16 de fev. de 2010

RÉPLICAS CHINESAS DE 2.000 RÉIS 1859 – 1866 – 1867 e 1886

Fui um dos primeiros a alertar os colegas e outros colecionadores, sobre a oferta de moedas Brasileiras falsas, na verdade, réplicas, produzidas na China. Praticamente, moedas de todos os Países desde aquela época, há dois anos atrás, já eram replicadas e oferecidas a quem tivesse interesse, principalmente, as moedas com as datas mais raras.

Para tanto, minha primeira experiência com estas moedas, deu-se no mês de janeiro de 2008. Já naquele ano, foi publicado um texto sobre o assunto, no Boletim n° 34 da Sociedade Numismática Paranaense, de abril de 2008 nas páginas 07 a 12, e depois, o texto foi republicado neste BLOG em data de 11 de agosto de 2008.

Veja o texto então publicado, no link abaixo:

http://abibonds.blogspot.com/2008/08/2000-ris-1867-e-1886-falsos-da-china.html

Logo em seguida, no mesmo dia de 11 de agosto de 2008, escrevi outro artigo, informando sobre o destino, e quem acabou adquirindo para sua coleção e, principalmente, para seu estudo, aquelas moedas então relatadas. Logicamente, só divulguei o nome do comprador com anuência do mesmo. Afinal estava divulgando de quem eu comprei e para quem eu vendi. Veja o texto então publicado, no link abaixo:

http://abibonds.blogspot.com/2008/08/afinal-quem-comprou-os-2000-ris-1867-e.html

Desta minha experiência, passei a monitorar nos encontros numismáticos, dos quais eu participei, desde então, o oferecimento destas moedas. Ficava atento em minha mesa de negociação, para ver quem oferecia o que, e para quem, até que um dia, deparei-me com uma pessoa em minha mesa, oferecendo uma peça de 2.000 Réis do ano de 1867, como sendo verdadeira. Veio aquela conversa tradicional, tenho há muitos anos em minha coleção. Quem me vendeu já era colecionador... e outras alegações, que com um simples ato de colocar a balança em cima de mesa, logo, o resultado do peso da moeda, jogava por terra todas as alegações da origem da mesma. Falei de pronto: - ESTA MOEDA É FALSA, o peso não bate.

O vendedor, se levantou a contra gosto de minha mesa, não convencido do resultado que queria ouvir e foi procurar outros compradores. Deve ter ouvido de uns cinco grandes comerciantes, o mesmo veredicto: - a moeda é falsa. Mesmo assim, continuei acompanhando a trajetória deste cidadão no salão, até que para minha surpresa, sentou na mesa de um colecionador com mais de 30 anos de experiência e que nem se deu ao trabalho de pesar a moeda que lhe era oferecida e acabou pagando R$ 1.000,00 na hora ao vendedor.

Fiquei numa situação muito embaraçosa, pois, tinha eu então, menos de 5 anos de numismática profissional, e como me atreveria a alertar um colecionador com mais de 30 anos de experiência no ramo, que faz as vezes o papel também de comerciante, que aquela moeda comprada por ele era falsa??? Fiquei na minha e relatei o episódio a uns quatro grandes comerciantes sobre o ocorrido, e pelas conversas, todos não se sentiriam à vontade para alertar um tão experiente colecionador sobre o ocorrido. Nesta situação o silêncio prosperou.

Cheguei a conclusão, que o problema era cultural, e que problemas assim, somente com educação poderiam ser solucionados, mas de que forma eu, um simples mortal, poderia contribuir para que rapidamente e com êxito, todos se espertassem sobre estas moedas falsas que estavam infestadas no mercado e sempre faziam incautos a perderem um bom dinheiro, deixassem de ser vendidas como VERDADEIRAS e ficassem apenas circulando como RÉPLICAS??

Desde este dia, então, fiquei pensando, o que eu poderia fazer para alertar o mercado de uma forma elegante, menos trágica e de que moeda RARA, deve sempre ser analisada de todas as formas, o metal, o barulhinho característico da prata, a serrilha, o peso que deve bater na balança de precisão e outros detalhes mais, que devem ser observados, na hora da compra.

Aí pensei, se eu conseguisse comprar um lote grande de RÉPLICAS, a preços módicos e vendesse a preços compatíveis com o de uma réplica e fizesse isto de uma forma EDUCATIVA, eu teria um LUCRINHO para não PERDER O COSTUME e ainda estaria ALERTANDO a todos para rever em suas coleções o que possuem.

Ficaria com a alma limpa, pois, assim despertaria em todos o senso crítico que certamente apareceria em todo bom Numismata, e daí por diante, ninguém mais cairia no conto da moeda RARA, sem antes analisar o que deve sempre ser analisado quando se compra uma moeda deste tipo.

Foi com este INTUÍTO, o EDUCATIVO, que coloquei a venda + de 100 Réplicas de moedas RARAS, de 2.000 Réis dos anos de 1859 – 1866 – 1867 e 1886 e para minha surpresa, vendi já na primeira semana, mais de 50 moedas destas.

Estas moedas, podem ser encontradas no site do MERCADO LIVRE.COM.BR, onde estão anunciadas em meu e-shop, anunciadas como Réplicas, e ainda, aproveitei a oportunidade e disponibilizei outras raridades, também réplicas, de moedas de outros Paises, como USA, GRÉCIA, CHILE e INGLATERRA.

Vejam as réplicas oferecidas no mercado livre, no link abaixo:

http://eshops.mercadolivre.com.br/abibonds/lista/R%C3%A9plicas_Desde_1

Se desejar continuar suas pesquisas de outros produtos no e-shop, entre no link abaixo:

http://eshops.mercadolivre.com.br/abibonds/

Só para continuar, nos meus anúncios no mercado livre, você vai ler em alguns itens de réplicas a seguinte explicação no texto descritivo do produto, no caso abaixo, sobre o anuncio de uma moeda de 2000 réis do ano de 1886.

37 MM. DE DIÂMETRO, COM SERRILHA IGUAL DA ORIGINAL E 22,5 GRAMAS DE PESO.

RÉPLICA DA MOEDA DE 2.000 RÉIS DO ANO DE 1886, ( DATA RARA) MARCA EM CATÁLOGO + DE R$ 1.000,00, MAS QUE NOS ÚLTIMOS ANOS, TEM APARECIDO MUITAS MOEDAS "RÉPLICAS" FEITAS NA CHINA, QUE LÁ SÃO COMPRADAS COMO RÉPLICAS E ALGUNS PSEUDO NUMISMATAS DAQUI DO BRASIL, QUE SÓ VISAM O LUCRO FÁCIL, ACABAM VENDENDO A COLECIONADORES POUCO OBSERVADORES E SEM NENHUM SENSO CRÍTICO.

JÁ VI EM VÁRIAS COLEÇÕES, MOEDAS FALSAS, PRINCIPALMENTE AS DATAS MAIS RARAS E OS SEUS POSSUIDORES NEM SABEM SOBRE SUA ORIGINALIDADE OU NÃO. ALGUMAS RÉPLICAS OBSERVADAS, ATÉ O PESO EXATO COINCIDE.

COMO NUMISMATA, E ADEPTO DA VERDADE NUMISMÁTICA, OFEREÇO VÁRIAS RÉPLICAS A VENDA, NÃO SÓ DE MOEDAS BRASILEIRAS, MAS DE OUTROS PAISES TAMBÉM. SÓ ASSIM, PARA EDUCAR OS COLECIONADORES A EXERCITAR O SENSO CRÍTICO E AFERIR DE VERDADE, SE POSSUEM EM SUAS COLEÇÕES, MOEDAS FALSAS, RÉPLICAS, OU MOEDAS ORIGINAIS.

DESTA FORMA, SE FARÁ JUS A INTERPRETAÇÃO REAL DA PALAVRA NUMISMÁTICA, QUE ANTES DE TUDO É UMA CIÊNCIA E COMO TAL, DEVE SEMPRE SER ESTUDADA.

O METAL DA RÉPLICA É INTERESSANTE, É UMA LIGA DE METAL, COM UM BANHO DE PRATA E PÁTINA ARTICIAL, ONDE CHEGA-SE A PERFEIÇÃO NA APARENCIA, COMO A ORIGINAL.

RESULTADO DEPOIS DA PRIMEIRA SEMANA DE VENDA DAS RÉPLICAS:

Já, depois da primeira semana de venda, um dos compradores, já desperto pela compra que fez, foi comparar a sua moeda adquirida há mais de 1 ano e descobriu que aquela que ele julgou ser verdadeira, é falsa também, ou seja, é uma réplica, só passou a ser falsa a partir do momento que acreditou ser verdadeira. Na verdade sempre foi uma réplica.

Pois bem, já acionou o vendedor, um veterano comerciante de numismática, e este, já prometeu devolver o dinheiro integralmente pago. Diz que este, também, fora enganado por ocasião da compra.

ISTO QUE EU CHAMO DE NUMISMÁTICA, OU MELHOR, DE EDUCAÇÃO NUMISMÁTICA, o exercício do senso crítico, onde há estudo, não há incautos.

Repito: ONDE HÁ ESTUDO, NÃO HÁ INCAUTOS.

Esperteza neste mercado, agora ficou um pouco mais difícil.

Diferentemente do que pensam alguns, pois, tenho que ouvir de alguns, que estas réplicas, vão atrapalhar os negócios e o mercado em geral, fica uma pergunta: – Quais negócios que vai atrapalhar??? E que mercado??? Certamente que das moedas autenticas, não vai atrapalhar, pois quem desembolsa + de R$ 1.000,00 Reais, daqui por diante, vai ficar esperto. Vai analisar o que está comprando e, certamente, certificar-se de que a moeda é boa e vai acabar comprando.

Há ainda, a grande chance daquele que descobrir já ter comprado gato por lebre, de ter uma esperança de desfazer o negócio com o vendedor, e alguns, até de ter êxito em receber o dinheiro de volta, como do caso anteriormente relatado.

Agora, que sem dúvida alguma, vai atrapalhar a vida dos PSEUDO NUMISMATAS, aqueles que visam o lucro fácil, vendendo gato por lebre, este tipo de mercado e de comércio, sim, vai atrapalhar bastante, pois, fatalmente, estes, terão que achar outra coisa para fazer.

O que não quero mais, é ver alguém comprando uma moeda falsa num encontro numismático e pagar um preço exorbitante por uma moeda que vale no máximo 50,00 Reais, preço de uma réplica, já com frete incluso. Mesmo que seja para um veterano da numismática, com mais de 30 anos de experiência, e por um descuido, um pequeno vacilo e por boa fé, acreditou estar levando uma moeda autêntica e era na verdade, uma simples réplica.

Texto de autoria do Numismata, João Gualberto Abib, de Curitiba – PR, com fone 41-9127-9766 e se alguém quiser mandar uma correspondência, CAIXA POSTAL 10.331 AC/BIGORRILHO em CURITIBA – PR – CEP. 80.730-380

Vende produtos numismáticos no Mercado Livre, visite seu e-shop no link abaixo:

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Se quiser passar um e-mail:

abibonds@onda.com.br

15 de fev. de 2010

A INCRÍVEL HISTÓRIA DA MOEDA DE OURO DE Us$ 20 “ DOUBLE EAGLE” DE 1933 - Continua parte I e II

Já faz mais de 1 ano, ou melhor e mais exato: 15 meses completará amanhã, dia 16 de Fevereiro de 2010, da data da última postagem em meu Blog.

Confesso, que neste período, em vista de vários fatores que ocorreram, e até pela minha decisão de me afastar da Diretoria da SNP, e posteriormente, por atitudes daquela diretoria, que me desagradaram e culminaram com minha decisão de pedir o afastamento em definitivo, daquela sociedade, deu-me um ar de desânimo e falta de interesse pessoal em continuar a escrever neste Blog, mas este fato está superado. Afinal, neste período, aprendi a andar separado.

Precisava na verdade de um START, um pequeno empurrão, uma luz, para que eu viesse novamente a postar matérias numismáticas neste BLOG e até terminar algumas matérias iniciadas e não terminadas.

Assim, hoje de manha esta LUZ apareceu, pois recebi um e-mail de meu fraterno amigo e antigo colaborador da labuta numismática, o qual escreveu vários textos em parceria comigo, fruto de muitas pesquisas, falo de Roberto Keller, que hoje mora em S. Paulo e enviou-me um e-mail, lembrando sobre a matéria que fizemos pesquisa em 2007, e que acabou sendo divulgada no texto, “ A INCRÍVEL HISTÓRIA DA MOEDA DE OURO DE Us$ 20 “ DOUBLE EAGLE” DE 1933” matéria publicada, inicialmente, no Boletim da SNP nº 32 de Setembro de 2007 e republicada em 30 de Julho de 2008 neste Blog sob o título acima.


Logo, pela indicação de meu amigo, li e reli o texto por ele sugerido, que está publicado no BLOG da Numismática Bentes, e que por incrível que pareça, é a continuação e ou a complementação daquele texto já publicado em nosso BLOG, por isto, vou apenas copiar o texto daquele site e republicar aqui, para que todos leiam o incrível desta história que agora se fecha.

Agradecimentos ao Roberto Keller pela LUZ e ao START que eu precisava.

Agradecimentos especiais, ao Blog da Numismática Bentes, pelo mérito de tão brilhante texto que faço disponibilizar em meu BLOG aos meus leitores que na verdade são leitores com interesse na Numismática em Geral.

Boa leitura a todos

João Gualberto Abib


A incrível história de uma moeda que não deveria existir – 1ª Parte. ( extraido do Blog Numismatica Bentes - sem imagens)

12 02 2010

Imagine que seu avô tenha sido um colecionador de moedas de ouro ou que tenha andado lá pelos EUA na década de 30 e que em meio aos seus pertences você encontrasse uma única moeda de ouro, pesando pouco mais de 30 gramas (como a da foto a seguir). Se for assin, então dê uma boa olhada na data ! Se for 1924 ou 1927, você pode até faturar uma graninha, vendendo-a por US$ 900 dólares. Mas muita atenção, pois se a moeda for igual à da foto abaixo (20 dólares) e a data for 1933, você acabou de conquistar sua independência financeira. Por que? Saiba a seguir!

Agora você irá conhecer o primeiro de dois capítulos de uma história fantástica no mundo do colecionismo. Uma história de emoções, paixões, furtos, desilusão, decepções, ansiedade, corrupção, reis e altos funcionários do governo americano, numa trama digna de um filme.

Tomará conhecimento dos passos percorridos por uma fantástica moeda que, pela lei americana, jamais poderia existir mas que apesar disso, passou pelas mãos de funcionários da Casa da Moeda da Filadélfia, de um Rei, de pessoas comuns, de altos funcionários do governo americano, de agentes secretos, colecionadores e comerciantes de jóias e de moedas, até chegar à Stack’s e Sotheby’s e ser leiloada pela fantástica soma de 6,6 milhões de dólares, tendo seu comprador desembolsado quase 7,6 milhões devido às comissões das prestigiosas casas de leilão.

Irá tomar conhecimento das investigações e de como algumas destas moedas foram parar, inexplicavelmente, num cofre privado, onde seus herdeiros sequer sabiam o tesouro que continha.

Mas deixemos de lado as considerações e passemos diretamente a esta fantástica narrativa ! A incrível e verdadeira história de uma moeda que jamais deveria ter existido. Boa leitura a todos !

A fascinante história de uma raríssima moeda. O US Saint Gaudens Double Eagle de 1933.

O US Saint Gaudens Double Eagle de 1933 vendido no leilão de Stack’s e Sotheby’s em 30/07/2002.

O martelo do leiloeiro da venda sob ofertas organizada pela Stack’s e Sotheby’s em Nova York no dia 30 de julho de 2002 para vender uma única moeda – aparentemente a mais rara, e com certeza a mais disputada – parou no valor recorde de 6,6 milhões de dólares, uma soma nunca alcançada precedentemente, e que sobe a 7,59 milhões, se levarmos em conta também a comissão do leiloeiro. Mas o que levou um colecionador anônimo a desembolsar esta incrível soma, pagando “tanto” por uma única moeda de ouro de 20 dólares cunhada apenas 70 anos atrás. E, ainda, por qual razão uma moeda cunhada em quase meio milhão de exemplares se tornou tão rara e disputada?

Esta última pergunta já havia sido feita em 1944 por Ernest Kehr, jornalista responsável pela sessão de filatelia e numismática do New York Herald Tribune que, notando em uma lista de leilão o anúncio da venda de um extraordinário “double eagle de 1933”, pelo qual seu antigo proprietário havia pago um pouco mais de 2000 dólares (valor considerado altíssimo para a época em que foi adquirida), pensou que seria uma boa idéia dirigir-se à Casa da Moeda americana para saber quantos exemplares teriam sidos postos em circulação, e o que poderia justificar uma cotação do gênero.

Foi justamente a curiosidade de Kehr a dar início a uma das mais complexas aventuras numismáticas dos últimos tempos, rica de surpresas, decepções, euforia e desilusões. Uma história que depois de se perder nos anais do colecionismo por mais de 70 anos, ainda hoje não se concluiu definitivamente, e que teve como protagonistas colecionadores ricos e facultosos, comerciantes inescrupulosos, funcionários desonestos da casa da moeda de Filadélfia , agentes do serviço secreto americano, o rei Farouk do Egito , casas de leilão, e, por último, os herdeiros de um dos personagens originalmente envolvidos no “furto” e na venda de alguns exemplares desta moeda, mantidos entre seus bens herdados e trancados num cofre que continha 10 destas raríssimas e “proibidas” moedas. Mas procedamos com ordem.

O FIM DE UMA ÉPOCA

OS 445.500 exemplares do “Double Eagle de 1933” – última cunhagem em ouro das casas da moeda da Filadelfia, de San Francisco e de Denver que desde 1907, colocou em circulação mais de 70 milhões de moedas com desenhos do admirável escultor “Augustus Saint-Gaudens” (na foto ao lado, em seu atelier)– foram cunhadas em Filadélfia em 3 sessões, entre 15 de março e 19 de maio. O contingente tinha sido estabelecido pelo Tesouro Americano em base ao quantitativo de moedas de 20 dólares postas em circulação no ano anterior pelo Federal Reserve Bank, e a abertura dos cunhos se deu em Filadélfia, a partir de 18 de fevereiro.

Em teoria, a cunhagem dos 20 dólares com data 1933 sequer deveria ter sido processada. Logo após a sua eleição em 4 de março de 1933, de fato, o presidente “Franklin Delano Roosevelt” proibiu o uso do ouro (sob forma de moeda ou certificado) em pagamentos, na tentativa de por fim a grave hemorragia de metal amarelo que arriscava comprometer a credibilidade do sistema bancário americano (na semana ente o fim de fevereiro e início de março de 1933, companhias e privados tinham retirado dos bancos, para estocá-los ou transferi-los ao exterior, mais de 200 milhões de dólares em ouro, perfazendo um total – na cotação atual do ouro – cifra que supera os 6 bilhões de dólares).

Roosevelt anunciou a sua decisão (em vigor a partir do dia sucessivo) domingo, 5 de março, decretando ao mesmo tempo o fechamento de todos os bancos por quatro dias, enquanto o Secretário do Tesouro William H. Woodin (retratado na foto a seguir) telegrafava as casas da moeda de Denver, Filadelfia e San Francisco, ordenando que fossem suspensos quaisquer pagamentos em ouro. O Congresso, convocado urgentemente no dia 9 de março, aprovava no mesmo dia a decisão do presidente. A diretiva de Roosevelt proibia também o acumulo de ouro amoedado por parte dos privados e, mesmo que não especificasse qual fosse o limite quantitativo que fizesse com que um acúmulo chegasse a ser considerado um reato, sancionava a posse não autorizada de ouro em moedas ou certificados, com uma multa de até 10.000 dólares e uma pena de detenção de até 10 anos.

A provisão não impunha explicitamente aos cidadãos americanos de restituir o ouro amoedado, que estivesse em sua posse, ao Federal Reserve Bank, mas que este fosse o seu preciso objetivo, nao restava qualquer dúvida, tanto que o público, respondendo ao apelo do presidente, do Congresso e das autoridades monetárias, e uma única semana fez afluir aos bancos mais de 300 mihões de dólares em ouro. A adesão inicial bem cedo perdeu parte do seu vigor e no dia 5 de abril, um mês depois da divulgação da provisão, o ouro “restituído” ao Tesouro chgava a um total de apenas 633 milhões de dólares. Segundo a estimativa do governo, ao apelo presidencial faltavam, pelo menos, mais um outro bilhão de dólares.

Para acelerar o retorno do metal, que ainda estava circulando, aos cofres do Federal Reserve, no dia 5 de abril Roosevelt (foto ao lado) emanou uma nova diretiva que depois de ter precisado o teto cumulativo (100 dólares), impôs explicitamente aos privados a obrigação de restituir ao Tesouro Americano o ouro de que mantinham posse; uma exceção era consentida somente para as moedas de ouro “raras e inusuais” procuradas pelos colecionadores. As pressões pelo retorno do ouro nos cofres do Federal Reserve continuaram até que o Gold Reserve Act, aprovado pelo Congresso e assinado por Roosevelt no dia 30 de janeiro de 1934 estabelecesse definitivamente que todo o ouro amoedado (revalutado de 20,67 a 35 dólares a onça) pertencia ao governo dos E.U.A., que o transformaria em lingotes de peso e título estabelecidos pelo Secretário do Tesouro (refundindo portanto as moedas) destinando o produto final a ser estocado no novo depósito em construcão em Fort Knox.

Já depois do primeiro decreto de 5 de março de 1933, a Casa da Moeda de Filadélfia poderia ter suspendido a cunhagem das moedas de ouro, não mais admitidas como instrumento de pagamento. Como a burocracia, porém, tem seus próprios tempos e inércias, um primeiro quantitativo de double eagles de 1933 foi cunhado entre 15 e 24 de março, seguidos por mais 200.000 entre 7 e 27 de abril e pelos últimos 145.500 entre 8 e 19 de maio. A inteira cunhagem, embalada em sacos de 250 moedas, cada um pesando cerca 8,4 quilos, foi trancada no cofre F da Casa da Moeda, de onde nunca mais sairia se não 3 anos depois para a refusão. A única exceção foram dois sacos contendo 500 peças ao todo de onde deveriam ser retirados os exemplares destinados ao laboratório da Casa da Moeda e à Comissão de análise para que fossem verificados o peso e o título do metal, tendo sido confiados aos cuidados do tesoureiro e fechados na sua caixa-forte.


ESPERANDO PELA FUSÃO

É sobre as 500 peças que ficaram sob o controle direto do tesoureiro-caixa – cargo que, depois da aposentadoria de Harry Powell no fim de 1933 e a saída de cena de seu sucessor designado Hibberd Ott, por motivos de saúde, foi assumido no dia 20 de março de 1934 por George McCann, figura chave nos acontecimentos sucessivos – que devemos voltar a atenção para entender como, quando e quantos “double eagles de 1933” tenham saído ilegalmente da Casa da Moeda de Filadélfia e alcançado o mercado, sempre à espera de oportunidades, por novidades e, com estas, as chances de lucro.

Como resulta da documentação do arquivo da casa da moeda de Filadélfia, 20 das 500 moedas foram enviadas a Washington, mais especificamente ao laboratório da casa da moeda dos EUA para o controle do título, exigência para a qual fossem todas refusas. Das que sobraram, 446 foram mantidas à disposição da Comissão de Análises, convocada na metade de fevereiro de 1934, enquanto outras 34 foram pegas por Edward McKernan, responsável pela câmara de segurança, em 2 de fevereiro. Nao ficou claro se estas moedas foram depositadas novamente nos cofres junto com o grosso do contingente ou se (hipótese mais provável, levando em consideração o reduzido quantitativo e as verificações ainda em curso), se tenham unido as outras em contemporânea custódia do caixa.

A Comissão de Análise, reunida no dia 14 de fevereiro de 1934, destruiu 9 moedas para determinar o peso e o título, resultados ambos regulares segundo quanto o certificado do dia 15 de fevereiro, e no dia 20 as outras 437 foram restituídas a Hibberd Ott, caixa em função e que as repôs na própria caixa-forte junto aos 34 exemplares recebidos em precedência por McKernan (para um total de 471 peças).

A reserva federal de ouro de Fort Knox.

O processo posto em movimento pelo Gold Reserve Act, enquanto isso continuava avançando inexoravelmente. No dia 4 de agosto de 1934 Nellie Tailoe Ross , diretora da Casa da Moeda dos EUA , telegrafou aos diretores dos estabelecimentos de Denver, Filadélfia e São Francisco para dar início à fusão de todo o estoque nacional de moedas de ouro, com a finalidade de tranformar o produto da fusão em lingotes de ouro 900‰ (mesmo teor das moedas, para “não perder temp e nem dinheiro”); uma missão que, devido aos consistência dos recursos e a capacidade das instalações, levaria mais de 2 anos, com uma previsão de conclusão que somente se daria em julho de 1937, com a chegada ao Fort Knox das cargas de lingotes escoltados pelas guardas armadas da Casa da Moeda.

Baseado na documentação oficial, entre 6 de fevereiro e 18 de março de 1937, na Casa da Moeda de Filadélfia foram fundidas e transformadas em lingotes, precedidas por milhares de outras moedas de ouro de 2,5; 5; 10 e 20 dólares, 445.000 “double eagles” de 1933, que nunca saíram do cofre F, mais as 471 em posse do caixa. Das 471 moedas qu erestaram das análises e testes, se devem subtrair os dois exemplares que em 2 de outubro de 1934 George McCann enviou, sob a disposição da diretora Nellie Tayloe Ross, ao Smithsonian Museum, para serem inseridas na coleção numismática do referido museu. A conta, formalmente, estaria correta: das 445.500 moedas cunhadas, 29 foram hipoteticamente destruídas em testes, duas foram doadas ao Smithsonian (fato comprovado), e as outras 445.469 foram fundidas (?). Mais nenhum exemplar do double eagle de 1933 – nunca posto em circulação pela Casa da Moeda Americana – deveria ou poderia ter “sobrevivido”. Mesmo assim…..


COMEÇA A CAÇA AO TESOURO

Os primeiros indícios que mostravam que as coisas não tinham ocorrido em conformidade com os documentos oficiais afloraram a partir de abril de 1937, quando um periódico numismático declarou, indicando rumores dos ambientes do colecionismo, que alguns exemplares teriam escapado à fusão, e os que terminaram nas mãos de colecionadores e comerciantes vinham sendo tratados a preço “de afeição”. A notícia não suscitou particular estupor, nem reações por parte das autoridades monetárias. O mundo do colecionismo e do comércio numismático nao era tido sob particular consideração e nem mesmo quem havia desenrolado um papel importante durante a subtração das moedas destinadas à fusao, fazendo-as sair ilegalmente da casa da moeda teria qualquer interesse em “colocar lenha na fogueira”.

Um outro periódico reportou que, sempre em abril de 1937, o conhecido colecionador Fred Boyd teria mostrado algumas semanas antes, na reunião do New York Numismatic Club, um exemplar de double eagle de 1933 em sua posse. O próprio Boyd voltou a expor a moeda em 1938 em Columbus e no ano seguinte em Nova York. Nas revistas numismáticas começaram a aparecer os primeiros anúncios alusivos a quem gostaria de adquirir o último dos double eagles cunhados, e no número de fevereiro de 1941 de “Numismatist” apareceu a primeira proposta de venda; Smith & Son, comerciantes de Chicago, ofereciam (com várias fotos ilustrativas) um double eagle de 1933, “a mais rara da série – exceto pelo exemplar de 1849 – e um dos únicos 3 exemplares conhecidos até hoje. O preço só seria fornecido a pedido dos adquirintes interessados”.

Na época o anúncio não suscitou particular interesse (talvez por causa do preço pedido), tanto que a oferta foi repetida em março e em junho, quando finalmente apareceu um comprador. Nenhuma reação porém, mais uma vez, partiu das autoridades monetárias. Para que isso se verificasse, foram necessários que se passassem outros três anos. De fato, em 18 de março de 1944, Enest Kehr, folheando o catálogo da Casa de Leiloes Stack’s – a ser realizado no dia 25 do mesmo mês – foi pego pela curiosidade de saber o que fazia do lote 1681 (double eagle 1933) uma raridade, e teve a idéia de se dirigir ao escritório do diretor da Casa da Moeda para um esclarecimento. Em 20 de março a questão chegou aos ouvidos da diretora Ross, que pediu a Filadélfia uma resposta. Esta chegou no dia 22 sob forma de um relatório detalhado de 10 páginas, nas quais resultavam os números de moedas cunhadas, destruídas nos testes e refusas, além obviamente das duas entregues ao museu Smithsonian. Nenhuma moeda tinha sido entregue ao Tesouro (e deste aos bancos) para ser distribuída, portanto nenhuma podia, oficialmente se encontrar em circulação. Se isto estava acontecendo, se supunha que o lote oferecido por Stack’s era de uma moeda “falsa” ou “roubada”.

Nellie Tayloe Ross, a primeira mulher americana a ser eleita ao cargo de governador (Wyoming em 1922) e primeira mulher a ser nomeada, pelo presidente Franklin Delano Roosevelt, diretora da Casa da Moeda, cargo que ocupou de 1933 a 1953.
Neste ponto, a Casa da Moeda colocou a questão aos cuidados do serviço secreto, competente nesta matéria por ser o responsável pela repressão à violação ao Gold Reserve Act. Do caso se ocupou pessoalmente o diretor do serviço, Frank J. Wilson, que confiou as investigações aos agentes especiais Harry w. Strang e James Haley. Como estavam efetivamente em presença de um reato, era necessária uma medida veloz, pois ao leilão Stack’s faltavam somente dois dias. No dia 24 os dois agentes foram a Nova York para encontrar o jornalista cuja iniciativa tinha dado início ao caso. Mas Kehr não conseguiu fornecer nenhum outro elemento que pudesse auxiliar nas investigações. Tudo o que sabia, já havia sido relatado. Os agentes então se dirigiram à sede da Stack’s para interrogar os titulares.

Considerados totalmente estranhos a qualquer comportamento ilícito, os irmãos Joseph e Morton Stack não tiveram dificuldades em exibir a moeda em sua posse; além disso confirmaram que no catalogo do referido leilão havia um erro; diferentemente de quanto indicado, o precedente proprietário (o coronel Flanagan) não havia pago 2200 dolares pela moeda, mas sim 1250, como vieram a saber uma semana antes. Os irmãos Stack disseram também aos agentes que um outro exemplar da mesma moeda estava notoriamente em posse de Max Berenstein, um joalheiro cuja loja se encontrava a alguns quarteirões dali.

As atuais instalações da Casa da Moeda de Filadélfia.

A este ponto o agente Strang explicou que, de acordo com as documentações do Tesouro, a moeda nunca teria sido posta em circulação, e portanto se tratava presumivelmente de um exemplar falso ou “roubado”, que o serviço secreto teria que sequestrar diante da expectativa de desenvolvimentos posteriores. Durante a tarde, após entregarem aos irmãos Stack, como seu álibi regular, uma fatura pelo double eagle de 1933, os dois agentes saíram da casa de leiloes dos irmãos para se dirigirem à joalheria de Berenstein. A caça ao tesouro ilegalmente “roubado” tinha começado.

UMA INCRÍVEL COINCIDÊNCIA

Aqui é oportuno dar alguns passos atrás. Exatamente um mês antes, dia 25 de fevereiro de 1944 (o que ainda não era do conhecimento dos investigadores), um funcionário da embaixada egípcia em Washington tinha ido ao escritório da Casa da Moeda, no Ministério do Tesouro, para pedir a permissão de exportação de uma moeda que o seu soberano, o rei Farouk (foto ao lado), havia comprado dois dias antes, de um comerciante de Fort Worth, Texas, pagando 1575 dólares; tratava-se de um double eagle de 1933. Baseado no Gold Reserve Act, a exportação de moedas de ouro dos EUA era permitida somente se se tratava de exemplares de interesse especial para os colecionadores, “status” delegado pelo referido escritório da Casa da Moeda.

Depois de um funcionário compilar o pedido e receber o double eagle de 1933, o escritório da Casa da Moeda entrou em contato com Theodore Belote, curador da coleção numismática do Smithsonian que, recordando, possuía os dois únicos exemplares “legais” do s20 dólares de 1933, entregues a este pela Casa da Moeda de Filadélfia. Isto a fim de obter um parecer necessário aos procedimentos formais, o que foi ultimado, sem dificuldades, como favorável à exportação.

Completadas as formalidades burocráticas, em 29 de fevereiro a licença de exportação estava pronta e em 11 de março de 1944, o funcionário da embaixada do Egito retornou ao escritório da Casa da Moeda, a fim de retirar a moeda, acompanhada da referida licença.

Devido a uma fortuita e incrível coincidência temporal, a moeda adquirida pelo rei Farouk obtinha, desta forma, a permissão necessária para deixar legalmente o território dos EUA sendo que duas semanas mais tarde, tal procedimento teria sido certamente impossível.

Em 24 de março de 1944, depois de terem deixado a sede da Stack’s, o sagentes do serviço secreto providenciaram o sequestro da moeda que estava na posse de Berenstein e depois de uma primeira perícia realizada na Assay Office de Nova York, as duas moedas foram confirmadas como autênticas e, coisa ainda mais importante, obtiveram do joalheiro os elementos necessários para iniciarem a reconstruir um quadro detalhado de toda situação; quantos eram os exemplares conhecidos no mercado, quem os possuía pelas mãos de quem haviam passado.

Nas três semanas sucessivas, assistidos por alguns colegas, Strang e Haley interrogaram colecionadores, numismatas, comerciantes e funcionários da Casa da Moeda em diferentes localidades dos EUA, e em 14 de abril já estavam prontos para apresentar ao seu superior um primeiro balanço das investigações; um elenco dos 10 primeiros exemplares dos 20 dólares de 1933 já haviam aparecido no mercado até aquele momento (três dos quais haviam sido sequestrados pelos agentes no decurso das investigações e um exemplar levado ao Egito com regular licença de exportação) e mais uma concreta série de indícios que conduziam a Israel “Izzy” Switt, um grande joalheiro da Filadélfia, como sendo a fonte comum de todas as moedas.
Fim da 1ª Parte.

NOTA: No post a seguir, você encontra a 2ª e última parte desta fascinante história que reserva momentos de emoção e surpresa em seu desfecho dramático e conclusivo, onde as pessoas envolvidas tramam, conspiram e elaboram estratégias para escaparem ao controle do governo federal dos EUA. Você vai conhecer a surpreendente história de um comerciante que pagou uma fantástica soma por esta moeda e viajou para fora do país, esperando que algum colecionador o contatasse, para tentar vendê-la pelo triplo do que havia pago. Os agentes secretos do tesouro americano irão armar uma estratégia digna de um filme de espionagem para botar suas mãos nesta moeda. Será que irão conseguir ?
Não deixe de ler a segunda e última parte desta surpreendente e verídica história. Nela você ira conhecer o desenrolar final de “A incrível história de uma moeda que não deveria existir”. Tome fôlego, corra no baú do seu avô e quem sabe vc tira a sorte grande. Mas cuidado ! Não a mostre a qualquer um ! Caso voce seja daqueles que nasceu “virado prá lua”, escreva-me e por uam comisão de 15% te levo direto ao comprador na Europa que irá te pagar em dinheiro vivo. Mas não fale sobre o assunto a ninguém, pois o FBI ainda está à caça dos últioms exemplares que restam dessa raríssima moeda americana. Bom final de leitura na parte 2, a seguir !

A incrível história de uma moeda que não deveria existir – 2ª Parte. ( extraído do Blog da Numismática Bentes, sem imagens)

12 02 2010

…continuando…

A colocar os agentes na pista justa foi James Macallister, um numismata de Filadélfia que afirmou ter adquirido o primeiro exemplar de “double eagle de 1933” (moeda que nunca tinha aparecido em precedência no mercado). Comprou-o de Switt, no dia 15 de fevereiro de 1937 por 500 dólares, revendendo-o logo em seguida a Max Berenstein por 1600 dólares. Assim, quatro dias depois, em 19 de fevereiro, Macallister voltou à loja de Switt e comprou um segundo exemplar por 500 dolares, também este em seguida revendido (por 1100 dólares). Uma terceira moeda, sempre por 500 dólares, foi adquirida no início de julho de 1937, seguido por outros dois (um em julho e outro em dezembro) pelo qual a quantia a ser paga tinha subido a 550 dólares. Depois ele parou – disse Macallister aos agentes – não porque a fonte se tivesse exaurido, mas porque se convenceu que existiam muitos exemplares no mercado para se dizer que era uma moeda de extrema raridade.

Switt foi interrogado pelo serviço secreto em 30 de março, mas mesmo assumindo a venda de 9 double eagles de 1933 no passado, declarou não se lembrar onde as adquiriu e de não ter conservado nenhuma documentação que pudesse ajudá-lo a identificar quando, de quem tivesse comprado, a quem tivesse vendido e por qual valor as tivesse adquirido. Mesmo sob pressão dos agentes, negou sempre de ter mantido contato com o pessoal da casa da moeda da Filadélfia, além do necessário requerido pela sua profissão (venda de restos de ouro para fundição), e declarou sob juramento que não possuia outros exemplares da moeda incriminada.

Nas semanas sucessivas os investigadores examinaram as escrituras contábeis de Switt, sem porém concluir nada de útil para suas investigações que, sem descartar possíveis alternativas, se dirigiam agora a um objetivo bem preciso: a investigação de uma ligacão entre Switt e alguém que tivesse tido acesso às moedas saídas ilegalmente do estabelecimento onde foram produzidas.

Na lista de suspeitos incluiu-se, em particular, o ex-caixa da Casa da Moeda de Filadélfia George McCann: um personagem que, além de ter sob sua custódia – por vários anos e na própria caixa-forte – centenas de exemplares do double eagle incriminado, tinha precedentes discutíveis, tendo sido preso em 1940 sob acusação de ter “roubado” do caixa 339,90 dólares em “trocados” retirados de circulação, levados à Casa da Moeda por privados e comerciantes para serem substituídos por moedas novas do cunho. Mccann se assumiu culpado, e foi condenado a um ano e um dia de prisão, mais uma multa de 500 dólares.

Mesmo não conseguindo provar um contato direto entre McCann e Switt, os agentes descobriram que quase seguramente existia um entre McCann e Edward Silver, cunhado e sócio de Switt cuja assinatura aparecia, entre outros, nos cheques girados por Macallister para pagar as moedas compradas pelo primeiro. Novamente interrogado, Macallister adicionou novos particulares ao caso: em ocasião de cada compra, Switt pretendia que o preço fosse primeiro aprovado por Silver e em num certo momento disse, a propósito dos double eagles de 1933, que “seu sócio Ed(ward Silver) poderia arrumar quantas quisesse”, já que tinha comprado 25 e revendido até então somente 14.

Outras confirmações aos suspeitos vieram da análise da situação financeira de McCann, que entre fevereiro e junho de 1936 tinha registrado, sem uma justificativa aparente, entradas de mais de 9.800 dólares, uma soma equivalente a mais do triplo do seu salário anual, e quase coincidente com quanto retirado no mesmo período por Edward Silver de uma conta bancária sua. McCann, segundo a teoria desenvolvida pelos agentes do serviço secreto teve, por um longo tempo, acesso às moedas que provavelmente conseguiu fazer sair da Casa da Moeda, de pouco em pouco (na época não existiam detectores de metal), substituindo os double eagles de 33 com outros de data comum, para que pesos e números resultassem sempre regular no caso de um eventual controle; tinha mantido contato com Silver; tinha registrado em 1936 uma entrada conspícua e não justificada, contemporaneamente a uma equivalente saída de dinheiro da conta de Silver: os indícios era mais do que consistentes, mesmo se em ausência de uma confissão por parte dos suspeitos.

No final de 1944 o trabalho dos investigadores já havia terminado, e os agentes tiveram uma conferência com o chefe dos Serviços Secretos, Frank Wilson, confiantes de poder começar a fase do plano que levaria os suspeitos para a cadeia. Em dezembro, Wilson mandou a própria relação ao Procurador Federal com o pedido de proceder, mas a resposta, que chegou em janeiro de 1945, foi negativa: os indícios eram sólidos, mas a decorrência dos termos punha os suspeitos ao reparo de qualquer tipo de incriminação.

Medalha prêmio realizada por Augustus Saint Gaudens e Barber para a Exposição Colombiana de 1892-1893.
A impossibilidade de perseguir os culpados pela subtração das moedas não mudava todavia uma coisa: os double eagles de 1933 em circulação nunca tinham sido emitidos, por isso eram propriedade do governo, do qual foram roubadas; o governo tinha portanto o direito de exigir a restituição e, caso o atual proprietário se negasse em fazê-lo, o governo poderia confiscá-las.
Nem sempre os colecionadores – que para terem a moeda tinham desembolsado os “olhos da cara” – estavam dispostos a aceitar tal imposição. Entre junho de 1944 e agosto de 1952 o serviço secreto conseguiu todavia sequestrar , ou receber por “livre e espontânea restituição”, outros seis doubles eagles de 1933 que se encontravam na posse de cidadãos americanos: o único exemplar conhecido em circulação permanecia a tal ponto a moeda adquirida em 1944 pelo rei Farouk do Egito, transferida ao Cairo.
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A MOEDA QUE FALTAVA

Enquanto internamente os pedidos de restituição das moedas sequestradas, encaminhados pelos colecionadores ao governo, eram negados, o Governo americano decidiu colocar as coisas em dia com o governo egipcio, onde o rei Farouk tinha perdido o trono no dia 23 de julho de 1952 depois de um golpe de estado. O novo governo fez saber imediatamente que tinha intenção de leiloar os bens do ex-soberano, e que o lucro deveria ser utilizado em benefício do povo. Entre tais bens constava a coleçao numismatica do ex-soberano, composta de mais de 8.800 moedas de ouro, sendo que entre as raridades estava o “double eagle de 1933”. A responsabilidade de cuidar do leilão, executado no dia 24 de fevereiro de 1954, foi dada a casa inglesa Sotheby’s, cujo catálogo denominado “Palace Collections of Egypt” (o nome do rei tinha sido retirado em consideração ao novo governo), reportava no lote número 185, junto com outros 16 double eagles, o exemplar “único” de 1933.

Página do catálogo da coleção Farouk, onde se vê o lote 185. Sublinhado em vermelho a data 1933, correspondente ao cobiòado Double Eagle Saint Gaudens .

Uma cópia do catálogo acabou nas mãos do serviço secreto americano, que através do Departamento de Estado fez intervir a Embaixada do Cairo para retirar a moeda de venda. Somente 36 horas antes da realização do leilão a Embaixada conseguiu confirmar que o presidente egípcio Naguib tinha acolhido o pedido, se resevando todavia o direito de decidir sobre a sorte da moeda. Em 25 de fevereiro o lote 185, reduzido de 17 a 16 moedas, foi regularmente vendido por 2.800 libras; mas enquanto nos EUA a Casa da Moeda da Filadélfia começava a refundir, em agosto de 1956, em base as disposições do Gold Reserve Act, as nove moedas sequestradas pelo serviço secreto, a peça que pertenceu a Farouk desaparecia no nada.

Todas as pistas seguras do double eagle que faltava (aparentemente permanecia no Egito, com quem tinha acesso aos bens sequestrados de Farouk pelo governo nacionalista de Naguib e de seu sucessor Nasser), se perderam por quase quarenta anos, até 1994, quando André de Clermont, um ex-funcionário da Casa de Leilões inglesa Spink’s e por época já trabalhando pro conta própria, comentou com seu novo sócio Stephen Fenton, dono de uma loja numismática em Duke Street, de uma supreendente oportunidade: uma sua fonte egípcia (da qual já tivera a oportunidade de adquirir muitas moedas raras, algumas das quais certamente proveniente da coleção de Farouk), tinha mencionado a possibilidade de dispor também do 20 dólares de 1933.

A negociação – iniciada com um pedido do interlocutor egípcio de 325.000 dólares – começou a “esquentar” no tardo verão de 1995, e no dia 3 de outubro a negociação chegava ao seu clímax. Fenton transferiu para a conta do egípcio – um joalheiro do Cairo – 220.000 dólares, e, depois de 41 anos, entrou em posse da moeda retirada do leilão em 1954 (deste fato não se tem certeza absoluta, dado que a licença de exportação concedida em favor de Farouk não era acompanhada por uma documentação fotográfica, e nem no catálogo do leilão Sotheby’s de 1954 aparecia uma imagem da moeda; mas todas as circunstâncias levam a crer que a moeda nas mãos de Fenton fosse efetivamente a que pertenceu ao soberano egipcio).

Quando a adquiriu, o comerciante britânico tinha passado por um grande risco, ligado tanto a quantia paga, quanto ao “estado” ilegal da moeda (pelo menos, assim era, aos olhos do governo americano). O problema agora era encontrar um comprador, de preferência nos Estados Unidos, que pudesse garantir a ele e ao seu sócio De Clermont um lucro adequado.

Para resolver essa situação Fenton se dirigiu a um amigo na Alemanha que, depois de algumas tentativas em vão, obteve uma resposta interessada da parte de Jasper Parrino, titular de uma loja especializada em moedas raras em Kansas City, que acreditava haver um potencial cliente para a moeda na pessoa de Jack Moore, um mediador sempre a procura de moedas de ouro para um facultoso industrial em Oklahoma. No fim de 1995, Fenton começou a discutir com Parrino sobre a venda do double eagle em sua posse, pelo qual pretendia pedir 750.000 dólares. Parrino pediu a Moore o dobro, mas o caminho pelo qual se desenrolava o negócio conduzia na verdade a uma perigosa armadilha.

Moore, em parte incentivado por motivos de “vingança” (dizia que tinha sido enganado no passado por Parrino, com relação a algumas comissões de venda), se dirigiu a um agente do FBI informando-o que um comerciante estrangeiro estava oferecendo na praça um double eagle de 1933 por 1.500.000 dólares. O FBI o colocou prontamente em contato com o Serviço Secreto, que decidiu montar uma isca com o objetivo de sequestrar a moeda. Moore teria que fazer uma contra-oferta a Parrino, para ganhar tempo, mas sobretudo tinha que pedir que a transação ocorresse nos EUA onde o comprador poderia verificar a autenticidade da peça (na verdade, para o serviço secreto se apropriar da moeda).

Depois de um vai-e-vém de contatos e negociações, Fenton – que havia firmado o preço em 750.000 dolares – concordou em encontrar Parrino e o cliente final em 8 de fevereiro de 1996, em Nova York, em um apartamento do hotel Waldorf Astória que, a esta altura, já havia sido posto sob total vigilância pelo serviço secreto, com videocâmeras e registradores, com agentes que ocupavam um apartamento adjacente.

Uma vez acertado que Fenton tinha efetivamente consigo a preciosa moeda, os agentes irromperam no apartamento onde a negociação estava em curso, e prenderam o numismata inglês, caído na armadilha sem haver levantado a menor suspeita, tanto é que, no início, temeu de ser vítima de um roubo.

Enquanto os agentes sequestravam o double eagle, Fenton foi algemado como um criminoso comum e levado ao subsolo do hotel, onde um automóvel o aguardava para conduzi-lo ao escritório do serviço secreto de Nova York, situado em uma das torres do World Trade Center. Fenton, convocado a se apresentar diante do juiz com a acusa de ter tentado vender uma propriedade roubada ao Governo dos EUA, foi solto graças ao intervento do advogado, e no fim de um dia alucinante, saiu das dependências do Serviço Secreto profundamente abalado com o acontecido, tendo em seu bolso uma fatura de um “artigo de contrabando” sequestrado pelo governo dos EUA, o double eagle no qual tinha investido 220.000 dolares (e com o qual esperava ganhar muito mais).

A disputa aberta entre Fenton (determinado a fazer prevalecer a propria boa fé e seus direitos) e a Casa da Moeda americana (também decidida a reentrar em posse da moeda roubada sessenta anos antes) se fechou somente cinco anos mais tarde, em 15 de janeiro de 2001, com um acordo extra-judicial em base ao qual Fenton cedia a moeda à Casa da Moeda e que essa se empenhava em colocá-la em venda, sendo o lucro relativo a esta venda dividido em partes iguais. A Casa da Moeda insistiu em inserir uma cláusula na qual se especificava que o compromisso feito com Fenton não teria se constituído num precedente para outro exemplar, eventualmente existente, do “20 dolares de 1933”. Caso aparecessem outros, seriam efetivamente sequestrados.
O Federal Reserv Bank de Nova York.

Enquanto a moeda estava sendo temporaneamente transferida por seguranças ao Fort Knox, ocorreu uma outra singular e trágica coincidência: se tivesse permanecido por alguns meses mais no escritório do serviço secreto em Nova York, a moeda se teria perdido seguramente devido ao atentado terrorista de 11 de setembro que destruiu as Twin Towers).

Sotheby’s e Stack’s estavam sendo selecionadas para organizar o leilão onde, segundo as estimativas, a peça poderia chegar a um valor entre 4 e 6 milhões de dólares. O leilão público teve início às seis da tarde de 30 de julho de 2002 partindo de um preÇo inicial de 2,5 milhões de dólares. Exatos 6 minutos mais tarde, um colecionador anônimo arrematava a moeda mais disputada da história por 7.590.020 dólares.

Aos 6,6 milhoes do preço de compra tinham que ser adicionados outros 990.000 dólares de direitos e outros 20 dólares devidos ao departamento do tesouro para “monetizar”, pela primeira e única vez, o double eagle de 1933.
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FIM DA HISTÓRIA?

Nem por sonho!
Prova disso é o novo “golpe de cena”, ocorrido em setembro de 2004. Pouco mais de dois anos depois do leilão que parecia ter posto um fim a longa e aventurosa história desta fantástica e bela moeda, se começava a desenrolar um novo (e imprevisto) capítulo. As declarações feitas por Switt a Macallister, e por este, em 1944, referida ao agente Strang, sobre o número total de double eagles de 1933 saídos ilegalmente da Casa da Moeda, deram uma tardia mas sensacional confirmação quando a casa da moeda reentrou em posse, de uma única vez, de outros 10 exemplares da mítica moeda. Isso mesmo ! Dez exemplares de uma só vez, encontrados apenas dois anos após do leilão milionário.

A se mostrar viva as autoridades foi Joan Switt Langbord, filha e herdeira do joalheiro Israel Switt (morto em 1990 com 95 anos), que através de seu advogado Barry H. Berke (o mesmo que tinha defendido os interesses de Fenton durante a longa disputa com a Casa da Moeda entre 1996 e 2001), informou ao governo e à Casa da Moeda americana do achado de 10 moedas entre os bens do pai, acreditando desta forma poder fazer o que bem quisesse e entendesse com os 10 exemplares. Os representantes da Casa da Moeda solicitaram então que a senhora Langbord entregasse as moedas com a desculpa de poder controlar a autenticidade das mesmas; um pedido que a senhora Langbord prontamente aceitou, em acordo realizado através de seu advogado, em troca de um documento no qual a Casa da Moeda se empenhava em reconhecer todos os direitos que Joan Switt Langbord e seus familiares poderiam ter sobre as moedas.

Depois de te-las tranferidas a Washington em junho de 2005 para garantir a autenticidade, confirmada tanto pelas provas de laboratório quanto pela comparação com os exemplares do Smithsonian Institute, a Casa da Moeda anunciou publicamente em 11 de agosto, com grande tristeza para a senhora Joan Switt Langbord, a “recuperação” das moedas (retendo-as como propriedade do governo – a Casa da Moeda decidiu, obviamente, não usar os termos “sequestro” ou “requisição”), que foram mais tarde tranferidas ao Fort Knox, devendo ali permanecer, aguardando uma decisão sobre seus destinos. Três coisas são, de qualquer modo, certas:

1) Que as moedas não serao destruídas (o Gold Reserve Act foi abrogado por Nixon em 1971);
2) Que não serão monetizadas (portanto o double eagle de 1933 vendido em leilão em 2002 será o único legal em posse de um cidadão privado);
3) Que nao serão restituidos aos herdeiros de Switt.

Se por um lado a Casa da Moeda pensa em valorizar os double eagles de 1933 recentemente recuperados como “manufatos históricos” em ocasião de mostras ou exposições, ou consignado-os a um certo número de museus, por outro lado o advogado da senhora Langbord proclama batalha; uma batalha que se mostra toda em subida, tendo em vista os precedentes invariavelmente a favor do governo (mesmo se o valor das moedas disputadas, estimável em muitos milhões de dolares, é tal que não justifica uma desistência incondicionada por parte dos Switt).

O presidente americano Richard Nixon.
Esperando para conhecer qual será o destino das 10 peças depositadas em Fort Knox, um outro interrogativo espera uma resposta:
Afinal, quantos são os double eagles de 1933 em circulação?

Até 2004 eram conhecidos somente 3 exemplares: os dois do Smithsonian, e o vendido em 2002 em leilão. Com o “achado” de 2004 o total sobe para 13, mas Israel Switt afirmou, na época das investigações, que teve à disposiçao 25 moedas, um número que hoje é impossível de se verificar, mas em conformidade com os 9.800 dólares embolsados pelo caixa Mc Cann em 1936 (mesmo sendo possivel que parte desta cifra tenha servido para pagar outros “favores” feitos ao dueto Switt-Silver).

Levando a sério as afirmações de Switt, e levando em conta que das 25 moedas passadas, segundo ele, pelas suas mãos, se devem subtrair nove fusas em 1956, uma vendida em leilão em 2002, e dez encontradas em 2004; isto significa que existem, em posse de um ou mais cidadãos, ainda desconhecidos graças a “prudência” ou simplesmente a sorte, outros 5 double eagles “proibidos”. Uma “presa” que permanece, em todos os casos, sob mira dos agentes do serviço secreto americano , prontos a confiscá-las assim que elas surjam da neblina que a sorte as circundou até hoje.

Da próxima vez que você for a uma numismática e verificar que existe um Double Eagle Saint-Gaudens à venda, certifique-se de que não seja o de data 1933. Afinal, ainda existem no mínimo 5 destes exemplares “perdidos” por aí. Talvez sejam bem mais do que apenas cinco.

FIM
Bibliografia:
Livros:
Don Taxay: The Us Mint and Conaige, Arco Publishing Co., New York 1966.
David Tripp: Illegal Tender – Gold, Greed, and the Mistery of the lost 1933 Double Eagle, Free Press, New York 2004.
Allison Frankel: The epic story of the world’s most valuable coin, W.W. Norton, New York 2006.
Revistas:
Leon Worden: Barry Barke: 1933 double “legal”, in COINage Magazine, gennaio 2006.
Catálogos de leilões:
Sotheby’s: Palac Collection of Egypt, O Cairo, 25 de fevereiro de 1954.
Sotheby’s New York, Stack’s: The 1933 Double Eagle, – July 30, 2002.

AGRADECIMENTOS PELO TEXTO ACIMA DA NUMISMÁTICA BENTES. PUBLICADA EM SEU BLOG