados pela Viscondessa, no volume XV da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, 1910, pág. 455, lê-se: “ A Exma. Sra. Viscondessa de Cavalcanti ofereceu sua obra em dois volumes sob o título Catálogo de Medalhas Brasileiras...” Infelizmente, os dois volumes oferecidos pela Viscondessa ao Instituto não foram encontrados.


Museu Mariano Procópio "Sala Viscondessa de Cavalcanti" O Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, o primeiro a ser criado em Minas Gerais, marco de pioneirismo da cidade, é obra de Alfredo Ferreira Lage (1865-1944). Primo de Amélia Cavalcanti, Alfredo era filho de Mariano Procópio Ferreira Lage, construtor da primeira estrada de rodagem macadamizada no Brasil, no período de 1856 a 1861, ligando Juiz de Fora a Petrópolis. A Sala da Viscondessa de Cavalcanti, nesse Museu, possui 95 peças. Da coleção doada, fazem parte moedas greco-romanas com a efígie do imperador Júlio César e raros exemplares de medalhas cunhadas na Europa, referentes à ocupação holandesa na Bahia, em 1624, e em Pernambuco em 1631.


Os principais acontecimentos no Brasil - com destaque para os períodos colonial e imperial - estão retratados em moedas e medalhas, cunhadas em ouro, prata e bronze, nessa magnífica coleção. São peças referentes à aclamação de Dom João VI, como rei de Portugal, Brasil e Algarves (1820), à chegada de Dona Leopoldina, arquiduquesa da Áustria, ao Brasil (1817), e à coroação de Dom Pedro II (1841).Além das medalhas que pertenceram à Viscondessa, encontra - se nessa sala um curioso objeto pessoal. Trata-se de um leque, de madeira e papel, com 102 cm de abertura por 35 cm de raio, contendo 69 mensagens escritas por personalidades brasileiras e estrangeiras durante um período de 55 anos. O primeiro a assinar esse leque foi Dom Pedro II, em 1890. Nele se encontram mensagens da Princesa Isabel, de Tommaso Salvini, Carlos Gomes, Alberto Santos Dumond, Alexandre Dumas Filho, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Getúlio Vargas e outros.

A Viscondessa assinou seu leque em 1945, um ano antes de sua morte. Devidamente protegido, o leque permite observar as assinaturas em ambos os lados. Museu Nacional de Belas Artes o riquíssimo acervo do Museu Nacional de Belas Artes originou-se da pequena coleção de 54 telas, trazidas para o Brasil pela Missão Artística Francesa, em 1816, às quais logo se acrescentaram outras obras de propriedade do Dom João VI. A coleção compõem-se primordialmente de pinturas brasileiras do século XIX e início do século XX., muito embora haja, também, uma pequena, mas representativa, coleção de pintura estrangeira, com quadros da Escola Barroca italiana e telas de Eugène Boudin.O conjunto de pintura brasileira reúne obras de Rodolfo Amoedo, Antonio da Silva Parreiras, Víctor Meireles, Henrique Bernardelli, Eliseu Visconti, Dario Vilares Barbosa, João Zeferino da Costa, Pedro Américo, Décio Vilares e Almeida Júnior. Aí se encontram obras-primas, como O Último Tamoio, de Amoedo, Primeira Missa no Brasil e Batalha de Guararapes, de Meireles, Maternidade, de Bernardelli, Gioventù, de Visconti, Óbulo da Viúva, de João Zeferino da Costa, e A Batalha do Avaí, de Pedro Américo.


Nesse Museu, encontra-se o retrato da Viscondessa de Cavalcanti, pintado por Léon Bonnat (1833-1922), em 1889, e doado no ano de 1926. O instituto Histórico e Geográfico Paraíbano possui retratos a óleo da Viscondessa de Cavalcanti e de seu marido, ambos da autoria de Labatut, os quais haviam pertencido anteriormente à D. Virgínia Cavalcanti de Albuquerque, irmã do Visconde.


Este breve relato mostra alguns fatos relevantes da vida de Amélia Machado de Coelho e Castro, cuja presença marcou profundamente a sociedade brasileira pelo seu vivíssimo talento, por sua beleza e generosidade. Estrela que não se apaga, a Viscondessa de Cavalcanti merece ser lembrada pelo muito que fez pela cultura de nosso País. A Snra. Viscondessa de Cavalcanti não cedeu nunca de seu império de distinção, elegância e formosura. E, ainda hoje, é pena que apareça tão pouco, porque reinaria ainda.


Fontes:

Wanderley Pinho, 1942 - Bibliografia Barata, Almeida C. E. de, e Cunha Bueno, A.H., Dicionário das Famílias Brasileiras, Ibero América, s.d.Blake, A. V. Alves Sacramento, Dicionário Bibliográfico Brasileiro. Edição do Conselho Federal de Cultura. Guanabara, 1970. Catálogo das medalhas brazileiras e das estrangeiras referentes ao Brazil, da colleção numismática pertencente à Viscondessa de Cavalcanti. 2ª edição augmentada e illustrada, Pariz, 1910. Collecção Numismática Brazílica pertencente à Viscondessa de Cavalcanti. Catálogo das medalhas brazileiras e das estrangeiras referentes ao Brazil, 1889. Pinho, W., Salões e damas do segundo reinado, com desenhos de J. Wasth Rodrigues, Livraria Martins Editora São Paulo, 1942.Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol. X , p. 588, 1905.Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, vol. XV, p. 455, 1910.Taunay, Affonso de E., O Senado do Império, Senado Federal, DF, 1978.Veiga Júnior, J., Os Viscondes de Cavalcanti, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Paraíbano. Palestra realizada em sessão de 22 de agosto de 1937, p. 85- 92.


Agora uma reflexão:


A Comunidade Numismática Brasileira, concedeu o título de Pai da Numismática Brasileira, ao Julius Meili, pelo fato de que o mesmo editou o primeiro catálogo de peças brasileiras, e podemos também por analogia, conceder o título de Mãe da Numismática Brasileira à Viscondessa de Cavalcanti.

Neste particular, até com mais propriedade e justiça, pois a mesma, sendo mulher, além de editar o primeiro catálogo de Medalhas Brasileiras, doou sua coleção à Museus Brasileiros que até hoje preservam sua coleção.

Já as trapalhadas de nosso Pai da Numismática, além de editar seu catálogo em lingua germânica, doou toda sua coleção a um museu SUIÇO e este, além de não preservar a coleção, e com o intuito de entrar na posse de dinheiro, justificou a venda: "por lei, só devemos colecionar ANTIGUIDADES SUIÇAS, esta coleção, embora muito valiosa, é em nosso acêrvo um " CORPO ESTRANHO" (veja texto publicado neste BLOG sobre peças a leilão de Julius Meili em 1939 e desdobramentos desta história toda).

Sendo assim, acredito que a Viscondessa têm todos os requisitos necessários para ser considerada nossa MÃE DA NUMISMÁTICA BRASILEIRA, afinal, a história de suas peças até hoje honram nossa numismática, na exposição em Museus Brasileiros.


Aguardo comentários a respeito.
Saudações numismáticas a todos
João Gualberto Abib.

3 de set. de 2008

MEDALHAS DO PARANÁ EDIÇÃO DE 1959


MEDALHAS DO PARANÁ edição de 1959, editado pelo Museu Paranaense, então sob mandato universitário. OBRA ESQUECIDA da Numismática Brasileira, de autoria de Ernesto Germano Lange e Júlio Estrella Moreira.

Esta obra realizada, é inédita pela edição e desconhecida pela maior parte dos numismatas do Brasil, certamente, pelo número reduzido de sua impressão, embora não haja citação do número de exemplares, presume-se que não passe de 500 exemplares.
Tratou-se de catalogar 263 medalhas, somente de forma descritiva sem imagens, todas elas, produzidas em terras Paranaenses e ainda, por artistas gravadores que viveram e tiveram, na grande maioria, inspiração e aprendizado com grandes mestres que aportaram em solo deste Estado. Este catálogo possui 130 páginas no total.
Como mestres gravadores, de então, relacionamos: Pedro Mario Setragni; Eugênio Gellert; Emílio Gugich; José Péon; Frederico Tod; Henrique Kaminski; Eduardo Mueller Jr.; José Tortatto; João Muelleken; Cristiano Winters; José Mansur Karam e Dinéas Dinaldo Tod.

Esta obra sem dúvida alguma, ainda inédita para muitos, precisa ser atualizada, pois reporta-se sobre medalhas entre os anos de 1889 a 1958, e de lá para cá, já são mais 50 anos para se atualizar na história numismática Paranaense.

Hoje, esta edição de 1959, por ser já de raridade, custa no mercado entre R$ 300 a 400 Reais o exemplar original, e ainda assim, quando se tem sorte de encontrar.

Vou fazer gestão junto ao Museu Paranaense, uma autorização para reproduzir 200 exemplares numerados, desta mesma publicação de 1959, para ofertar aos numismatas brasileiros interessados em medalhística, e para reforçar o pedido, peço aos interessados que externem seu interesse real por esta edição suplementar, caso for autorizada, ao custo de R$ 80,00 Reais, nos "comentários" desta matéria neste BLOG.

Desta forma, caso seja autorizada a reprodução LIMITADA, já vai se formando uma fila para estes poucos exemplares.

Texto de autoria de João Gualberto Abib.