Se voce leu a matéria postada anteriormente, sobre GUILHERME GUINLE, em uma parte do texto, em 1925, seu gesto de generosidade atingiu ao máximo, colocando a disposição dos técnicos do Museu Histórico Nacional sua rica coleção numismática para que dela retirassem todas as peças que lhes interessassem, a título de doação. Foi extraída assim, 2.310 exemplares, na sua maioria em ouro, além de muitas barras do mesmo metal, oriundas de diversas Casas de Fundição do Brasil.
Mas, para surpresa de todos, e para a infelicidade do doador pródigo, na noite de 25 de junho de 1937, foram roubadas desta coleção, 116 moedas e 17 barras em ouro, além de várias medalhas, também de ouro e ainda, títulos antigos do reinado de D. João VI e D. Pedro I do Império do Brasil.
Os gatunos que agiram durante a noite, de um sábado para domingo, e presume-se, eram conhecedores de numismática, ou ainda talvez, orientados por pessoa familiarizada com o assunto, pois, foram escolhidas as melhores peças, tanto em moedas como em medalhas, e especialmente, as melhores barras de ouro cunhadas.
Segundo ainda, os jornais da época, atribuiram o roubo à falta de vigilância, e ainda relatavam que seus autores conheciam perfeitamente a localização da sala de exposição da Seção de Numismática. Pelas mesmas notícias divulgadas, os ladrões haviam entrado pelo telhado e levado apetrechos necessários para serrar as grades e arrombar as vitrines dos expositores. Coisa bem planejada e de gente do ramo.
As autoridades policiais da época, nada conseguiram apurar e o ocorrido passou para o esquecimento.
Bem, mas o inusitado deste roubo, veio a tona 44 anos depois em 1981, um menino descobriu no quintal de uma casa no bairro do Grajaú uma das barras de ouro desaparecidas, procedente da Casa de Fundição de Mato Grosso, datada de 1818. Foi encaminhada à polícia pela proprietária do imóvel que a restituiu ao Museu Histórico Nacional.
A Revista Numismática, de 1937, nas páginas 246 a 250 relaciona as moedas e barras de ouro desfalcadas da preciosa coleção doada por Guilherme Guinle ao Museu Histórico Nacional ( dados colhidos no Gabinete de Investigações na Seção de Furtos e Roubos da Polícia Carioca), com a respectiva avaliação total do roubo em 218.000$000 ( duzentos e dezoito contos de réis).
Os dados acima, inclusive com alguns trechos que foram transcritos integralmente, foram extraídos do livro entitulado de Ensaio Biográfico de Guilherme Guinle, 1882-1960 - de autoria de Geraldo Mendes de Barros no ano de 1982.
Já sobre o mesmo assunto, o Kurt Prober, em seu livro entitulado de Ouro em Pó e em Barras, Meio Circulante do Brasil, 1754 - 1833 - publicado em 1990. Em capítulo separado como "capítulo E", dá a data do roubo no referido museu em 24 e 25 de JULHO e não em JUNHO, conforme texto anteriormente citado. Mas expõe a tona detalhes e pormenores e citam nomes de alguns envolvidos sobre o assunto, que achei por bem, publicar integralmente este capítulo para conhecimento de todos.
E - ROUBO DE BARRAS E MOEDAS DE OURO 24/25.7.1937 NO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, RIO DE JANEIRO (RJ).
Na noite de sábado para domingo, 24/25 de julho de 1937, houve um vultuoso ROUBO de moedas e de 20 BARRAS DE OURO no MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, do Rio de Janeiro, pesando só as barras mais de TRES quilos. Este roubo NUNCA foi esclarecido, e, por incrível que pareça, o seu Diretor, GUSTAVO BARROSO, chefão INTEGRALISTA, movimento este que então se preparava para arrancar o poder das mãos do Presidente GETÚLIO VARGAS, nunca mexeu uma palha, digna de nota, para a elucidação deste rumoroso caso. Estavam os "integralistas" por demais empenhados em organizar, no Rio de Janeiro, o famoso "Desfile dos cinquenta mil ( 50.000) Camisas Verdes", movimento abortado em bôa hora por GETÚLIO.
Por sinal, quando aconteceu o roubo, o Diretor Gustavo Barroso estava en viagem para o Norte do Brasil (Ceará), sendo o museu na ocasião dirigido pelo Sr. EDGAR DE ARAÚJO ROMERO, como Diretor Interino.
A primeira notícia foi, de que tinham sido surrupiadas 117 ( cento e dezessete) Moedas de Ouro e VINTE (20) BARRAS DE OURO das vitrines da Seção de Numismática, conforme foi reportado à Polícia, mas já no dia 28.07.1937 o Dr. ROMÉRO retificou, que somente 17 ( dezessete) BARRAS tinham sido furtadas, como declarou em entrevista publicada no Jornal "O GLOBO" deste dia.
O chefe de polícia do Rio de Janeiro era então o Dr. FELINTO MULLER, e as investigações correram pelas autoridades do 5º Distrito Policial. O Diretor GUSTAVO BARROSO, NUNCA prestou nenhuma declaração, mesmo depois que voltou a dirigir aquele "nosocômio...." de politiqueiros daquela época.
Em todas as investigações policiais, houve apenas DUAS pessoas indiciadas....Uma delas foi HENRIQUE CANDIDO FERREIRA, preso em 3.8.1937, logo em seguida tentanto sucídio, e cuja mulher - ROSA FERREIRA, o acusou frontalmente, mas por "motivos INEXPLICÁVEIS" nada se apurou, e o DE CUJOS pouco depois sumiu do cartaz, embora este indigitado assaltante tenha sido egresso da "Cadeia de Mar de Espanha" (MG). Funcionários e serventes do Museu foram presos, mas logo em seguida soltos, pois puderam provar sua inocência.
Mas em princípio de OUTUBRO de 1937 a polícia portenha conseguiu prender um TURISTA...que tinha visitado o Museu, na pessôa de ANDRÉS SOLARES ABELLO, que pouco depois foi embarcado preso a bordo do navio "D.PEDRO II", para ser então apresentado à polícia do Rio. No dia 20.10.1937 o navio partia de SANTOS, com o preso algemado, e às 22 horas o comandante mandou soltar o preso...., quando se estava na altura da ILHA DA MOELA. Descobriu-se, então, que o preso tinha desaparecido, e sendo aceita a hipótese, que ele se tinha atirado ao mar, ali enfestado de tubarões...
Não pode haver dúvida, que se trate de uma história "mal contada....", pois o desaparecido era um "estelionatário uruguaio" , que por ocasião do roubo estivera no Rio de Janeiro em companhia de um amigo, ERCÍLIO CARIMANDO, e que só em 29.7.1937 tinham voltado para Buenos Aires. Foi até descoberta uma carta, que SOLARES tinha escrito à dona da Pensão, da rua Corrêa Dutra, 52, no Rio, onde estivera hospedado, "...pedindo que ela fosse a polícia para declarar, que ele estivera acamado no dia 25.7.1937, dia do Roubo". Fato é que este elemento SUMIU POR COMPLETO, e sendo aceita a hipótese, que ele servira de " comida de tubarão..."
Acontece, que este melodrama, uma espécie de "ópera-bufa", teve um desfecho inesperado, em fins de abril de 1981. Noticiaram então os jornais, que havia sido encontrada uma BARRA DE OURO há um mês, ( barra esta que foi ilustrada) ( inclusive com imagem neste BLOG) enterrada no fundo do quintal da casa da rua Visconde da Santa Isabel, nº 578, no bairro do Grajaú, do Rio de Janeiro. Era a barra 1818-M-658, que em 25.7.1937 tinha sido roubada do Museu Histórico Nacional, do Rio, que, informado do achado, dei um "geito..." da peça lhe ser devolvida, conforme me informou o funcionário Sr. Câmara, pelo telefone, no dia 5.5.1981.
A casa era do Sr. Hassan Hadman, fazendeiro, e quem encontrou a barra foi o menino José de Almeida Ramos, que no dia 25.3.1981 brincava nos fundos da residência do Sr. Hassan, na ocasião em viagem no interior da Bahia. D. Alzira, esposa do Sr. Hassan, pensando tratar-se de "coisa roubada", comunicou o encontro logo à Polícia do 20º DP. A própria Polícia revolveu todo o terreno do quintal, ajudada até pela Polícia Militar, mas nada mais foi encontrado.
Declarou o dono do prédio, "ainda", que não se lembra mais de quem comprou o imóvel há uns 40 anos, ocasião em que fez obras no prédio, nada tendo sido encontrado.
Para mim esta barra, pesando 229 gr. de ouro de quase 24 quilates, deve ter sido o pagamento que um dos participantes do roubo recebeu, e este com medo de ser descoberto, preferiu enterrar a peça neste quintal, talvez depois, esquecendo o local exato ou tendo morrido. A casa fica perto da encosta de uma favela.
Eis a seguir a relação das 20 barras que teriam sido roubadas do Museu, conforme relação dada a Polícia, e que foi publicada nos jornais do Rio do dia 27.07.1937. (O Globo e Diário da Noite. Foram relacionadas sob n° 4° até 23°, não sabendo o que teriam sido os ítens 1° até 3°):
4°) - 1809 - S - 3558; 5°) - 1809 SF -4299; 6°) - 1812 - V - 531; 7°) - 1812 - S - 2388; 8°) - 1812 - S - 317; 9°) - 1813 - SF - 656; 10°) - 1813 - 2 - 347; 11°) - 1814 - S = 174; 12°) - 1814 - S - 1177; 13°) - 1814 - S - 1953; 14°) - 1815 - M - 241; 15°) - 1816 - G - 799; 16°) - 1818 - R - 202; 17° - 1818 - SF - 359; 18°) - 1818 - M - 658; 19°) - 1821 - C - 167; 20°) - 1819 - M - 102; 21°) - 1821 - G - 281; 22°) 1822 - G - 41; e 23°) 1822 - G - 229.
Nota: As barras das referências n° 11 e 21 possuiam GUIA, sendo provável que a Guia da peça 11 1814 - S - 174 ainda esteja guardada em algum arquivo. Quanto a Guia da peça 21 veja mais adiante.
IMPORTANTE: - Verificou-se depois, QUE NÃO TINHAM SIDO ROUBADAS AS BARRAS DAS Referencias, n° 4° - 8° - e 21° ( c/Guia), e tendo sido recuperada, em 1981, a barra ref. n° 18. Desapareceram efetivamente 16 ( dezesseis) Barras do Patrimônio Nacional, provavelmente FUNDIDAS pelos ladrões, e perdidas para sempre. Digo isto, porque os larápios tinham escolhido a dedo as barras mais PESADAS, como as peças de ref. 14, 15, 18. 19 e 20, pesando: 1.387, 279, 225, 262 e 179 gramas, respectivamente.
Houve muitas inexatidões nos pesos, números, quilates, etc. constantes na relação fornecida pelo Museu à Polícia, o que felizmente eu pude emendar nas respectivas fichas, pois em meus velhos guardados eu encontrei uma lista detalhada - MANUSCRITA - do Dr. Alfredo Solano de Barros, feita posteriormente, quando já se tornara funcionário graduado do Museu, lista esta, em que, com sua habitual meticulosidade, consertou todos os erros, e ainda fazendo os seus habituais comentários pitorescos.
É interessante, porém, a observação que faz sobre as barras de 1822 - G - n°s 41 e 229 ( ref, 22 e 23), das quais diz terem sido do TESOURO DE JUNDIAÍ (....que teria sido encontrado em 1916....) barras estas que teriam sido quase desconhecidas e raras ANTES do encontro deste tesouro. Só mais tarde é que se veio a descobrir, que o dito tesouro só "...teria....sido" encontrado em 16.7.1921. Ambas estas peças tinham sido doadas ao Museu pelo Dr. Guilherme Guinle.
Agora, cá entre nós, continuo acreditando que o tesouro tenha sido achado bam antes de 1921, e que o dono só resolveu "botar a bôca no trombone"mais tarde, quando já tinha conseguido vender uma grande parte, e principalmente as moedas, das quais nunca se falou, sem ter de entregar a parte devida ao govêrno de tudo que achara.
Merece mensão ainda a observação do Dr. Solano, quando cita - como TAMBÉM ROUBADA, uma BARRINHA DE OURO, fundida na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, no tempo do Império.
n° 2409 de 8.4.1875 - Ouro - título: 965-1/2 milésimos - Pêso 87,70 gramas. Diz ele, ".....que na técnica é apenas uma curiosidade numismática, por não ser do tempo das Casas de Fundição...." Mas quer me parecer que esta peça NÃO foi roubada, pois encontrava-se numa outra vitrine, junto com duas barras do Império. E tendo encontrado em meu arquivo um "decalque" desta peça, também tirado pelo Guarda "BAIÃO". Trata-se, neste caso, de uma das muitas barrinhas que a Casa da Moeda, do Rio, mediante o pagamento de uma taxa, fundia com o ouro em pó, ou ouro "quebrado" que lhe era entregue para "fundição".
Mas lembra ainda, para finalizar, o mestre KURT PROBER: ....Mas a relação do Dr. Alfredo Solano de Barros é ainda mais interessante, pois nela achamos descritas também as outras barras do Museu, QUE NÃO FORAM ROUBADAS, e que são as seguintes:
1784 - M - 699; 1801 - S - 1752; 1804 - V - 1532; 1809 - S - 3558; 1814 - S - 174; 1818 - M - 658; 1821 - G - 281; 1828 - S - 130; 1831 - S - 105.
PORTANTO DEVE O MUSEU HISTÓRICO NACIONAL, POSSUIR HOJE 9 ( NOVE) BARRAS DE OURO.
Mas a dúvida persiste, afinal, kurt Prober cita o mês de julho e já no livro de Geraldo Mendes Barros, em seu Ensaio Biográfico, cita o mês de junho. Verificando ainda, a Revista Numismática de 1937, às folhas 244, editada pela Sociedade Brasileira de Numismática, com o título "Vultuoso roubo no Museu Histórico Nacional", me parece que está dúvida esta dissipada, pois cita o mês de JUNHO. Parece que o Kurt Prober, por engano, acabou citando o mês errôneamente. A data correta, parece ser a de 24 e 25 de junho de 1937.
Mas, por via das dúvidas, vou consultar os Jornais citados por Kurt Prober, para confirmar em definitivo qual mês realmente ocorreu este famoso roubo no Museu Histórico Nacional, no ano de 1937. Tão logo tenha o resultado, divulgo aqui nesta matéria.