25 de set. de 2008

CAROLUS III, CAROLUS IV E FERDIN VII - MAS AFINAL, QUEM FORAM AS TRÊS FIGURAS?

De tanto examinar com lentes de aumento, na finalidade de certificar recunhos, dos nossos patacões 960 Réis e sempre se deparar com busto de Carolus III, com certa escassez, e Carolus IIII, na grande maioria comum e com extrema raridade quando aparece com a grafia CAROLUS IV e ainda, com FERDIN VII, na grande maioria comum e com certa escassez FERDINANDUS VII e com certa raridade quando aparece FERDND VII e FERDIND VII, achei por necessidade pesquisar sobre estas três figuras, na verdade sobre estes três que foram Reis da Espanha.

Agora que já faz parte de nosso cotidiano observar seus bustos nas moedas que examinamos, foi assim interessante pesquisar e saber algo sobre eles. Encontramos suas biografias publicadas no Catalogo de Monedas de Plata, Columnarias y de Busto – Ceca de Potosi 1767 a 1825, de autoria de Oscar Marotta e Miguel A. Morucci Buenos Aires – Argentina, 1995. Livro editado na língua espanhola.

Solicitei assim, ao meu amigo Roberto Keller, também membro da Sociedade Numismática Paranaense e que trabalha em colaboração comigo, que traduzisse estas Biografias do espanhol para o português e achei por bem, solicitar a SNP a publicação destes textos biográficos.

Lendo as Biografias, chama a atenção: “Carlos III era robusto, com a sua feiúra agravada por um enorme nariz”, coisa que constatamos todos os dias, mas leiam abaixo e descobrirão outras coisas bizarras sobre estes três Reis da Espanha e ou sobre os três “FIGURAS”.

BIOGRAFIA - CAROLUS III

Nasceu em Madri em 20 de janeiro de 1716 como filho mais velho de Felipe V e de sua segunda esposa, Isabel de Farnesio. Por causa da guerra de sucessão na Polônia, entrou em Nápoles e logo depois de renunciar aos Ducados de Toscana, Piacenza e Parma, converteu-se em Rei de Nápoles e das duas Sicílias, de 1734 até 1759. Sua etapa napolitana deu-lhe uma sólida formação cultural e uma proveitosa experiência, incentivando as escavações arqueológicas de Pompéia, tornando-se fã das Belas Artes, especialmente a gravação e sendo muito amado por seus súditos.
Em 10 de agosto de 1759 converte-se em Rei da Espanha aos 43 anos, sucedendo no trono a seu irmão biológico, Fernando VI. Havia se casado em 1736 com Maria Amália de Sajonia com quem teve vários filhos, o segundo dos quais, Carlos Antonio, sucedeu-o no reinado em 1788 como Carlos IV. Carlos III era robusto, com a sua feiúra agravada por um enorme nariz, de inteligência mediana e fã de caçadas, dos estudos de economia e de temas agrícolas e industriais.
Seu reinado é o mais característico dos chamados Déspotas Esclarecidos e apesar de sua política exterior não ter sido favorável à Espanha, na política interna, alguns ministros discretos que o serviram ajudaram-no a sanear a administração, manter a economia e favorecer a cultura. Com respeito à moeda, não houve reformas importantes na Espanha, salvo a introdução dos maravedis de cobre de 1770, cuja vigência chegaria até a metade do século XIX. Em 1771 regulou-se a Lei do Ouro, que passou de 22 para 21,42 quilates: na prata, baixou-se a Lei de 11 dinheiros para 10 dinheiros e 20 grãos e as marcas de ensaiador, valor e casa de cunhagem passaram para o reverso. Foi importante a unificação do valor da Onça em 320 reais de vellon, como a que teria na América Hispânica em 1779. Carlos III cunhou com o título de Carlos IV em Navarra. Também é importante, apesar de não se conseguir praticar totalmente, a disposição de mandar retirar da América, toda a moeda macuquina. Na Casa da Moeda de Potosí, produz-se a cunhagem das “Colunárias” de mundos e mares desde 1767 até 1770, sendo logo substituídas em 1773 em cumprimento de uma Cédula Real de 18 de março de 1771 e Pragmática de 29 de maio de 1772, por novas peças com o busto real “a la romana”.


BIOGRAFIA - CAROLUS IV

Nascido em Portici, Nápoles, em 11 de novembro de 1747 e era filho de Carlos III e de Maria Amália de Sajonia. Contraiu matrimônio com a sua prima Maria Luisa de Bourbon-Parma em 1765, tiveram 13 filhos, um dos quais, Fernando Maria, sucedeu-o no trono da Espanha como Fernando VII. Carlos IV converteu-se em Rei da Espanha em 14 de dezembro de 1788 aos 40 anos de idade, por incapacidade de seu irmão mais velho Felipe. O rei era robusto de corpo, porém fraco de caráter, pouco inteligente, fã de música e dos trabalhos manuais; sua esposa Maria Luisa era ambiciosa, carecia de beleza física e de dotes morais. Carlos IV costumava deixar o governo em mãos alheias e seu reinado significou a dissolução do extenso mundo onde a Espanha reinava: um império que compreendia as Américas (exceto o Brasil) e no norte, a Luisiana, Arizona, Novo México e México além de extensos territórios na Oceania. Recebeu um país empobrecido pelas guerras, oscilando entre as ambições da Inglaterra e França e sua política não foi a mais acertada para recuperar a solidez econômica. Não enfrentou os desdobramentos das mudanças provocadas pela Revolução Francesa e pela Independência dos Estados Unidos. Goya, o grande pintor daqueles tempos, refletiu cruamente o caráter e o aspecto físico de Carlos IV e sua família no célebre quadro do Museu do Prado. Finalmente, em 1808 acontece o motim de Aranjuez que obrigou o Rei a abdicar em favor de seu filho Fernando em 19 de março de 1808: exilado na Itália, nunca mais voltou para a Espanha já que seu filho Fernando VII proibiu-o e morreu em Nápoles em 19 de janeiro de 1819. As moedas cunhadas por Carlos IV continuaram como as que já existiam, com as alterações lógicas de busto e inscrição; as emissões de ouro e prata foram normais em Madri e Sevilha. Na América fizeram emissões irregulares e póstumas em 1789 e 1790 com o busto de Carlos III e a legenda “CAROLUS IV”, pelo falecimento do monarca anterior, passando-se vários meses até Potosi receber os cunhos com a efígie do novo rei. Também continuou circulando a moeda macuquina devido à escassez das de busto; esta série começou em 1794 em Potosi, com a emissão de uma moeda pequena e diferente, o quartilho; em 1778 cunharam-se nesta mesma casa da moeda as primeiras peças de ouro de 1-2-4 e 8 Escudos(Onça).


BIOGRAFIA - FERDINANDUS VII

Nasceu no Escorial em 12 de outubro de 1782 e era o filho mais novo de Carlos IV e de Maria Luisa de Parma. Casou-se quatro vezes: em 1802 com Maria Antonia de Nápoles de quem enviuvou em 1806, logo voltou a contrair matrimônio em 1816 com Maria Isabel de Bragança; em 1819 casa-se com Maria Josefa Amália de Sajonia que morreria em 1829 para finalmente casar-se pela quarta vez, no mesmo ano, com sua sobrinha Maria Cristina de Nápoles, que assim que o rei faleceu, em Madri no dia 14 de setembro de 1833, garantiu que a filha deste casamento, a infanta Maria Isabel, seria a futura Rainha da Espanha como Isabel II. Fernando VII cresceu aborrecendo e tramando contra seu pai e sua mãe, com o motim de Aranjuez conseguiu destrona-los e converteu-se no Rei da Espanha em 19 de março de 1808. Os primeiros anos transcorreram sob o domínio de Napoleão que era o verdadeiro senhor da política espanhola; refém em 1814, após a guerra da independência, pode regressar a Espanha para retomar o poder. Entre 1814 e 1820 desenrola-se o período marcado pelo absolutismo de Fernando, perseguindo aos liberais que defendiam a constituição de 1812; finalmente em 1820, depois de uma série de agitações revolucionárias, conseguem que o rei jure a constituição, abrindo um período de 3 anos de obediência fingida por parte do rei. Em outubro de 1823, depois de Fernando conspirar com as potências da Santa Aliança, conseguiu que um exército francês invadisse a Espanha e devolvesse os poderes absolutos, como monarca. Iniciou-se então, a chamada “década vergonhosa” que foi de 1823 até 1833, em que se registraram movimentos absolutistas incentivados pelo clero e pelo seu irmão Carlos que se anunciava como seu sucessor. Porém, seu ultimo casamento acabou com as pretensões deste. Não houve novidades nas cunhagens de Fernando VII em Madri e Sevilha até a guerra da independência. Em 1818 autorizou-se a circulação de moedas francesas que estavam em curso no país. As mudanças aconteceram na etapa constitucional, com a cabeça desnuda do rei e mudando a redação em latim para castelhano “Por la gracia de Dios” a que se acrescentou “y la constitución”. Valencia emitiu uma bela peça obsidional e emissões semelhantes apareceram em Mallorca e outras casas de cunhagem, o que produziu uma quantidade variada de retratos de Fernando VII. Na Casa de Cunhagem Imperial de Potosi continuaram as peças de busto com o novo monarca sendo que nos primeiros anos (1808 e 1809) só a fizeram em 2 e 8 reales; quando Fernando VII se afirma no poder após as guerras napoleônicas, regulariza-se a emissão de todos os valores (1/2 – 1 – 2 – 4 e 8 reales) em Potosi, a partir de 1816 indo até 1825, ano da independência da Bolívia. As peças de ouro de 1 – 2 – 4 e 8 Escudos com o busto de Fernando VII só foram cunhadas em 3 anos, de 1822 a 1824.
Texto: JOAO GUALBERTO ABIB – Numismata, Membro da SNP e da SNB. Publicado originariamente no Boletim n° 29 de agosto de 2006 da SNP.

Nenhum comentário:

Postar um comentário