23 de abr. de 2010

AS IMITAÇÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS

O texto abaixo é do exímio gravador, Sr. Pedro Pinto Balsemão. Recebido neste final de semana por e-mail, onde me encontrava, em Cuiabá - MT., a trabalho. Li e reli a matéria e atribuo ser muito interessante a abordagem do mesmo, em relação ao assunto. Solicitei no mesmo instante, logo após a leitura, ao Mestre Gravador, autorização para publicá-lo neste BLOG. Versa sobre o seu pensamento e sua posição, sobre o assunto tão em voga, das "réplicas chinesas". Como fui autorizado, dei o mesmo título da matéria, escolhida pelo amigo Balsemão e o texto foi reproduzido abaixo:



AS IMITAÇÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS


Há poucos dias atrás, li em algum lugar sobre um expert que foi enganado ao identificar uma peça rara em uma loja de antiguidades na Europa. O cara “pagou o mico” junto à dona da loja.


Há quinze anos, quando comecei a fazer as minhas primeiras réplicas, tratei desde logo de identifica-las para não ter problemas no futuro. O tempo foi passando e com muito afinco e coragem segui fazendo novas e mais perfeitas réplicas que eu enviava aos meus colegas e amigos para obter opiniões sobre meu trabalho. Recebi inúmeras manifestações de todo o território brasileiro e em todas tive o apoio e incentivo para continuar.


Mas, afinal – ao que exatamente eu estava me propondo? Qual o meu objetivo? Estaria eu pensando em ganhar dinheiro com isso? Não. Nada disto. Minha intenção era divulgar, estimular o colecionismo de moedas, chamar a atenção das pessoas para a beleza e a importância de nossas moedas, que contam um pouco da história de nosso país. Minha primeira réplica que julgo importante foi a “Peça da Coroação” – D. Pedro I, 1822R. Em seguida fiz o 960 réis 1809R, peça única conhecida. Logo adiante dentre muitas outras, fiz também réplica das “Três Cabeças” da República (1891/1896/1897). Com estas, fui projetado nacionalmente no meio numismático a ponto de receber correspondência dos mais ilustres expoentes da numismática brasileira, (alguns, infelizmente já falecidos) cumprimentando-me pela perfeição do trabalho. Embora a aprovação para o meu trabalho não tenha sido unânime, pois algumas pessoas manifestaram-se, ainda que timidamente, contra, não desisti do meu projeto.


Hoje, felizmente, sou reconhecido e respeitado no meio numismático, entretanto, algumas observações “espirituosas ou não”, muitas vezes são colocadas numa roda de conversa entre companheiros. Por exemplo: “Se o Balsemão tivesse más intenções com suas réplicas, causaria sérias controvérsias no meio numismático” ou “Como todo o bom artista, este gravador ficará famoso, mas, naturalmente, após a sua partida, deixando suas peças serem disputadas pelos ávidos comerciantes, que aí sim tratarão de valoriza-las ao máximo”.


Vale ainda esclarecer: Porquê réplica de tal ou qual peça? Qual o critério adotado para fazer este trabalho? As peças que me proponho a replicar são, muitas vezes, únicas ou raras, que se não estão em mãos de alguns colecionadores, poderão ser vistas apenas em museus ou em fotografias. A réplica tem o propósito de aproximarem-se o mais possível da peça original, porém sem qualquer comprometimento, pois elas são, invariavelmente, identificadas em seu propósito.


Agora vamos tratar de outras imitações; aquelas que são feitas com o sentido iminente de enganar, tirar proveito – vejam que não menciono falsificações e sim imitações. São peças de todos os tipos, de marcas e grifes famosas – desde porcelanas, cristais, marfins, biscuit, até roupas, calçados, etc. Agora, chegou a vez das moedas. Vindas do exterior, estão causando verdadeiro estardalhaço nos meios numismáticos. Há um ano atrás, comprei de um comerciante, duas peças de “prata” – 2.000 réis 1867/1886, oferecidas esclarecidamente como “falsas”. Comprei sabendo. Queria comparar e ver a que ponto poderia chegar a semelhança com uma original. É de assombrar a perfeição da imitação.


Recentemente um amigo esteve nos Estados Unidos e de lá me trouxe um 4.000 réis de 1900, famosa peça comemorativa de nossa numismática. Linda e perfeita imitação.

Alguns dias mais tarde, em nosso Encontro Numismático em Porto Alegre, eis que vejo algo estarrecedor em matéria de imitação: mais um 4.000 réis e os dólares norte americanos dos séculos XVIII e XIX, com a coleção inteirinha num belo álbum cuja capa também era de uma imitação perfeita de couro, que faria “Luster babar”, pois o estojo referido talvez valesse mais ainda do que as próprias peças. As especificações escritas, evidentemente em inglês e garantindo serem as peças em prata 900. Não tive dúvida: de posse de uma peça de 4.000 réis 1900 fui à procura, ali mesmo próximo ao encontro, de um chaveiro que pudesse corta-la ao meio. O chaveiro não queria fazer o serviço, com pena de estragar uma peça “tão bonita e cara”. Tive que argumentar muito e então ele concordou em cortar a peça e assim pudemos confirmar o que eu já suspeitava: Não se tratava de prata coisa nenhuma e sim de um latão (cobre + zinco) ali debaixo daquele “prateado”. Então todos os presentes ao evento puderam constatar o “blefe”. Se estas peças vêm da China, eu não sei, só sei que são tão perfeitas que podem enganar aos menos avisados, portanto... E o preço é ainda mais estarrecedor. Segundo os participantes do “Mercado Livre”, estas peças podem ser adquiridas por bagatelas.


E agora, o que fazer? Processar os imitadores? Apelar para a “Corte Internacional”ou irritarmo-nos? Não, nada disto. Vamos encarar estes fatos com naturalidade, sabendo que jamais poderemos impedir esta prática no mercado. Vamos sim, ficarmos atentos e chamar a atenção de todos os interessados para terem cuidado, pois o trabalho é tão perfeito que pode enganar a qualquer um. Entretanto, alguns detalhes podem ser o “divisor de águas”: O peso da peça será exatamente igual ao peso da peça original? O preço oferecido é o praticado no meio numismático? Há um consenso na média de preços? Às vezes nem pelo peso é possível decifrar uma verdadeira de uma falsa. A peça que adquiri, ciente de que era falsa, tem o peso muito aproximado da verdadeira. A imitação é tão “perfeita” que a criatividade dos “inventores” vai desde uma moeda BG, UG, BC e aí por diante. Não foi esquecida nem mesmo a pátina...
Então, nós, que nos consideramos verdadeiros numismatas temos o dever de reconhecer uma peça falsificada, imitada ou replicada.


Em breve, voltarei ao assunto.


Pedro Pinto Balsemão
Gravador e colecionador
Estudioso da numismática brasileira

O TEXTO ABAIXO, FOI ENVIADO EM 24 DE SETEMBRO DE 2010, PELO AMIGO PEDRO PINTO BALSEMÃO, O QUAL REPRODUZO ABAIXO:

OBS. EM RAZÃO DO COMENTÁRIO INCLUIDO PELO SR. FRANCISCO PARTOS, DE PORTO ALEGRE, SOBRE O TEXTO ACIMA.


Um comentário de mau gosto.

Prezado companheiro de colecionismo João Gualberto Abib.

Lá se vão dois meses desde a publicação em seu blog de um maldoso comentário feito pelo sr. Francisco Partos de Porto Alegre. Diz ele entre outras maldades: “As peças que o Balsemão produz é um desserviço a numismática”. Discordo literalmente; ao contrário: estou isto sim, prestando um serviço aos colecionadores de moedas brasileiras dando a oportunidade de conhecer de como eram as peças raras de nossa coleção.
Diz mais: “ um minúsculo “B” escondido em algum canto .. é um convite a falcatrua”.
Ora, meu caro João. Não vou me responsabilizar se algum mal intencionado vier a apaga-lo, muito embora, continue essa peça, a ser uma réplica.
Diz ainda: “ colocar de maneira explicita tratar-se de uma cópia, etc..” – Só não vê quem não quer, pois mesmo que sejam perfeitas cópias, sempre serão cópias.
“Obrigação de um numismata responsável...” – Sabem muito bem, meu prezado amigo, todos que me conhecem, que tive o cuidado de publicar um catálogo, onde narro todo o meu trabalho, explicando inclusive, como o executo. Ali estão registradas todas as cunhagens feitas até o ano de 2005, pois de lá para cá, só gravei algumas medalhas, pedidas por amigos e entidades numismáticas.
Tenho um nome a zelar, pois sou estabelecido há 58 anos com uma empresa de gravuras em metais, sendo esta atividade secundária em gravar réplicas de moedas e medalhas, apenas um hobbie, que passei a realizar a partir de 2005/2006, por pura dedicação, gosto e alegria.
Minhas tiragens, nunca passam de 50 peças, devidamente identificadas. Isto é uma regra a ser cumprida, pois pretendo deixar minha marca como gravador profissional nestas figuras expressivas da história do nosso pais.
Pedi ao Sr. F. Partos, através de correspondência pessoal que reconsiderasse suas observações a respeito de meu trabalho. Não obtive resposta. Assim, achei por bem utilizar o mesmo meio de comunicação para tornar pública a minha indignação pela maneira leviana com que este senhor comentou o artigo que publiquei, pois na verdade, não tem nada a ver o texto de “As imitações e suas conseqüências” com trabalho que desenvolvo.

PEDRO PINTO BALSEMÃO.

Nota do Blogueiro: Como se diz: em briga de Gaúchos, Paranaense não bota a colher. O que se espera no final, é que ambos os guerreiros, me convidem para um bom churrasco ou um bom chimarrão.

Abraços aos amigos, tanto ao colecionador e comerciante de numismática, FRANCISCO PARTOS como para o amigo, gravador respeitadíssmo, PEDRO PINTO BALSEMÃO. Ambos têm a sua história já registrada no meio numismático brasileiro, e dispensa qualquer comentário.

3 comentários:

  1. Prezado Abib e Balsemão.

    Já inúmeras vezes tenho colocado meu ponto de vista, que é partilhado por muitos, e volto a dizer: "a peças que o Balsemão produz, é um desserviço à numismática".

    Se fossem fabricadas fora do tamanho, metal e peso das originais, aí sim cumpririam sua finalidade. Assim são as cópias permitidas nos EUA, que possuem legislação a respeito.

    Ter um minúsculo "B" escondido em alguma canto, dobra, relevo ou campo do desenho, é um convite à falcatrua. Basta uma martelada e... sumiu!

    Colocar de maneira explícita, tratar-se de CÓPIA, é a obrigação de um numismata responsável.

    Francisco Partos,
    E & P Numismática.

    Obs.: para os que não me conhecem, sou colecionador e comerciante estabelecido há mais de 20 anos em nosso mercado.

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  2. Adquiri recentemente, uma moeda de 960 réis 1809 R, réplica da original peça única, que está no museu do Banco Central. Em excelente estado de conservação, e com uma riqueza de detalhes impressionante, por se tratar de uma réplica,cunhada pelo Balsemão.

    Comprei sabendo que se tratava de uma réplica, e sei como colecionador que jamais poderei ter a moeda original, por se tratar de peça única, mas me contento em ter uma réplica, para completar minha coleção de patacões.

    Alguns colecionadores me criticaram, quando adquiri esta moeda, mas perguntei a eles, quando eles terão pendurados em sua sala uma Monalisa ou um Abaporu, também peças únicas e tão raras como esta moeda.

    Em todas as peças criadas pelo gravador Pinto Balsemão, ele faz questão em gravar as suas iniciais na moeda, para que fique bem claro de que se trata de uma réplica. Mas o que acontece é que suas peças são tão perfeitas e tão parecidas com as originais, que se não houvessem as suas iniciais gravadas, poderia se dizer ser as peças originais.

    Não conheço pessoalmente o gravador Pedro Pinto Balsemão, mas pelo pouco que ouvi falar a seu respeito, se trata de um grande numismata, um grande artista, pessoa muito séria e correta, e minha opinião é que o seu trabalho deve continuar e ser incentivado, para o bem da Numismática.



    Cezar Sizanoski
    KAKAUERA NUMISMÁTICA

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  3. fico bastante feliz em conhecer uma pessoa pelo qual via internet e tenho o prazer de compartilhar uma boa coleção, e pelo tratamento dispensado a minha pessoa. obrigado Paulo Cesar Costa.Brasília/DF.

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