16 de nov. de 2008

AS PEÇAS ROUBADAS DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL EM 24 E 25/06/1937

Se voce leu a matéria postada anteriormente, sobre GUILHERME GUINLE, em uma parte do texto, em 1925, seu gesto de generosidade atingiu ao máximo, colocando a disposição dos técnicos do Museu Histórico Nacional sua rica coleção numismática para que dela retirassem todas as peças que lhes interessassem, a título de doação. Foi extraída assim, 2.310 exemplares, na sua maioria em ouro, além de muitas barras do mesmo metal, oriundas de diversas Casas de Fundição do Brasil.

Mas, para surpresa de todos, e para a infelicidade do doador pródigo, na noite de 25 de junho de 1937, foram roubadas desta coleção, 116 moedas e 17 barras em ouro, além de várias medalhas, também de ouro e ainda, títulos antigos do reinado de D. João VI e D. Pedro I do Império do Brasil.

Os gatunos que agiram durante a noite, de um sábado para domingo, e presume-se, eram conhecedores de numismática, ou ainda talvez, orientados por pessoa familiarizada com o assunto, pois, foram escolhidas as melhores peças, tanto em moedas como em medalhas, e especialmente, as melhores barras de ouro cunhadas.

Segundo ainda, os jornais da época, atribuiram o roubo à falta de vigilância, e ainda relatavam que seus autores conheciam perfeitamente a localização da sala de exposição da Seção de Numismática. Pelas mesmas notícias divulgadas, os ladrões haviam entrado pelo telhado e levado apetrechos necessários para serrar as grades e arrombar as vitrines dos expositores. Coisa bem planejada e de gente do ramo.

As autoridades policiais da época, nada conseguiram apurar e o ocorrido passou para o esquecimento.

Bem, mas o inusitado deste roubo, veio a tona 44 anos depois em 1981, um menino descobriu no quintal de uma casa no bairro do Grajaú uma das barras de ouro desaparecidas, procedente da Casa de Fundição de Mato Grosso, datada de 1818. Foi encaminhada à polícia pela proprietária do imóvel que a restituiu ao Museu Histórico Nacional.

A Revista Numismática, de 1937, nas páginas 246 a 250 relaciona as moedas e barras de ouro desfalcadas da preciosa coleção doada por Guilherme Guinle ao Museu Histórico Nacional ( dados colhidos no Gabinete de Investigações na Seção de Furtos e Roubos da Polícia Carioca), com a respectiva avaliação total do roubo em 218.000$000 ( duzentos e dezoito contos de réis).

Os dados acima, inclusive com alguns trechos que foram transcritos integralmente, foram extraídos do livro entitulado de Ensaio Biográfico de Guilherme Guinle, 1882-1960 - de autoria de Geraldo Mendes de Barros no ano de 1982.

Já sobre o mesmo assunto, o Kurt Prober, em seu livro entitulado de Ouro em Pó e em Barras, Meio Circulante do Brasil, 1754 - 1833 - publicado em 1990. Em capítulo separado como "capítulo E", dá a data do roubo no referido museu em 24 e 25 de JULHO e não em JUNHO, conforme texto anteriormente citado. Mas expõe a tona detalhes e pormenores e citam nomes de alguns envolvidos sobre o assunto, que achei por bem, publicar integralmente este capítulo para conhecimento de todos.

E - ROUBO DE BARRAS E MOEDAS DE OURO 24/25.7.1937 NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, RIO DE JANEIRO (RJ).

Na noite de sábado para domingo, 24/25 de julho de 1937, houve um vultuoso ROUBO de moedas e de 20 BARRAS DE OURO no MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, do Rio de Janeiro, pesando só as barras mais de TRES quilos. Este roubo NUNCA foi esclarecido, e, por incrível que pareça, o seu Diretor, GUSTAVO BARROSO, chefão INTEGRALISTA, movimento este que então se preparava para arrancar o poder das mãos do Presidente GETÚLIO VARGAS, nunca mexeu uma palha, digna de nota, para a elucidação deste rumoroso caso. Estavam os "integralistas" por demais empenhados em organizar, no Rio de Janeiro, o famoso "Desfile dos cinquenta mil ( 50.000) Camisas Verdes", movimento abortado em bôa hora por GETÚLIO.
Por sinal, quando aconteceu o roubo, o Diretor Gustavo Barroso estava en viagem para o Norte do Brasil (Ceará), sendo o museu na ocasião dirigido pelo Sr. EDGAR DE ARAÚJO ROMERO, como Diretor Interino.

A primeira notícia foi, de que tinham sido surrupiadas 117 ( cento e dezessete) Moedas de Ouro e VINTE (20) BARRAS DE OURO das vitrines da Seção de Numismática, conforme foi reportado à Polícia, mas já no dia 28.07.1937 o Dr. ROMÉRO retificou, que somente 17 ( dezessete) BARRAS tinham sido furtadas, como declarou em entrevista publicada no Jornal "O GLOBO" deste dia.

O chefe de polícia do Rio de Janeiro era então o Dr. FELINTO MULLER, e as investigações correram pelas autoridades do 5º Distrito Policial. O Diretor GUSTAVO BARROSO, NUNCA prestou nenhuma declaração, mesmo depois que voltou a dirigir aquele "nosocômio...." de politiqueiros daquela época.

Em todas as investigações policiais, houve apenas DUAS pessoas indiciadas....Uma delas foi HENRIQUE CANDIDO FERREIRA, preso em 3.8.1937, logo em seguida tentanto sucídio, e cuja mulher - ROSA FERREIRA, o acusou frontalmente, mas por "motivos INEXPLICÁVEIS" nada se apurou, e o DE CUJOS pouco depois sumiu do cartaz, embora este indigitado assaltante tenha sido egresso da "Cadeia de Mar de Espanha" (MG). Funcionários e serventes do Museu foram presos, mas logo em seguida soltos, pois puderam provar sua inocência.

Mas em princípio de OUTUBRO de 1937 a polícia portenha conseguiu prender um TURISTA...que tinha visitado o Museu, na pessôa de ANDRÉS SOLARES ABELLO, que pouco depois foi embarcado preso a bordo do navio "D.PEDRO II", para ser então apresentado à polícia do Rio. No dia 20.10.1937 o navio partia de SANTOS, com o preso algemado, e às 22 horas o comandante mandou soltar o preso...., quando se estava na altura da ILHA DA MOELA. Descobriu-se, então, que o preso tinha desaparecido, e sendo aceita a hipótese, que ele se tinha atirado ao mar, ali enfestado de tubarões...

Não pode haver dúvida, que se trate de uma história "mal contada....", pois o desaparecido era um "estelionatário uruguaio" , que por ocasião do roubo estivera no Rio de Janeiro em companhia de um amigo, ERCÍLIO CARIMANDO, e que só em 29.7.1937 tinham voltado para Buenos Aires. Foi até descoberta uma carta, que SOLARES tinha escrito à dona da Pensão, da rua Corrêa Dutra, 52, no Rio, onde estivera hospedado, "...pedindo que ela fosse a polícia para declarar, que ele estivera acamado no dia 25.7.1937, dia do Roubo". Fato é que este elemento SUMIU POR COMPLETO, e sendo aceita a hipótese, que ele servira de " comida de tubarão..."

Acontece, que este melodrama, uma espécie de "ópera-bufa", teve um desfecho inesperado, em fins de abril de 1981. Noticiaram então os jornais, que havia sido encontrada uma BARRA DE OURO há um mês, ( barra esta que foi ilustrada) ( inclusive com imagem neste BLOG) enterrada no fundo do quintal da casa da rua Visconde da Santa Isabel, nº 578, no bairro do Grajaú, do Rio de Janeiro. Era a barra 1818-M-658, que em 25.7.1937 tinha sido roubada do Museu Histórico Nacional, do Rio, que, informado do achado, dei um "geito..." da peça lhe ser devolvida, conforme me informou o funcionário Sr. Câmara, pelo telefone, no dia 5.5.1981.

A casa era do Sr. Hassan Hadman, fazendeiro, e quem encontrou a barra foi o menino José de Almeida Ramos, que no dia 25.3.1981 brincava nos fundos da residência do Sr. Hassan, na ocasião em viagem no interior da Bahia. D. Alzira, esposa do Sr. Hassan, pensando tratar-se de "coisa roubada", comunicou o encontro logo à Polícia do 20º DP. A própria Polícia revolveu todo o terreno do quintal, ajudada até pela Polícia Militar, mas nada mais foi encontrado.

Declarou o dono do prédio, "ainda", que não se lembra mais de quem comprou o imóvel há uns 40 anos, ocasião em que fez obras no prédio, nada tendo sido encontrado.

Para mim esta barra, pesando 229 gr. de ouro de quase 24 quilates, deve ter sido o pagamento que um dos participantes do roubo recebeu, e este com medo de ser descoberto, preferiu enterrar a peça neste quintal, talvez depois, esquecendo o local exato ou tendo morrido. A casa fica perto da encosta de uma favela.

Eis a seguir a relação das 20 barras que teriam sido roubadas do Museu, conforme relação dada a Polícia, e que foi publicada nos jornais do Rio do dia 27.07.1937. (O Globo e Diário da Noite. Foram relacionadas sob n° 4° até 23°, não sabendo o que teriam sido os ítens 1° até 3°):

4°) - 1809 - S - 3558; 5°) - 1809 SF -4299; 6°) - 1812 - V - 531; 7°) - 1812 - S - 2388; 8°) - 1812 - S - 317; 9°) - 1813 - SF - 656; 10°) - 1813 - 2 - 347; 11°) - 1814 - S = 174; 12°) - 1814 - S - 1177; 13°) - 1814 - S - 1953; 14°) - 1815 - M - 241; 15°) - 1816 - G - 799; 16°) - 1818 - R - 202; 17° - 1818 - SF - 359; 18°) - 1818 - M - 658; 19°) - 1821 - C - 167; 20°) - 1819 - M - 102; 21°) - 1821 - G - 281; 22°) 1822 - G - 41; e 23°) 1822 - G - 229.

Nota: As barras das referências n° 11 e 21 possuiam GUIA, sendo provável que a Guia da peça 11 1814 - S - 174 ainda esteja guardada em algum arquivo. Quanto a Guia da peça 21 veja mais adiante.

IMPORTANTE: - Verificou-se depois, QUE NÃO TINHAM SIDO ROUBADAS AS BARRAS DAS Referencias, n° 4° - 8° - e 21° ( c/Guia), e tendo sido recuperada, em 1981, a barra ref. n° 18. Desapareceram efetivamente 16 ( dezesseis) Barras do Patrimônio Nacional, provavelmente FUNDIDAS pelos ladrões, e perdidas para sempre. Digo isto, porque os larápios tinham escolhido a dedo as barras mais PESADAS, como as peças de ref. 14, 15, 18. 19 e 20, pesando: 1.387, 279, 225, 262 e 179 gramas, respectivamente.

Houve muitas inexatidões nos pesos, números, quilates, etc. constantes na relação fornecida pelo Museu à Polícia, o que felizmente eu pude emendar nas respectivas fichas, pois em meus velhos guardados eu encontrei uma lista detalhada - MANUSCRITA - do Dr. Alfredo Solano de Barros, feita posteriormente, quando já se tornara funcionário graduado do Museu, lista esta, em que, com sua habitual meticulosidade, consertou todos os erros, e ainda fazendo os seus habituais comentários pitorescos.

É interessante, porém, a observação que faz sobre as barras de 1822 - G - n°s 41 e 229 ( ref, 22 e 23), das quais diz terem sido do TESOURO DE JUNDIAÍ (....que teria sido encontrado em 1916....) barras estas que teriam sido quase desconhecidas e raras ANTES do encontro deste tesouro. Só mais tarde é que se veio a descobrir, que o dito tesouro só "...teria....sido" encontrado em 16.7.1921. Ambas estas peças tinham sido doadas ao Museu pelo Dr. Guilherme Guinle.

Agora, cá entre nós, continuo acreditando que o tesouro tenha sido achado bam antes de 1921, e que o dono só resolveu "botar a bôca no trombone"mais tarde, quando já tinha conseguido vender uma grande parte, e principalmente as moedas, das quais nunca se falou, sem ter de entregar a parte devida ao govêrno de tudo que achara.

Merece mensão ainda a observação do Dr. Solano, quando cita - como TAMBÉM ROUBADA, uma BARRINHA DE OURO, fundida na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, no tempo do Império.
n° 2409 de 8.4.1875 - Ouro - título: 965-1/2 milésimos - Pêso 87,70 gramas. Diz ele, ".....que na técnica é apenas uma curiosidade numismática, por não ser do tempo das Casas de Fundição...." Mas quer me parecer que esta peça NÃO foi roubada, pois encontrava-se numa outra vitrine, junto com duas barras do Império. E tendo encontrado em meu arquivo um "decalque" desta peça, também tirado pelo Guarda "BAIÃO". Trata-se, neste caso, de uma das muitas barrinhas que a Casa da Moeda, do Rio, mediante o pagamento de uma taxa, fundia com o ouro em pó, ou ouro "quebrado" que lhe era entregue para "fundição".

Mas lembra ainda, para finalizar, o mestre KURT PROBER: ....Mas a relação do Dr. Alfredo Solano de Barros é ainda mais interessante, pois nela achamos descritas também as outras barras do Museu, QUE NÃO FORAM ROUBADAS, e que são as seguintes:
1784 - M - 699; 1801 - S - 1752; 1804 - V - 1532; 1809 - S - 3558; 1814 - S - 174; 1818 - M - 658; 1821 - G - 281; 1828 - S - 130; 1831 - S - 105.

PORTANTO DEVE O MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, POSSUIR HOJE 9 ( NOVE) BARRAS DE OURO.

Mas a dúvida persiste, afinal, kurt Prober cita o mês de julho e já no livro de Geraldo Mendes Barros, em seu Ensaio Biográfico, cita o mês de junho. Verificando ainda, a Revista Numismática de 1937, às folhas 244, editada pela Sociedade Brasileira de Numismática, com o título "Vultuoso roubo no Museu Histórico Nacional", me parece que está dúvida esta dissipada, pois cita o mês de JUNHO. Parece que o Kurt Prober, por engano, acabou citando o mês errôneamente. A data correta, parece ser a de 24 e 25 de junho de 1937.
Mas, por via das dúvidas, vou consultar os Jornais citados por Kurt Prober, para confirmar em definitivo qual mês realmente ocorreu este famoso roubo no Museu Histórico Nacional, no ano de 1937. Tão logo tenha o resultado, divulgo aqui nesta matéria.

7 de nov. de 2008

GUILHERME GUINLE - MAIOR DOADOR BRASILEIRO DE PEÇAS NUMISMÁTICAS



Em 1939, foi instituído pelo Decreto Lei 1.706 de 27 de outubro de 1939, O LIVRO DO MÉRITO, cuja função era de inscrever para a posteridade, nomes de pessoas que fizeram a diferença, por suas "doações valiosas", ou ainda, pela reconhecida prestação de serviços relevantes e que houvessem com notoriedade, contribuído para o enriquecimento do patrimônio material ou espiritual da Nação, e merecido assim, o testemunho público do seu reconhecimento. Para isto, se prestavam com homenagens, a inscrição de grandes nomes, no Livro do Mérito.

Este mesmo Decreto Lei, foi depois, regulamentado pelo Decreto 5.244 de 07 de janeiro de 1940. O parecer da primeira indicação, data de 26 de setembro de 1941, demonstrando que a Comissão agiu com extremo cuidado, não tendo pressa em apresentar nomes. Enquanto existiu o LIVRO DO MÉRITO, não chegou sequer, a duas dezenas de nomes homenageados por seus préstimos de alto grau de reconhecimento ao País. Mas, alguns nomes de alguns cientistas, como Cardoso Fontes, e Vital Brasil, juristas como Clóvis Beviláqua e Francisco Mendes Pimentel, o sertanista, General Cândido Mariano Rondon e pessoas dedicadas à assistência social, como, Rafael Levi de Miranda e Sinhá Junqueira, ficaram inscritos.

Mas, entretanto, o primeiro nome inscrito neste Livro, foi o de Guilherme Guinle. O decreto da primeira inscrição, assinado pelo então Presidente Getúlio Vargas, estava assim redigido:

"Considerando que o Decreto-Lei de 1.706, de 1939, instituiu o Livro do Mérito, destinado a receber a inscrição dos nomes das pessoas que, por doações valiosas ou pela desinteressada proteção de serviços relevantes, hajam cooperado notoriamente para o enriquecimento do patrimônio material ou espiritual da Nação e merecido o testemunho público do seu reconhecimento; considerando que o engenheiro GUILHERME GUINLE, conforme parecer da comissão do Livro do Mérito, é merecedor dessa alta distinção, resolve: Mandar inscrever o seu nome no livro do Mérito."

O diploma, executado em litografia, desenhado por J. Wast Rodrigues, noticia a imprensa da época, achava-se encerrado em artística caixa de jacarandá entalhado, com ornatos em prata cinzelada e seus dizeres eram os seguintes: " O Presidente da República, tendo em alto apreço os merecimentos do Sr. Dr. Guilherme Guinle, em testemunho público do reconhecimento nacional pelas doações valiosas e prestação de serviços relevantes para o enriquecimento do patrimônio material e espiritual do Brasil, mandou fosse feita sua inscrição no Livro do Mérito."

Mas, afinal, o que fez de grandioso este grande brasileiro, para entrar no Livro do Mérito e ainda, como o primeiro nome inscrito neste mesmo livro com tamanha distinção e honra?. Vamos ressaltar somente os registros das doações NUMISMÁTICAS, pois além de doações de hospitais, obras de artes, dinheiro para instituições de caridade, e outras coisas mil, ficaremos dias para relacionar a importância deste brasileiro exemplar, além de numismata e grande filatelista que foi em sua época.

Só para lembrar, nasceu em 1882 e faleceu em 1960. Foi presidente da CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, foi presidente da Companhia Docas de Santos, foi fundador da Usina de Volta Redonda, foi o Presidente da Fundação Gaffrée e Guinle e de foi em foi, também ficaria horas para relacionar tudo isto. Vamos nos ater somente na parte Numismática.

O prazer que este grande homem tinha em fazer suas coleções, não se encerrava em si próprio, não era apenas pessoal e egoísta, pois, com o mesmo gosto que adquiria suas peças numismáticas, e diga-se de passagem, peças raras e algumas extremamente raras e ao final de sua catalogação, ele se satisfazia, ainda mais, ao transferir por doação ao patrimônio público nacional para que servisse para a educação do povo.

Em 1921, fez sua primeira doação a Secção de Numismática da Biblioteca Nacional. Nas anotações do primeiro livro de registro de moedas, verifica-se que se compunha de 147 moedas portuguesas, que vão do reinado de D. Sancho II ( 1223-1248) a D. Manuel II (1908-1910), sendo 128 de prata e as demais de níquel, cobre e de outras ligas de metais. As referidas moedas se distribuem pelos seguintes reinados: D. Sancho ( 1223-1248); D. Fernando ( 1367-1838); D. João II ( 1481-1495); D. Manuel I (1495-1521), D.João III ( 1521-1557); D.Sebastião ( 1557-1578); D. Filipe II ( 1598-1621); D.João V ( 1640-1656); D. Afonso VI ( 1656-1683); D.Pedro II ( 1683-1706); D.João V ( 1706-1750); D. José ( 1750-1777); D. Maria I ( 1786-1799), D. Maria II ( 1834-1853), D. Luiz I ( 1867-1889); D. Carlos ( 1889-1908) e D. Manuel II ( 1908-1910).

Da coleção constavam, ainda, duas moedas da África Portuguesa: dois macutos de D. José I – 1762 e uma pataca de Moçambique. D. Maria II, octogonal, e seis moedas da Índia Portuguesa, sendo uma rúpia de D. Maria I ( cobre), cinco bazarucos de D. João V ( 1722) e cinco bazarucos de D. João V, sem data, ambos de calaim.

Em 06 de abril de 1922, foi incorporada à seção de numismática da Biblioteca, nova doação de Guilherme Guinle, constando as seguintes moedas de ouro: moedas francesas – franco a pé, de Carlos V ( 1364-1380), um agnelo de Carlos VI ( 1380-1422), um escudo com o sol, de Francisco I ( 1515-1547), uma moeda do Condado de Flandres, real de dupla águia e uma moeda do Ducado da Toscana, sequim florentino, de prata.

Quatro dias depois, registra-se, com todos os detalhes, outra grande doação de Guilherme Guinle, constante de 720 peças do Brasil- Colônia e do Brasil-Império, sendo 123 de prata e 597 de cobre. Tais moedas vão desde o reinado de D. Pedro II ( 1683-1706) até D. João VI ( as do Brasil-Colônia), as do Brasil-Império, abrangem os reinados de Pedro I e Pedro II, até o final da monarquia do Brasil.

Já no Governo de Epitácio Pessoa, em 1922, criou-se o Museu Histórico Nacional, que se instalou a 12 de outubro no antigo Arsenal da Guerra. A seção de numismática, até então na Biblioteca Nacional, transferiu-se à nova instituição e as doações de Guilherme Guinle prosseguiram com a mesma e constante generosidade.

Em 02 de outubro de 1924, foi doado um conjunto de condecorações composto de 119 peças em ouro, prata dourada, esmalte e pedras preciosas, algumas das quais raríssimas.

Já em 1925, seu gesto de dadivosidade alcança o máximo, colocou sua riquíssima coleção à disposição dos técnicos do Museu Histórico Nacional para que dela retirassem todas as peças que lhes interessassem, de que resultou a inclusão de 2.310 exemplares, na maioria de ouro, além de muitas barras do mesmo metal, procedentes de diversas Casas de Fundição do Brasil, que, como se sabe, circularam como moeda no tráfico comercial no período colonial.

Ainda mais: ofereceu o mobiliário de imbuia para a sala de exposição das moedas brasileiras, que recebeu seu nome. O batismo foi procedido de correspondência entre o diretor do Museu, Gustavo Barroso, e o Ministro da Justiça, Afonso Pena Junior, No seu ofício, Gustavo Barroso diz que, entre outros doadores, Guilherme Guinle se tornou, desde a fundação do Museu, "seu incansável protetor, tendo lhe ofertado grande quantidade de objetos preciosos e uma rica coleção de condecorações e, agora, acaba de doar uma grande sala ricamente mobiliada e atapetada para a exposição das peças da numismática brasileira e todas as peças de ouro, prata e cobre que faltavam para completar a coleção". A fim de demonstrar gratidão a tão generoso doador, resolvera denominar "Guilherme Guinle" a referida dependência.

Não cessaram, porém, as contribuições do presidente da Docas de Santos. No dia 06 de setembro de 1943, ofertou ao Museu, nova coleção, agora, de medalhas esportivas, sendo: regatas, tiro ao alvo, ciclismo, futebol, water pólo, hipismo frontão, ginástica, luta romana, corrida a pé, marcha, xadrex, e ainda, medalhas maçônicas, somando ao todo 492 peças. Na mesma data, foram doadas: 368 medalhas de instrução, 844 medalhas reliogiosas e devocionais, 281 medalhas com emblemas de associações religiosas e comemorativas estrangeiras e papalinas, medalhas portuguesas (religiosas), italianas, francesas, alemãs, espanholas, gregas. E mais, 41 jetons do Brasil e 9 jetons estrangeiros, 138 reclames monetiformes, 35 distintivos diversos, 100 distintivos estrangeiros e 210 medalhas dos seguintes países: França (54), Inglaterra ( 19), Holanda (1), Bélgica (14), Espanha (14), Áustria (13), Suíça (1), Alemanha (10), Itália (12), Rússia (6), Suécia (12), Prússia (12), Portugal (4), Papado (9), Estados Unidos (12), México (1), Chile (3), Argentina (5), Brasil (18) e preconícios do Brasil (10).

No mesmo ano de 1943, conforme ainda anotações no Livro de Registro, chega ao Museu outra doação abrangendo 1.036 peças, compreendendo medalhas comemorativas, devocionais, de instrução, de exposições, insíginias de ordens honoríficas, medalhas maçônicas, medalhas comemorativas do México, Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Vaticano, Suíça, Cruz Vermelha da Suíça, Insígnias da Ordem Constantina de S. Jorge, da Ordem da Cruz de Ferro da Alemanha e da Legião de Honra da França.

Em 1944, registrou-se, ainda, novas doações de medalhas compostas de 46 peças. Ainda no mesmo ano, na página 260, as seguintes doações do grande benfeitor do Museu: medalha e estojo do Duque de Wellington, medalha da Ordem do Templários, sob o grão-mestrado do Palaport; medalhas espanholas de D. Carlos I e D. Felipe II; medalha da campanha South Africa; medalha da batalha do Marne; medalha do mérito do Internato Coração de Maria; medalha do Ano Santo ( 1935-1936).


As doações de peças históricas se iniciaram em 1924, e além das peças numismáticas, foram doadas peças de cerâmica, armaria, iconografia, mobiliário, vidraria, prataria, montaria, insígnias, indumentária e arquitetetura.


Houve, ainda, doações a outros Museus, como o Museu Imperial de Petrópolis, Museu de Arte de São Paulo e doação inclusive, para a Academia Brasileira de Letras, neste caso, de um exemplar da edição "Princips" de Os Lusíadas. Houve, ainda, uma doação do retrato de Aleijadinho ao Arquivo Público Mineiro.


Mas todas estas doações a estes outros Museus, bem como, todas as peças já relatadas anteriormente, estão devidamente citadas numa única obra, que serviu de pesquisa para a feitura deste texto. Além da parte bem descritiva de todas as peças numismáticas que foram doadas a vários Museus, existe ainda, a descrição de inúmeras outras doações a diversas Instituições. Tudo isto compilado, no Ensaio Biográfico publicado pela Companhia Docas de Santos, com título de "Ensaio Biográfico de Guilherme Guinle, 1882 - 1960", de autoria de Geraldo Mendes de Barros editado pela Livraria Agir Editora no ano de 1982.


Esta obra é Biográfica, mas todos os numismatas deveriam elegê-la, também, como uma verdadeira obra numismática, pela riqueza de informações e, principalmente, pelas relações detalhadas de todas as peças doadas aos vários Museus.


Por toda pesquisa que fiz, pelo menos até agora, não conheço um numismata de tamanha grandeza e tamanha generosidade, em doar suas coleções em vida, para as futuras gerações, aos Museus citados anteriormente.
Guilherme Guinle foi sem dúvida alguma o mais generoso dos numismatas, e com certeza, foi o maior doador de peças numismáticas aos Museus Brasileiros.


A foto acima de Guilherme Guinle, data de 1959, extraída de uma das folhas da Obra Biográfica e agora, também, elevada a Obra Numismática, que estava escondida da maioria dos numismatas brasileiros, onde relata com pormenores, toda a vida deste grande brasileiro.
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(parte deste texto foi extraído desta importante obra, entitulada de Ensaio Biográfico e agora, conhecida pelos leitores deste BLOG, como uma verdadeira obra numismática.)


Obs. Tenho alguns exemplares originais da citada obra, de 1982, com 303 páginas, onde disponibilizo aos interessados, ao preço de R$ 120,00 com postagem incluída. Aos interessados pela cultura numismática, basta solicitar-me um exemplar, pelo e-mail: abibonds@onda.com.br .




1 de nov. de 2008

A História dos Bancos na Parahyba - Livro de Eduardo Cavalcanti de Mello

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Foi uma satisfação receber um exemplar da 1ª edição do livro " A HISTÓRIA DOS BANCOS NA PARAHYBA" lançado recentemente, em edição de 2008, pelo amigo numismata e filatelista, Eduardo Cavalcanti de Mello. Este livro dá uma abordagem iconográfica e histórica da evolução dos estabelecimentos bancários no Estado e sua comparação com a evolução da economia e do sistema bancário brasileiro e mundial.

Parabéns pela iniciativa do amigo, e sempre ressaltarei da importância dos colecionadores de além de terem o prazer, no simples "colecionar", de também nestas horas, que dispendem na organização de suas coleções, o que sempre é um momento de descobertas e ao mesmo tempo de aprendizado, terão sempre um ganho expressivo em conhecimento, e poderão assim, trazer à luz numa hora oportuna, ao meio que se vive, o resultado destas pesquisas e descobertas, em forma de publicações.

Iniciativa louvável, pois, mostra claramente que o conhecimento adquirido de suas próprias coleções, pode perfeitamente ser transferido para seus colegas que tenham o mesmo interesse. Este é o verdadeiro sentido do colecionismo, ou melhor, das pesquisas que se realizaram durante meses e até anos para se chegar neste resultado.

Recomendo a todos que procurem ter um exemplar destes, em suas coleções, pois vale a pena.

Agradeço ao amigo Eduardo Cavalcanti, por franquear-me, um exemplar com dedicatória e autografo, em 28.10.08, deste seu importante e belíssimo trabalho de pesquisa. Que tenha certeza que este exemplar enriquecerá ainda mais minha biblioteca.

27 de out. de 2008

NUMISMATA, JOGADOR COM INCERTEZA NOS RESULTADOS

O numismata é uma pessoa estranha, geralmente, passa anos adquirindo peças para sua coleção, algumas vezes, resolve fazer um leilão de suas peças e sempre afirmando: "juro que não vou mais colecionar". Tão logo que suas peças são leiloadas, passa novamente a fazer novas coleções. Isto tudo, quando não vira de uma hora para outra um comerciante de peças numismáticas e assim, passa a viver deste mercado. Muitos, nestes momentos, sequer sabem se perderam ou ganharam entre suas compras e vendas.

Existe um outro tipo, que já atuou em várias atividades e já está sem muito o que fazer, e vê uma grande oportunidade de atuar num mercado para poucos, mas iluminados, e com uma certa garantia de obter um certa renda, ou até uma renda extra, na atual fase de vida e assim, atua na numismática com este fim. Tanto pode ter um final feliz, como um infeliz nos seus resultados.


Observa-se também, um outro tipo, que não depende de nenhuma forma, fazer recursos financeiros de suas peças, e este, passa apenas a comprar, comprar e comprar. Na grande maioria, é pessoa de alto poder aquisitivo, já aposentado, ou até na ativa, que não tendo mais no que investir, passa a adquirir sem muito critério de preço, e assim, faz uma grande coleção de peças raras. Mas não se importa se terá resultado positivo ou negativo no final.


Existe ainda o oportunista, aquele que vendo que dispõe de algum recurso, e não tendo mais no que investir, imagina que se comprar um estoque de peças numismáticas, a preços de atacado, acredita que vendendo estas, de forma fracionada, fará um grande investimento com um provável grande lucro. Com muita sorte consegue algum resultado positivo nesta empreitada.


Entretanto, todos, sem nenhuma exceção, já compraram gato por lebre. Quem é o numismata que não comprou determinada peça e na hora de avaliar se fez um bom ou um péssimo negócio, frustrou-se com sua compra? Alguns, até guardam grandes traumas psicológicos em suas vidas, contraídas, em sua longa ou curta fase do colecionismo numismático. Tenho amigos que guardam mágoas de alguns veteranos comerciantes, que se comportaram como verdadeiros algozes durante longos anos, e agora, é vista claramente que foi esta, a fase do "pedágio" que tiveram que pagar.


Uma coisa é certa e unânime, todos, mas todos mesmo, já pagaram por um "pedágio", seja grande ou pequeno, para aprender um pouco, digo, pouco, pois não conheço nenhum colecionador que saiba tudo e de vez em quando, não volte a pagar "pedágio" novamente, não importando até sua longa experiência e conhecimento do ramo. Vacilo, todos acabam dando, mais de uma vez neste mercado.


Por outro lado, se existe o famoso "pedágio", existe também, aquele grande negócio, que geralmente acontece de caso fortuito, na compra de algum lote, que no meio deste, sempre vem uma peça especial, que traz e faz a alegria e a felicidade de todo numismata. Parece até um prêmio nesta hora para amenizar um pouco do prejuízo, pelas peças mal adquiridas, durante ao longo dos anos.


Quase todos colecionadores têm uma história para contar, seja de frustração e ou alegria, de vacilo ou de perspicácia, vivida dentro deste mercado.


Esta incerteza, digo, sim INCERTEZA, que tanto pode inclinar para o lado da alegria ou da tristeza, é que é o grande jogo, sim, repito, JOGO, a numismática, também não deixa de ser um jogo, e como todo jogo, pode VICIAR, ENRIQUECER OU EMPOBRECER.


Mas como um JOGO, deve ser bem dosado e interpretado o exercício da INCERTEZA. Quem não conhece aquele numismata, que entrou com tudo, de ajuntador, virou colecionador, de colecionador virou comerciante, alguns até COM PUBLICAÇÃO DE CATÁLOGOS, e depois, por desgraça perdeu-se tudo e saiu do ramo?? só ficaram os catálogos.
Quem não conhece até, aqueles que já foram grandes colecionadores em algum período e hoje não querem nem ouvir falar em numismática. Aliás, se entrar nesse assunto, tem grande chance de se perder o amigo.


Com certeza, estes, também, carregam grandes traumas em suas vidas, além de terem feito uma grande carreira no mercado numismático, chegaram no ápice em determinada época, e hoje, alguns, por afastamento total do mercado, e até dos amigos, sequer sabemos notícias ou se já faleceram ou não. É um caso a ser estudado até do ponto de vista psicológico e social.


A numismática é virtuosa, para o bem ou para o mal. Conheci pessoas que há mais de 10 anos atrás, investiram grandes recursos, num consórcio de numismatas, em S. Paulo, e vendendo imóveis de suas propriedades, investiram uma pequena fortuna apostando na alta da prata, e assim, além de comprarem moedas de prata de várias origens, passaram até a comprar prataria em geral, e juntaram mais de uma tonelada do material. Passado dez anos, os imóveis triplicaram de valor e a prata, mostrou-se um mal negócio, mesmo tendo subido quase 80% do valor no período.


Isto sim que é um JOGO, neste caso, foi prejuízo, mas na mesma época, outros numismatas passaram a comprar dobrões de ouro, e estes, se valorizaram bem mais que os imóveis, subindo quase 400% de seu valor. Este é o verdadeiro JOGO do mercado, mas afinal, todo e qualquer tipo de investimento baseia-se na incerteza e a numismática não poderia ser diferente.


Aquela figura do numismata, que compra peças baratas ao longo dos anos, e que seus investimentos neste tipo de colecionismo são dosados pela compra segura de apenas uma fração de seus salários, onde passam 10 - 20 e até 30 anos, para se fazer uma coleção, está cada vez mais raro no mercado, pois até estes, no meio do caminho, desistem de tudo e vendem suas coleções e estas, certamente, quando vendidas, sempre será por preço corrente do mercado, pois comprando peças unitárias ao longo do anos, praticamente, paga-se um pedágio permanente até o final. Certamente, para estes, será aferido resultado negativo sempre, entre compra e venda.


A melhor fórmula de se fazer uma coleção, é aquela que se compra GRANDES LOTES, e se vende "parte" deste mesmo lote, assim, toda e qualquer peça que se vai acrescentando em sua coleção, esta, certamente, vai ficando subsidiada pelo lucro já auferido pelas peças que já foram vendidas. Garante-se nesta modalidade de colecionismo, a substituição permanente por peças melhores em conservação, daquelas já inseridas na coleção. Esta é a vantagem de o colecionador, nesta modalidade, ser também um comerciante, onde poderá carrear sempre as peças já descartadas de sua coleção para o mercado e de subsidiar permanentemente suas novas compras.


Aquele ditado que diz: "dinheiro faz dinheiro", aplica-se muito bem nesta atividade, mas nunca devemos nos esquecer, para segurança de todos: JOGO, INCERTEZA E RESULTADO, são inerentes da própria atividade numismática, mas, para que este resultado seja POSITIVO, e para que os riscos sejam minimizados, o estudo e o saber numismático poderão equacionar um pouco das incertezas que virão e, principalmente, da qualidade daquilo que se compra e se insere nas coleções.


Texto de Joao Gualberto Abib, inserido originariamente neste BLOG

24 de out. de 2008

CRÍTICAS CONSTRUTIVAS À ATUAL DIRETORIA DA S.N.P.

Hoje, dia 24 de Outubro de 2008, dia que acontece a Reunião Especial na sede da SNB – Sociedade Numismática Brasileira, para cujo evento fui convidado e infelizmente, por motivos de saúde, não poderei estar presente.

Também dias atrás, nos dias 16, 17 e 18 de outubro aconteceu o encontro do Clube Filatélico e Numismático de Taquara, no RS, e lá também, não pude estar presente. Uma pena, pois queria rever os amigos e colocar os assuntos em dia e não pude participar daquele tão brilhante e organizado evento do Rio Grande do Sul.

Já, no encontro do Paraná, promovido pela SNP - Sociedade Numismática Paranaense, que ocorreu nos dias 26 e 27 de Setembro de 2008, estive presente, mas infelizmente o evento ficou prejudicado de público, pois nas mesmas datas, estava acontecendo o encontro fora do calendário numismático de 2008, em Blumenau – SC, e lá, pelas notícias que tivemos, estava bem melhor que o encontro do Paraná. Deveria estar mesmo, pois são inúmeros os associados e até diretores da Sociedade Numismática Paranaense, que embora tenham prestigiado com suas presenças no primeiro dia no encontro do Paraná e já no segundo dia, estiveram no encontro de Blumenau.

Houve até comerciantes que colocaram mesa de negociação no Paraná, mas logo perceberam que a falta de público atrapalharia seus resultados e no segundo e terceiro dia, estiveram com mesa em Blumenau.

Isto tudo é um sinal, um aviso, para a atual diretoria da SNP, que mudanças devem ocorrer, e ressalte-se, mudanças rápidas e radicais.

Eu mesmo, por não ter tempo, tampouco saúde, disponíveis, achei por bem solicitar meu desligamento da Diretoria da SNP, não poderia ter agido diferentemente, pois, certamente, sentiria-me constrangido, em ter cargo de Diretoria e nada fazer pela SNP. Um cargo de Diretoria não pode ser FIGURATIVO, têm que se agir de fato, dentro daquilo que o cargo passa a exigir. Isto depende o sucesso de uma organização como a SNP.

O que eu não consigo entender, é que dentro da composição dos cargos de DIRETORIA da SNP, que sinceramente, não consigo entender a razão, tampouco a explicação, se é que há alguma explicação para tal, de alguns Diretores que muitas vezes, passam meses sem aparecer, e quando aparecem nada fazem. Patente fica para mim, que só isto, já é uma resposta do atual estágio da SNP.

Quando existe sucesso absoluto em uma organização, explica-se aquela máxima, “em time que está ganhando não se mexe”, mas em time que dá sinais de enfraquecimento a cada dia que passa, já está mais do que na hora de fazer mudanças.

Estes Diretores FIGURATIVOS e que não podem fazer algo pela sociedade, deveriam ter a hombridade de fazer o que eu mesmo fiz, peçam suas demissões, abram espaços para os que querem fazer, ou por outro lado, assumam por inteiro suas funções. Só assim, o time começará a dar sinais de força e vitalidade e com isto dar a volta gloriosa que se espera da SNP de outrora, com encontros numismáticos que ficam na história e verdadeiramente com SUCESSO garantido.


Confesso que eu pedi ao Marcos Lepca, numa destas reuniões da SNP, num sábado, que demitisse todos os diretores que nada fazem pela Sociedade, mas mesmo assim, ninguém foi demitido e tudo transcorre na mais harmoniosa PAZ entre todos os diretores da SNP e seu Presidente.

A quem interessa que tudo fique como dantes no quartel de abrantes? Para que mudanças, afinal?? Os Encontros são um sucesso absoluto. Os mesmos, a cada ano que passa está crescendo com um público cada vez maior. Os comerciantes que colocam mesa de negociação, não têm do que se queixar, pois fazem vendas fantásticas, e seus lucros cobrem todos os custos de mesa, hotel e viagens. É o ilusionismo sendo operado a todo vapor.

Nada me surpreenderia, se aos poucos, daqui por diante, os atuais membros da SNP, começassem a pedir suas baixas como sócios, pois, até 60 a 70 Reais anuais, podem fazer falta para muitos se os encontros continuarem como estão.

Só para lembrar, a SNP foi fundada em 1991 e já faz 17 anos de existência. Neste período só tivemos dois Presidentes, um, o saudoso Cícero de Lima e o atual, Marcos Lepca.

Ou mudanças acontecem rapidamente ou os acontecimentos farão as mudanças, como o esvaziamento de público, de comerciantes e até de sócios junto da SNP.

15 de out. de 2008

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO DE ALFÂNDEGA DE 1835 a 1837 - 1ª PARTE


Compreende-se o período de registro deste diário do dia 21 de junho de 1835 a 29 de dezembro de 1837, num total de 145 páginas, registradas por funcionários graduados da Alfândega de Rio Grande e de S. José do Norte na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.
Nestas 145 folhas de registro, coincide com o tempo conturbado que viveu a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, pelo movimento dos rebeldes, capitaneada pelo então Coronel Bento Gonçalves da Silva, que servindo ao Império Brasileiro, resolve se rebelar e organiza um movimento armado e político para a independência da Província e a fundação da República Rio-grandense. Sonho que durou de 1836 a 1845.
Conforme prometido e em partes, vamos publicando estes fragmentos:


PARTE I


Ilmo. Snr. Para bem satisfazer a requisição que me faz o Snr. Coronel Bento Gonçalves da Silva, cumpre que V. Sª. me informe com a brevidade possível, se o ex Presidente Braga mandou retirar desta repartição as Letras e o dinheiro arrecadado até o dia do seu embarque bem como o quanto existe em dinheiro e Letras no cofre desta repartição até hoje. Deus guarde a V. Sª. Alfândega do Rio Grande, 23 de outubro de 1835 = Ilmo. Snr. José Joaquim Leite de Castro 2º escriturário servindo de ajudante do Inspetor da Alfândega desta cidade e São José do Norte = O escrivão servindo de inspetor Antonio dos Santos Paiva.


Ilmo. Snr. = Acuso a recepção do ofício de V. Sª. datado em 22 do corrente mês e sobre o seu conteúdo cumpre-me responder quanto à primeira parte que o ex Presidente Antonio Rodrigues Fernandes Braga nenhum dinheiro levou consigo desta repartição e sim por ordem deste se despendeu em diferentes dias a quantia de 15:846$140. E quanto à segunda, que existe no cofre desta repartição até hoje 21:916$030, a saber: em dinheiro 4:699$646 e em Letras 17:216$72* por se não ter dado cumprimento a Portaria do Inspetor interino desta Alfândega como das cópias inclusas. Deus guarde a V. Sª. Alfândega do Rio Grande, 24 de outubro de 1835 = Ilmo. Snr. Bento Gonçalves da Silva, Coronel Comandante das Forças de Operações = O escrivão servindo de inspetor Antonio dos Santos Paiva.


Ilmo. Snr. = Tenho presente o ofício de V. Sª de ontem ao qual passo a responder: Não posso informar a V. Sª. se foi por ordem do ex Presidente Doutor Antonio Rodrigues Fernandes Braga que se retirou o dinheiro e Letras arrecadado por esta Alfândega até o dia do seu embarque e só sim posso certificar a V. Sª. que recebi do ajudante do Inspetor José Joaquim de Freitas uma chave de gaveta onde existia a quantia de três mil e quatrocentos réis em cobre e um fica (ilegível) por José Maria Nunes de dezessete mil e cem réis e vários papéis. O cofre se achava aberto, passei disso a fazer um inventário na presença do Juiz de Paz e mais empregados desta Alfândega, o que tudo fiz ver ao Ilmo. Snr. Coronel Bento Gonçalves da Silva, segundo a requisição do mesmo Snr. em data de 22 do que rege. O rendimento que depois tem havido dos Direitos arrecadados por esta Alfândega até hoje, soma a quantia de quarenta e dois mil, novecentos e noventa réis. E o quanto se me oferece informar a V. Sª. Deus guarde a V. Sª. Alfândega do Norte, 24 de outubro de 1835. = Ilmo. Snr. Antonio dos Santos Paiva, Inspetor interino das Alfândegas do Rio Grande e Norte = O 2º Escriturário servindo de ajudante do Inspetor José Joaquim de Leite e Castro. Registre-se. Rio Grande, 26 de outubro de 1835 = Santos.


Ilmo. Sr. = Remeto a V. Sª. as Certidões do rendimento desta Alfândega no mês próximo findo. Deus Ge. a V. Sª. Rio Grande, 7 de novembro de 1835 = Ilmo. Sr. Inspetor da Tesouraria desta Província = O Escrivão interino servindo de Inspetor Antonio dos Santos Paiva.


Ilmo. Sr. = Remeto a V. Sª. o Balancete demonstrativo do estado do cofre desta Alfândega até o ultimo dia outubro próximo findo. Deus Guarde a V. Sª. Rio Grande, 7 de novembro de 1835 = Ilmo. Sr. Inspetor da Tesouraria desta Província = O Escrivão interino servindo de Inspetor Antonio dos Santos Paiva.


Ilmo. Sr. = Para satisfazer a requisição do Sr. Inspetor da tesouraria Provincial, cumpre que V. Sª. me informe com urgência, que quantia em Dinheiro e em Letras se achava em cofre até o dia do embarque do Inspetor interino José Joaquim de Freitas e se este (ilegível) retirar da (ilegível) do cofre essas mesmas quantias. Quantos empregados dessa repartição se acham em licença do ex-presidente Braga, quantos existem com parte de doentes, quantos se acham na repartição sem empregos, que lugares ocupam esses na falta dos que se acham ausentes e o estado finalmente da escrituração desta Alfândega. Ds. Ge. a V. Sª. Alfândega do Rio Grande, 12 de novembro de 1835. = Ilmo. Sr. José Joaquim Leite de Castro, 2º Escriturário servindo de Ajudante do Inspetor das Alfândegas do Rio Grande e Norte. O Escrivão interino servindo de Inspetor Antonio dos Santos Paiva.


Ilmo. Sr. = Respondendo ao ofício que me foi dirigido por V. Sª. em data de 21 (ou 12?) do mês próximo findo remeto por cópia o ofício que recebi do 2º Escriturário que serve de Ajudante do Inspetor d’Alfândega do Norte e por ele verá V. Sª., o estado daquela repartição e quais os empregados que ali existem depois da retirada do ex Presidente Braga. E quanto a esta Alfândega despendeu-se por ordem do Ex Presidente a quantia de 15:866$140 Réis cujos documentos serão remetidos a Tesouraria em ocasião oportuna pela relação do ponto dos empregados desta mesma alfândega do mês próximo findo remetida no meu ofício de 7 do corrente. Conhecendo a V. Sª. quais os empregados que se acham licenciados e quais os que se conservam em ativo serviço, restando-me asseverar a V. Sª. que nesta Alfândega se acham os livros a ela tendentes escrituradas e em dia, como do relatório que necessariamente tem de dar a Comissão encarregada de inspecionar as Repartições de Fazenda desta cidade e Vila de São José do Norte. Melhor será V. Sª. informado. = Deus Guarde a V. Sª. = Alfândega do Rio Grande, 17 de novembro de 1835 = Ilmo. Sr. Inspetor interino da Tesouraria desta Província = O Escrivão interino servindo de Inspetor Antonio dos Santos Paiva.


Ilmo. e Exmo. Sr. = Foi por mim recebido o ofício de V. Sª. datado de 9 do regente mês o qual me convence da confiança que V. Excia. depositou no meu indivíduo, nomeando-me Inspetor das Alfândegas desta cidade e Vila de São José do Norte até que chegue o nomeado pelo Governo de S. M. o Imperador. Cumpre-me dizer a V. Excia. que submisso sempre às ordens dos meus superiores, passei no dia 23 do corrente a tomar sobre as minhas débeis forças o melindroso encargo por V. Excia. ordenado, certificando mais que, se no curso interino de minha administração não satisfazer completamente os deveres inerentes a tão importante emprego, posso desde já afiançar a V. Excia. que sobra em mim o desejo de acertar, o respeito à Lei e o amor ao meu país. = Deus guarde a V. Excia. por muitos anos. = Rio Grande, 24 de novembro de 1835. = Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Marciano Pereira (ilegível), Vice-presidente desta Província = o Inspetor interino Américo José Ferreira Cambuim.


Ilmo. Sr. = Em virtude de um ofício do Exmo. Snr. Vice-Presidente desta Província, no qual me ordena uma maior vigilância com as embarcações vindas dos Portos Estrangeiros e entrando nesta barra no dia 22 do corrente o bergantim americano Elbe e tendo eu notícia que esta embarcação conduzia moedas de cobre por contrabando mandei depositar a bordo dois guardas avulsos e dois Municipais permanentes e vendo o Capitão da dita embarcação e o Cônsul (ilegível) vir consignada as providências que havia dado a respeito, vergonhosamente tem negado aos ditos guardas até o sustento da vida o que é digno de admirar que este procedimento nasça de uma nação civilizada e tão devedora ao Brasil; por isso me vi na necessidade de mandar de terra comedoria para os ditos guardas a bordo afim de que não morressem de fome os súbditos da Nação Brasileira quando ocupados em seu serviço e espero que V. Sª. aprovará este meu procedimento e consentir que os mesmos continue afazer em idênticas circunstancias entrando esta despesa no expediente d’Alfândega respectiva. Deus guarde a V. Sª. por muitos anos. Rio Grande, 30 de novembro de 1835. = Ilmo. Sr. Joaquim Manoel de Azevedo, Inspetor interino da Tesouraria desta Província. = O Inspetor interino Américo José Ferreira Cambuim.


Ilmo. Sr. Achando-se nesta cidade um escaler que me consta custara a Nação o valor de 850$ réis e vendo eu que esta embarcação de todo se poderia perder, visto estar em princípio de ser carcomida do bicho, podendo aliás servir ainda oito para dez anos mandando-se reparar e representando-me o Escrivão desta Alfândega que tinha tencionado quanto antes Inspetor interino de mandar comprar visto a necessidade em que o dito escaler se achava, tomei por isso a deliberação com o acordo de todos os oficiais mesa, de o mandar forrar de cobre e assim mais as necessárias tintas: tudo com a maior economia possível a benefício da Nação. O que participo a V. Sª. e espero que seja aprovado este meu procedimento visto ser fundado em conservação dos bens do Estado. Deus guarde V. Sª. por muitos anos. Rio Grande, 30 de novembro de 1835. = Ilmo. Sr. Joaquim Manoel de Azevedo, Inspetor interino da Tesouraria desta Província = O Inspetor interino Américo José Ferreira Cambuim.


Ilmo. Sr. = Em virtude de informação que pude colher de que José Joaquim de Freitas, Inspetor Geral d’Alfândega de São José do Norte, atrasara por contar da Fazenda Pública, três edifícios por preços assas exorbitantes a ponto de servirem de Armazéns da mesma Alfândega com tanto escândalo e descaramento que morava no sobrado de um destes pela quantia de 40$000 réis por ano quando a Nação pagava de aluguéis pelo pequeno armazém que lhe fica por baixo, a soma de 360$000 réis anuais; julguei acertado a vista de semelhante monstruosidade determinar ao atual Inspetor José Joaquim Leite de Castro que entregasse as chaves de dois armazéns de propriedade de Serafim Ferreira da Silva e Antonio de Sá (ilegível) passando assim a Fazenda Nacional a quantia de 42$800 réis que mensalmente despendia pelo criminoso comportamento daquele Freitas cuja entrega teve lugar no dia 30 do mês corrente. Deus guarde V. Sª. por muitos anos. Rio Grande, 3 de dezembro de 1835. = Ilmo. Sr. Joaquim Manoel de Azevedo, Inspetor interino da Tesouraria desta Província. = O Inspetor interino Américo José Ferreira Cambuim.


Ilmo. Sr. = Acuso recebido o ofício de V. Sª. de 28 de novembro próximo passado que acompanhou a Ordem do Tribunal do Tesouro sob nº 59 restando-me afirmar a V. Sª. que nesta repartição somente se tem isentado da Taxa do Selo nos papéis, os despachos dos gêneros de produção brasileira exportados de umas para outras províncias = Deus guarde a V. Sª. Alfândega do Rio Grande, 4 de dezembro de 1835 = Ilmo. Sr. Inspetor interino da Tesouraria desta Província = O inspetor interino Américo José Ferreira Cambuim.


Texto Originariamente publicado no Boletim n° 34 da SNP Sociedade Numismática Paranaense - Páginas 42 a 52.


A continuação destes fragmentos serão publicados em época oportuna neste BLOG, só não é feito agora, a publicação, pelo fato de que está sendo ainda estudado e tão logo eu tenha formalizado os textos, já serão disponibilizados aos amigos leitores.



13 de out. de 2008

LIVRO DAS MOEDAS DO BRASIL 12ª EDIÇÃO 2008

Aos Caros Amigos, Claudio Amato e Irlei Soares das Neves:

Na sexta feira passada, dia 10 de Outubro de 2008, confirmei meu interesse em fazer um anúncio na 12ª Edição do Livro das Moedas do Brasil, que se espera sair sua publicação, ainda, antes do término deste ano. Um acontecimento de suma importância, esta renovação de catálogos, e já estava na hora, pois a 11ª Edição foi no ano de 2004.

Quero dizer da simbologia para mim, como numismata profissional, que atua na compra e venda de moedas, cédulas, medalhas, e outras curiosidades numismáticas, de quão importante é estar presente neste mercado e, principalmente, com anúncio neste tão conceituado catálogo, assim como, com anúncio já publicado no catálogo das Cédulas do Brasil, editado pelos mesmos amigos, em edição de 2007.

O amigo Cláudio Amato, em 02 de Setembro de 2008, honrou-me com sua visita no meu BLOG, http://www.abibonds.blogspot.com/ , na matéria sobre a IMPORTÂNCIA DOS ENCONTROS NUMISMÁTICOS, postada neste BLOG, no dia 28 de agosto de 2008, e desta forma, passou-me um e-mail dizendo: “ Abib V. acabou de dar em primeira mão, a notícia do lançamento da 12ª Edição. Gostaria que V. e seus amigos nos enviassem sugestões para o aperfeiçoamento do Catálogo, pois apesar de sermos os autores, o Livro pertence aos colecionadores brasileiros. Abraços, Claudio Amato”.

Primeiramente, fiquei pensando muito sobre sua missiva, e logicamente, que para mim foi uma honra ficar sabendo de Cláudio Amato, um dos editores, que fui eu que dei a notícia, “em primeira mão”, mesmo que em BLOG, sobre a edição do Catálogo de 2008. Mas, ao mesmo tempo, minha responsabilidade ficou ainda maior, pois ele na missiva, pedia sugestões para o aperfeiçoamento da tão esperada edição.

Nada fiz a respeito, embora, fiquei muito pensativo sobre o que eu poderia ou deveria fazer, sugestionando ou não, alguma coisa. Mas, ao mesmo tempo ponderei sobre o que é na verdade o Livro das Moedas do Brasil, na atualidade.

Bem, um livro para mim, é como uma obra de arte, somente o artista deve fazê-lo, e aos críticos de arte, cabem analisar e opinar a grandiosidade ou não da obra. Desta forma, achei por bem em respeito a este meu entendimento, não fazer nenhum sugestionamento sobre o aperfeiçoamento desta grandiosa e importante edição.

Mas lembrando sobre a importância que teve e sempre terá em minha vida, como numismata que sou, ao adquirir como primeira obra, o LIVRO DAS MOEDAS DO BRASIL, e acreditando, que tanto para mim, como para muitos outros numismatas, esta importância deu-se da mesma forma, e marcou nossas vidas. Sendo a primeira obra numismática adquirida, foi assim, a porta de entrada para o conhecimento, foi ainda, pelas pequenas, digo, pois são tão pequenas as distorções existentes nesta obra, e elas, sem dúvida alguma, aguçaram-me ainda mais a sede de conhecimento, para me tornar um colecionador e leitor assíduo de variadas obras numismáticas, e assim, hoje, ter o conhecimento que tenho, sobre nossa numismática brasileira.

Tudo isto, posso afirmar, que devo ao Livro das Moedas do Brasil, pois, introduziu-me neste mundo fantástico, que é a numismática. Esta obra, sempre será lembrada, como àquela que me franqueou a abertura para as demais obras existentes sobre numismática no Brasil, a que deu o pontapé inicial para o aprofundamento do conhecimento sobre numismática, esta seara de informações, que a cada dia mais, fascina a todos os estudiosos do assunto, e que hoje tenho a honra de poder participar.

Por isso tudo, meus amigos, Cláudio Amato e Irlei Soares da Neves, esta obra só deve sofrer alguma alteração, se os artistas o assim quiserem, a importância dela em nossas vidas já é patente, e em nada que se mude agora, perderá a importância que já tem e sempre terá no mundo numismático brasileiro.

Desta forma, só poderia eu, agradecer por participar como anunciante neste catálogo, LIVRO DAS MOEDAS DO BRASIL – 12ª Edição e concordar com o Cláudio Amato, “este livro já pertence aos colecionadores brasileiros” e eu complementaria, ainda, “aos também, amantes da numismática brasileira”.

Saudações e sucessos aos Caros Amigos editores, Cláudio e Irlei.

9 de out. de 2008

FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO DE ALFÂNDEGA DE 1835 a 1837 - INTRODUÇÃO

Foi primeiramente uma grande emoção e prazer adquirir há mais de um ano, de um comerciante de antiguidades da cidade de Pelotas, um diário de alfândega, no caso do porto da cidade de Rio Grande, na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Compreende-se o período de registro deste diário do dia 21 de junho de 1835 a 29 de dezembro de 1837, num total de 145 páginas, registradas por funcionários graduados da Alfândega de Rio Grande e de S. José do Norte na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul.

Nestas 145 folhas de registro, coincide com o tempo conturbado que viveu a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, pelo movimento dos rebeldes, capitaneada pelo então Coronel Bento Gonçalves da Silva, que servindo ao Império Brasileiro, resolve se rebelar e organiza um movimento armado e político para a independência da Província e a fundação da República Rio-grandense. Sonho que durou de 1836 a 1845.

Mas afinal, o que interessa para a Numismática Brasileira estes fatos registrados? Pois bem, nestas 145 páginas registradas naquele período, é riquíssima em registros sobre moedas FALSAS de COBRE, sobre o recebimento das cédulas do troco do cobre e sua posterior devolução ao Rio de Janeiro. Razão pela qual, pouquíssimas cédulas desta Província se tem notícia na mãos de colecionadores e estes registros dão resposta satisfatória para a CIÊNCIA Numismática e quando publicado entrará para os Anais da Numismática.

Existe ainda registro de entrada de patacões por aquela Província, dando nome dos Navios e suas origens. Registra inclusive o dia, o nome do Navio e nome do Comandante que por determinação do Império, levou de volta as cédulas do troco do Cobre de volta ao Rio de Janeiro, e as razões que levaram a esta determinação.

Todas estas DESCOBERTAS, através desta documentação histórica, será publicada aos poucos no Boletim da Sociedade Numismática Paranaense, de forma simples e direta, mostrando imagens dos fragmentos e sua digamos assim, tradução, para um melhor entendimento destes fatos registrados.

Neste período também, está registrada a primeira máquina a vapor que entrou na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, dando dia e a origem de qual País foi importada e outros detalhes mais.

Este trabalho que será divulgado aos poucos, é um exemplo da importância da PESQUISA sobre novos fatos da Numismática Brasileira. Deve sempre ser incentivada e fomentada, pois pode corrigir ao longo dos tempos, distorções históricas, com novos registros sobre estas novas descobertas.

É este tipo de pesquisa que pretendo obter através de premiação pelas sociedades Numismáticas, aos estudantes de último ano de Direito, História e Economia junto as Universidades do Paraná. (vide matéria sobre Numismática neste mesmo Boletim). ( Boletim 33 Dezembro/2007 da SNP).

Por isso conto com a participação direta de todos os associados da SNP, para que consigamos completar o fundo de doações de que precisamos todos os anos, para a premiação de novas pesquisas em Numismática.

Já no próximo boletim, publicaremos a primeira parte das descobertas, dos FRAGMENTOS DE UM DIÁRIO DE ALFÃNDEGA de 1835/1837.

Obs.: Texto originariamente publicado no Boletim de n° 33 da SNP - Sociedade Numismática Paranaense em Dezembro de 2007, folhas 11 e 12.

2 de out. de 2008

O CAPITALISMO NUNCA MAIS SERÁ O MESMO




Sobre a crise financeira mundial, com as quebras de vários bancos ao redor do mundo e principalmente nos Estados Unidos da América e até, alguns da Europa, penso eu, que com esta ajuda financeira de 700 Bilhões de dólares que será injetada nos bancos americanos, que até ontem era uma esperança, e hoje está mais perto da realidade, pois, já foi aprovada pelo Senado Americano ontem à noite, e certamente, também, vai ser aprovada nos próximos dias pelo Congresso, será a maior interferência de um Governo sobre o capitalismo mundial.


O que se pensa ser uma ajuda e a eliminação dos problemas, poderá causar mais aborrecimentos do que solução propriamente dita. Afinal, os investidores aplicam seu dinheiro em EXPECTATIVAS de mercado e estas, foram QUEBRADAS.


Desde a adoção do atual capitalismo no mundo todo, um sistema complexo e que se ajustava pelo MERCADO, a cada minuto e a cada hora e que sobrevivia de quebras em quebras, e que se ajustava novamente, trazendo ordem ao caos a cada momento de crise, foi colocado em "xeque" (de xadrez mesmo), agora, pelo governo americano.


O que o mundo vai contemplar mesmo, é a quebra de solução que um MERCADO com a inerência do próprio sistema então vigente, poderia oferecer, como por exemplo, a absorção destes bancos que foram a BANCARROTA, por outros bancos com dinheiro em caixa e investidores ao redor do mundo, que estavam de plantão e à espera de oportunidades para farejar e abocanhar bons negócios e que já haviam começado a fazer novos investimentos com estas novas oportunidades que surgiam, e assim SOLUCIONARIAM-SE os problemas. Como exemplo, cito o investimento de um grande investidor americano, no auge da crise na semana passada, no valor de 5 Bilhoes de dólares em um banco americano que acabou sofrendo com uma quebra.


Não podemos esquecer que mesmo com perdas ou ganhos, o ajuste sempre ocorria e o próprio mercado absorvia o resultado negativo ou positivo, que diluído entre vários investidores, sempre passávamos por estas turbulências.




Era o CAPITALISMO agindo de forma natural, onde as oportunidades de novos investimentos surgiam a cada momento e a mobilização financeira mundial já de plantão, diagnosticava aonde poderia injetar recursos, e o sistema se ajustava por si só. Ou melhor, o próprio MERCADO se encarregava de se ajustar.


Isto era ( sim era, falo no passado) o puro capitalismo que vivíamos, quando alguns setores da economia quebravam e não falo somente de BANCOS, mas de INDÚSTRIAS e empresas de COMÉRCIO em geral, quando estes segmentos quebravam, abriam-se novas possibilidades para novos investidores ao redor do mundo.


Tudo isto será quebrado com esta injeção de recursos no SISTEMA FINANCEIRO MUNDIAL, onde com o tamanho de injeção de recursos, premia-se àquele investidor que corria o RISCO, mas também em caso de perdas, abria-se novas oportunidades a outros investidores e assim sucessivamente. Afinal, perder ou ganhar, era inerente aos riscos que se corria no atual (agora passado) estágio do capitalismo vigente.


Esta é minha opinião como um LEIGO, pois afinal, não possuo nenhum conhecimento aprofundado sobre o capitalismo e sobre as economias mundiais, mas sempre fui muito intuitivo, e assim, sempre pude optar em qual caminho seguir.


Se como leigo, tenho esta opinião NEGATIVA sobre esta injeção de recursos na economia mundial, arrisco até em afirmar pelo pouco que conheço, que em nada vai interferir esta montanha de dinheiro para a crise internacional que se instalou, pois pelas observações, esta crise que estamos ainda COMEÇANDO, sim é o INÍCIO da crise, pois, como o mercado busca investir em expectativas, e estas, foram quebradas com esta injeção de recursos, o que o mercado consertaria por si só, deixa de ser uma oportunidade de negócios e passam a ser, estes bancos socorridos, apenas observados, sem interferência e aposta do mercado.


Com apenas esta observação pelo mercado, daqui por diante, estes bancos socorridos, serão olhados com uma certa reserva pelos investidores, como ainda, doentes terminais, e com esta ajuda governamental, apenas um rémedio, mas sem uma solução definitiva e alijada do mercado, estes bancos socorridos, ficarão com uma patente desconfiança pelos investidores e sucumbirão mais dias ou menos dias.


O mercado capitalista mundial nunca mais será o mesmo, pois o que se vai ver e é muito natural, pelo quadro que se apresenta, é que os investidores busquem novas aplicações para seus recursos e em novos mercados, e acabarão desta forma, fugindo do mercado financeiro.


Oferta de dinheiro como vimos até agora no Brasil, com financiamentos a longo prazo para compra de veículos, de até 72 meses, certamente, reduzirar-se-ão para patamares mais plausíveis, talvez de 24 meses e pela escassez de crédito que ocorrerá, com novos critérios para os tomadores e juros mais elevados.


Aposto na elevação dos preços dos metais, (ouro, prata, cobre, ferro e etc,) pois estas aplicações como não houve interferência, ainda, do governo americano, tornar-se-ão um jogo salutar, afinal, nós seres humanos, sempre procuramos o risco, afinal risco e grandes lucros sempre andam juntos, e os metais ainda oferecem este jogo e com uma grande oportunidade de lucros, nesta hora de crise. Aposto também, nas altas dos imóveis em geral, e consequentemente, nos aluguéis.


A inflação será inevitável ao redor do mundo, afinal, injeção de capital ( falo dos 700 Bilhões de dólares) não deixa de ser uma emissão de dinheiro e estas, como todos sabem, sempre causam inflação, mas certamente, na casa dos dois dígitos anuais em vários Países.


Desemprego em consequência do fechamento de vários negócios ao redor do mundo, ocorrerá com certeza, mas nada que um ajuste natural de mercado não absorva em várias outras atividades criadas, esta leva de mão de obra disponível.


As bolsas, mesmo com esta injeção monstruosa de recursos continuarão caindo, contra toda a lógica, pois afinal, as expectativas foram quebradas, e estas, eram a grande vertente da sustentação dos investimentos.


Assim, caminhará a humanidade, e encontrará novas formas de sobrevivência, mas que o CAPITALISMO NUNCA MAIS SERÁ O MESMO, isto com certeza não SERÁ.



Texto de Autoria de João Gualberto Abib - Originariamente postado neste BLOG.

28 de set. de 2008

O QUE REPRESENTA O PASSADO EM RELAÇÃO AO FUTURO, PARA A NUMISMÁTICA BRASILEIRA?


Exercitando o pensamento, e dar uma resposta simples, curta e direta, sobre o que representa o passado em relação ao futuro, ficamos com a definição de que no futuro, o passado representa apenas e tão somente, as nossas lembranças.


Ou melhor definindo, as lembranças já são o passado. Do ponto de vista numismático, para que num futuro haja estas lembranças, vivas, é de suma importância que os relatos sejam publicados, e de preferência nos Boletins das Sociedades Numismáticas, só assim, preservaremos esta memória dos fatos passados, para as gerações futuras.


Recebi no encontro da Sociedade Numismática Paranaense, que se realizou, nos dias 26 e 27 de Setembro de 2008, o Boletim de nº 35 daquela sociedade, a qual tenho a honra de participar, e para minha surpresa e felicidade, todos os textos que enviei, a partir deste BLOG, foram publicados naquele Boletim. Uma publicação exemplar, de apresentação gráfica moderna e de excelente bom gosto, deixando para trás aquelas publicações tupiniquins que os associados estavam recebendo a cada edição do Boletim da SNP. Tínhamos um conteúdo excelente até então, e uma forma gráfica de publicação, que deixava a desejar. De agora em diante, contempla-se boas matérias, com exímia apresentação.


Quando pedi meu afastamento da Diretoria de Divulgação, por falta de tempo para dedicação, o Marcos Lepca, Presidente da Sociedade, ainda demorou algumas semanas para encontrar a pessoa certa para que viesse a assumir esta importante missão, mas foi feliz em nomear o Sr. Ederson Sobânia, também membro de SNP, o qual parabenizo pela edição deste Boletim, pois foi e será um marco histórico, uma divisão de aguas, entre o VELHO e o NOVO boletim da SNP.

Mas voltando ao assunto inicial, em que no futuro, o passado representará apenas e tão somente lembranças em nosso pensamento. Já do ponto de vista numismático, temos que fazer de tudo para que os estudos já publicados, desde de 1933 pela SNB, até agora, e pelas outras sociedades numismáticas, através de seus Boletins, e até por publicações autônomas, de numismatas, bem como de todos os catálogos numismáticos publicados até então, que digamos assim, este conjunto de obras, forma-se em definitivo os verdadeiros ANAIS DA NUMISMÁTICA BRASILEIRA, existentes até agora.
Mas deseja-se que todas estas informações não se percam e ao mesmo tempo, sejam compiladas de uma forma lógica, para que num momento de pesquisa, seja de fácil acesso a todos. Este é um grande desafio que paira sobre os estudiosos da numismática brasileira.

Já estamos trabalhando numa reunificação de matérias publicadas sobre diversos assuntos, desde a origem da numismática brasileira até ao presente, e esperamos, que com esta reunificação, aos poucos sendo divulgadas, em matérias de Boletins, ou em publicação neste BLOG, ou talvez, até, numa publicação em Livros, passaremos a entender melhor sobre tudo o que aconteceu de forma histórica, mas de uma forma racional e bem embasada, sempre do ponto de vista numismático.

Se faz necessário esta reavivação de memória, pois como tivemos várias publicações nos seus variados Boletins, publicados por diversas sociedades numismáticas, algumas das quais, nem existem mais, e se pegarmos um único assunto, como por exemplo: A CRIAÇÃO DO PATACÃO 960 RÉIS, vamos nos deparar, certamente, com informações conflitantes e até com algumas, que sem nenhum critério de avaliação histórica, nos faz acreditar uma coisa, e na verdade pode ser apenas o exercício exacerbado do pesquisador que nos levou a acreditar numa mentira que passou a ser verdade.

Para aguçar um pouco mais, e despertar a curiosidade, sobre a importância da revisão destas matérias até então publicadas, e seus conflitos históricos, vou citar apenas uma: A questão de que D. João VI chegou ao Brasil e criou o 960 Réis com a finalidade de lucrar uma diferença entre um valor e outro em relação aos 8 Reales, para sustentar a Corôa e a grande maioria dos nobres que vieram com ele para cá. Carece de estudo lógico esta afirmação e tudo vai ser desvendado a seu tempo. É sobre estas lembranças que se deve dar um ordenamento histórico e lógico.

O passado representa também o futuro. Lógico que tudo o que se publicou em Numismática no Brasil, é hoje um vasto acêrvo de pesquisa, mas a comparação de um mesmo assunto sendo analisado também do ponto de vista histórico, econômico e cultural, pode nos trazer à tona o conflito das informações.

Esta reunificação dos assuntos, será também um marco, assim como o dispêndio para sua divulgação, mas enquanto houver forças físicas e mentais, e porque não, até financeiras, estes estudos aos poucos serão publicados. Pode-se demorar dias, meses, anos ou décadas, para se alcançar este objetivo, mas em nada se alterará esta determinação.

Assim se deseja construir uma verdadeira numismática no Brasil, pois não podemos esquecer jamais: a numismática é uma ciência, e como tal, deve ser reconhecida e acima de tudo, estudada, e principalmente, que todos os estudos sejam divulgados em forma de publicações.

Para finalizar: se as lembranças já são fruto do passado, que ao menos estas lembranças sejam corretas, e principalmente, construídas de forma racional, bem embasadas históricamente e que não sejam no futuro, como agora, contestadas em alguns aspectos.


Texto de autoria de Joao Gualberto Abib - Originariamente publicada neste BLOG.

25 de set. de 2008

CAROLUS III, CAROLUS IV E FERDIN VII - MAS AFINAL, QUEM FORAM AS TRÊS FIGURAS?

De tanto examinar com lentes de aumento, na finalidade de certificar recunhos, dos nossos patacões 960 Réis e sempre se deparar com busto de Carolus III, com certa escassez, e Carolus IIII, na grande maioria comum e com extrema raridade quando aparece com a grafia CAROLUS IV e ainda, com FERDIN VII, na grande maioria comum e com certa escassez FERDINANDUS VII e com certa raridade quando aparece FERDND VII e FERDIND VII, achei por necessidade pesquisar sobre estas três figuras, na verdade sobre estes três que foram Reis da Espanha.

Agora que já faz parte de nosso cotidiano observar seus bustos nas moedas que examinamos, foi assim interessante pesquisar e saber algo sobre eles. Encontramos suas biografias publicadas no Catalogo de Monedas de Plata, Columnarias y de Busto – Ceca de Potosi 1767 a 1825, de autoria de Oscar Marotta e Miguel A. Morucci Buenos Aires – Argentina, 1995. Livro editado na língua espanhola.

Solicitei assim, ao meu amigo Roberto Keller, também membro da Sociedade Numismática Paranaense e que trabalha em colaboração comigo, que traduzisse estas Biografias do espanhol para o português e achei por bem, solicitar a SNP a publicação destes textos biográficos.

Lendo as Biografias, chama a atenção: “Carlos III era robusto, com a sua feiúra agravada por um enorme nariz”, coisa que constatamos todos os dias, mas leiam abaixo e descobrirão outras coisas bizarras sobre estes três Reis da Espanha e ou sobre os três “FIGURAS”.

BIOGRAFIA - CAROLUS III

Nasceu em Madri em 20 de janeiro de 1716 como filho mais velho de Felipe V e de sua segunda esposa, Isabel de Farnesio. Por causa da guerra de sucessão na Polônia, entrou em Nápoles e logo depois de renunciar aos Ducados de Toscana, Piacenza e Parma, converteu-se em Rei de Nápoles e das duas Sicílias, de 1734 até 1759. Sua etapa napolitana deu-lhe uma sólida formação cultural e uma proveitosa experiência, incentivando as escavações arqueológicas de Pompéia, tornando-se fã das Belas Artes, especialmente a gravação e sendo muito amado por seus súditos.
Em 10 de agosto de 1759 converte-se em Rei da Espanha aos 43 anos, sucedendo no trono a seu irmão biológico, Fernando VI. Havia se casado em 1736 com Maria Amália de Sajonia com quem teve vários filhos, o segundo dos quais, Carlos Antonio, sucedeu-o no reinado em 1788 como Carlos IV. Carlos III era robusto, com a sua feiúra agravada por um enorme nariz, de inteligência mediana e fã de caçadas, dos estudos de economia e de temas agrícolas e industriais.
Seu reinado é o mais característico dos chamados Déspotas Esclarecidos e apesar de sua política exterior não ter sido favorável à Espanha, na política interna, alguns ministros discretos que o serviram ajudaram-no a sanear a administração, manter a economia e favorecer a cultura. Com respeito à moeda, não houve reformas importantes na Espanha, salvo a introdução dos maravedis de cobre de 1770, cuja vigência chegaria até a metade do século XIX. Em 1771 regulou-se a Lei do Ouro, que passou de 22 para 21,42 quilates: na prata, baixou-se a Lei de 11 dinheiros para 10 dinheiros e 20 grãos e as marcas de ensaiador, valor e casa de cunhagem passaram para o reverso. Foi importante a unificação do valor da Onça em 320 reais de vellon, como a que teria na América Hispânica em 1779. Carlos III cunhou com o título de Carlos IV em Navarra. Também é importante, apesar de não se conseguir praticar totalmente, a disposição de mandar retirar da América, toda a moeda macuquina. Na Casa da Moeda de Potosí, produz-se a cunhagem das “Colunárias” de mundos e mares desde 1767 até 1770, sendo logo substituídas em 1773 em cumprimento de uma Cédula Real de 18 de março de 1771 e Pragmática de 29 de maio de 1772, por novas peças com o busto real “a la romana”.


BIOGRAFIA - CAROLUS IV

Nascido em Portici, Nápoles, em 11 de novembro de 1747 e era filho de Carlos III e de Maria Amália de Sajonia. Contraiu matrimônio com a sua prima Maria Luisa de Bourbon-Parma em 1765, tiveram 13 filhos, um dos quais, Fernando Maria, sucedeu-o no trono da Espanha como Fernando VII. Carlos IV converteu-se em Rei da Espanha em 14 de dezembro de 1788 aos 40 anos de idade, por incapacidade de seu irmão mais velho Felipe. O rei era robusto de corpo, porém fraco de caráter, pouco inteligente, fã de música e dos trabalhos manuais; sua esposa Maria Luisa era ambiciosa, carecia de beleza física e de dotes morais. Carlos IV costumava deixar o governo em mãos alheias e seu reinado significou a dissolução do extenso mundo onde a Espanha reinava: um império que compreendia as Américas (exceto o Brasil) e no norte, a Luisiana, Arizona, Novo México e México além de extensos territórios na Oceania. Recebeu um país empobrecido pelas guerras, oscilando entre as ambições da Inglaterra e França e sua política não foi a mais acertada para recuperar a solidez econômica. Não enfrentou os desdobramentos das mudanças provocadas pela Revolução Francesa e pela Independência dos Estados Unidos. Goya, o grande pintor daqueles tempos, refletiu cruamente o caráter e o aspecto físico de Carlos IV e sua família no célebre quadro do Museu do Prado. Finalmente, em 1808 acontece o motim de Aranjuez que obrigou o Rei a abdicar em favor de seu filho Fernando em 19 de março de 1808: exilado na Itália, nunca mais voltou para a Espanha já que seu filho Fernando VII proibiu-o e morreu em Nápoles em 19 de janeiro de 1819. As moedas cunhadas por Carlos IV continuaram como as que já existiam, com as alterações lógicas de busto e inscrição; as emissões de ouro e prata foram normais em Madri e Sevilha. Na América fizeram emissões irregulares e póstumas em 1789 e 1790 com o busto de Carlos III e a legenda “CAROLUS IV”, pelo falecimento do monarca anterior, passando-se vários meses até Potosi receber os cunhos com a efígie do novo rei. Também continuou circulando a moeda macuquina devido à escassez das de busto; esta série começou em 1794 em Potosi, com a emissão de uma moeda pequena e diferente, o quartilho; em 1778 cunharam-se nesta mesma casa da moeda as primeiras peças de ouro de 1-2-4 e 8 Escudos(Onça).


BIOGRAFIA - FERDINANDUS VII

Nasceu no Escorial em 12 de outubro de 1782 e era o filho mais novo de Carlos IV e de Maria Luisa de Parma. Casou-se quatro vezes: em 1802 com Maria Antonia de Nápoles de quem enviuvou em 1806, logo voltou a contrair matrimônio em 1816 com Maria Isabel de Bragança; em 1819 casa-se com Maria Josefa Amália de Sajonia que morreria em 1829 para finalmente casar-se pela quarta vez, no mesmo ano, com sua sobrinha Maria Cristina de Nápoles, que assim que o rei faleceu, em Madri no dia 14 de setembro de 1833, garantiu que a filha deste casamento, a infanta Maria Isabel, seria a futura Rainha da Espanha como Isabel II. Fernando VII cresceu aborrecendo e tramando contra seu pai e sua mãe, com o motim de Aranjuez conseguiu destrona-los e converteu-se no Rei da Espanha em 19 de março de 1808. Os primeiros anos transcorreram sob o domínio de Napoleão que era o verdadeiro senhor da política espanhola; refém em 1814, após a guerra da independência, pode regressar a Espanha para retomar o poder. Entre 1814 e 1820 desenrola-se o período marcado pelo absolutismo de Fernando, perseguindo aos liberais que defendiam a constituição de 1812; finalmente em 1820, depois de uma série de agitações revolucionárias, conseguem que o rei jure a constituição, abrindo um período de 3 anos de obediência fingida por parte do rei. Em outubro de 1823, depois de Fernando conspirar com as potências da Santa Aliança, conseguiu que um exército francês invadisse a Espanha e devolvesse os poderes absolutos, como monarca. Iniciou-se então, a chamada “década vergonhosa” que foi de 1823 até 1833, em que se registraram movimentos absolutistas incentivados pelo clero e pelo seu irmão Carlos que se anunciava como seu sucessor. Porém, seu ultimo casamento acabou com as pretensões deste. Não houve novidades nas cunhagens de Fernando VII em Madri e Sevilha até a guerra da independência. Em 1818 autorizou-se a circulação de moedas francesas que estavam em curso no país. As mudanças aconteceram na etapa constitucional, com a cabeça desnuda do rei e mudando a redação em latim para castelhano “Por la gracia de Dios” a que se acrescentou “y la constitución”. Valencia emitiu uma bela peça obsidional e emissões semelhantes apareceram em Mallorca e outras casas de cunhagem, o que produziu uma quantidade variada de retratos de Fernando VII. Na Casa de Cunhagem Imperial de Potosi continuaram as peças de busto com o novo monarca sendo que nos primeiros anos (1808 e 1809) só a fizeram em 2 e 8 reales; quando Fernando VII se afirma no poder após as guerras napoleônicas, regulariza-se a emissão de todos os valores (1/2 – 1 – 2 – 4 e 8 reales) em Potosi, a partir de 1816 indo até 1825, ano da independência da Bolívia. As peças de ouro de 1 – 2 – 4 e 8 Escudos com o busto de Fernando VII só foram cunhadas em 3 anos, de 1822 a 1824.
Texto: JOAO GUALBERTO ABIB – Numismata, Membro da SNP e da SNB. Publicado originariamente no Boletim n° 29 de agosto de 2006 da SNP.

23 de set. de 2008

960 RÉIS - UM ENIGMA SEMPRE A SER DESCOBERTO

Uma grande paixão de alguns colecionadores é colecionar os 960 Réis. Moeda brasileira cunhada entre 1809 a 1834, conhecida entre todos como patacão ou três patacas.

A curiosidade e o enigmático nestas moedas é que entre 1809, na verdade entre 1810 a 1827, pode-se afirmar que talvez mais de 99% delas foram recunhadas sobre moedas Hispano-Americanas e outras que falaremos mais adiante. A exceção da regra é encontrar 960 Réis que não foram cunhados sobre outras moedas, quando encontrado nesta classificação, são chamados de “ disco próprio” e não deixa de ser uma raridade, ou ao menos uma escassez.

Sendo assim, o enigma, a curiosidade e a grande riqueza, está em afirmar certamente, que não existe neste período de recunho nenhum PATACÃO, um igual ao OUTRO. São peças únicas, mesmo as quais coincidem as mesmas variantes e os mesmos recunhos. Sempre haverá algum detalhe que não bate com o outro patacão na sua comparação. Todas são peças únicas como os mais belos quadros e obras de arte existentes no mundo. Nestas condições é que sempre são estudados ao longo dos anos, definindo-se suas variantes e a origem das moedas base.

Esta condição sui-generis, eleva o patacão 960 Réis de talvez, ser a moeda dentre todas do Brasil, a mais estudada ao longo dos anos, pelos numismatas e estudiosos do assunto há pelo menos 150 anos. Basta pegar em mãos e já desperta a curiosidade natural de observação. Pelas ranhuras, espera-se detectar a moeda base, pelo desenho, quer se descobrir as variantes e assim a exploração da descoberta se inicia.

Quanto ao diâmetro e peso, também variou muito durante todo período de recunho. Observa-se a existência de diâmetros entre 37 a 44 mm., mas que oficialmente deveria ter somente 40 mm. Observa-se peso que varia também entre 23 a 30 gramas de peso, mas que oficialmente deveria pesar somente 27 e 28 gramas em certos períodos. Temos ainda o teor da Prata, que em alguns períodos tinham teores de 917, 896 e 900.

Quanto aos recunhos conhecidos, foram a grande maioria, sobre moedas de 8 Reales Hispano-Americanos, tipo busto, Carolus III, Carolus IIII e Ferdin VII, Reis da Espanha. Sendo os de Potosi, atual Bolívia; Lima do Peru; Cidade do México; Santiago do Chile; estes citados são os mais comuns. Os mais raros são os de Nueva Guatemala atual Guatemala; e o extremamente raro os de Popayan da atual Colômbia. Os considerados não menos raros, temos do “Peru Libre” entre 1822 e 1823 e mais raros ainda sobre “República Peruna” entre 1825 e 1826, embora alguns considerem o “Peru Libre” mais raro que “República Peruana”.

Teve também os classificados como escassos, os sobre 8 Reales e 8 Soles de Províncias Del Rio de La Plata atual Argentina onde aparecem somente em dois anos os de 1813 e 1815, conhecido como “Sol Argentino”. Nesta categoria de escasso aparecem sobre 1 Peso do “Chile Independiente”, ocorridos entre 1817 a 1823, embora sobre estas moedas da República do Chile pudessem ser encontradas até 1826. No México também, além da casa de cunhagem da Cidade do México, tinham as casas de Durango; Guanajuato; Zacatecas; Guadalajara, esta casas, exceto a de cidade do México são escassas e raras, mas verdadeiras raridades são as ocorridas no Império de Itúrbide – Augustinus, que durou menos de um ano, contudo teve moedas cunhadas entre 1822 e 1823, e as da República Mexicana cunhadas somente em três anos, 1823, 1824 e 1825 em três casas Cidade do México, Guanajuato e Durango.

Já as Hispano conhecidas como moedas Espanholas, tiveram moedas cunhadas nas casas de cunhagem de Madri; Sevilha; Valencia, Catalunha, Cádiz e Barcelona. As mais raras destas da Espanha são as de Valência, Barcelona e Catalunha e a escassa sobre Madri Cunhagem de Vellón entre 1809 a 1813, com busto de J. Napoleão.

Tivemos ainda alguns recunhos extremamente raros sobre 1 Dóllar Americano de 1798 e 1799, sobre moedas Francesas, 1 Ecu Luís XVI de 1790, sobre 5 Francs Napoleão 1º Cônsul ano 12 de 1803 e 1804, 5 Francs Napoleão Impedor de 1812 e 5 Francs Luís XVIII de 1814, sobre moedas Italianas, 1 Tallero Pietro Leopoldo – Toscana - de 1784 e 5 Liras Reinado de Napoleão de 1812. Temos ainda sobre Áustria, 1 Thaler Maria Theresa 1780 e sobre um ducado de 1805 de República Batava (província Utrecht) e Holanda sobre 1 ducado de Holanda Unida 1771 e 1791 e sobre 1 patagon Brabante talvez de 1710. E provavelmente sobre outras moedas ainda desconhecidas e não relatadas; razão do estudo contínuo e prazeroso de muitos numismatas ainda nos dias de hoje.

De todos os estudos sobre os “recunhos” dos 960 Réis no Brasil, opino que o melhor deles é o Livro de David André Levy e de seus colaboradores; estudo amplo sobre a matéria de recunhos e recomendaria que todo colecionador e numismata aficcionado dos 960 Réis, deveria ter um exemplar sempre as mãos para consulta, livro este, lançado com somente 500 exemplares no ano de 2002.

Já sobre as “variantes” dos 960 Réis com Letra Monetária “R” recomendaria o Livro Catálogo descritivo dos patacões da Casa da Moeda do Rio, Volume I e Volume II, do saudoso numismata Lupércio Gonçalves Ferreira editado em 1981, com somente 500 exemplares numerados e rubricados pelo autor de 001 a 500.

Quanto sobre as “variantes” dos 960 Réis com Letra Monetária “B” recomendaria o Livro Catálogo Descritivo dos 960 Réis da Casa da Moeda da Bahia, dos numismatas, José Serrano Junior e Flávio Barbosa Rebouças, lançado em 2003, cujo trabalho, veio a atualizar as variantes já identificadas pelo saudoso numismata Renato Berbert de Castro, em seu trabalho editado em 1970.

Até aqui, foi feito um pequeno resumo sobre o Patacão ou Três Patacas ou 960 Réis, como queiram chamar. Deixamos de fora ainda qualquer comentário sobre carimbos e moedas base carimbadas, que também serviram como base dos nossos Patacões, pois se adentrássemos mais, neste assunto, mereceria outro texto. Também não falamos sobre todas as casas de cunhagem dos 960 Réis. Assuntos que ficarão para uma próxima oportunidade.
Publicado originariamente no Boletim n° 29 de Agosto de 2006 da SNP.
Texto de autoria de João Gualberto Abib, Numismata sediado em Curitiba- PR e membro da SNP - Sociedade Numismática Paranaense e da SNB - Sociedade Numismática Brasileira.