22 de set. de 2008

Royal Silver Mines of Potosi - Debênture 113 de 1891 doada a S.N.P. - Sociedade Numismática Paranaense.

Em agosto de 2005, portanto, há mais de 3 anos, quando resolvi me associar à Sociedade Numismática Paranaense, pensei no que eu poderia dar de presente e a título de doação para a sociedade, que viesse a marcar minha entrada de uma forma simbólica, mas que ao mesmo tempo ficasse marcada para sempre.

Primeiramente, tive que levar em consideração, que minha trajetória no mundo do colecionismo numismático até então, era quase que exclusivamente no mundo da Scripophilia, (coleção de papéis de emissão de valor), mundo este, que eu tinha iniciado em 1994 e em 2005, já fazia 11 anos, somente neste tipo de colecionismo. Nesta época tinha eu, em minha coleção, pouquíssimas peças numismáticas, e a maioria delas eram patacões 960 réis.


Foi daí, com a intenção de expandir minha coleção, que resolvi começar a me associar às Sociedades Numismáticas, e assim, vim a me filiar primeiramente da S.N.P. e depois da S.N.B. - Sociedade Numismática Brasileira, dentro daquele mesmo ano de 2005.

Mas pensei, o que poderia simbolizar numa mesma peça, a Numismática e a Scripophilia, que para muitos, ainda, é um colecionismo desconhecido, e que consagrasse por importância histórica ambas? Não foi muito difícil a escolha, e logo percebi a linha tênue que separa e ao mesmo tempo une uma coisa da outra.

Escolhi assim, "as Minas de Potosi", pois, certamente, haveria de ter algum documento de Scripophilia, afinal a EXPLORAÇÃO comercial de uma MINA, teria captacão de recursos e a emissão de algum documento que representasse a captação de recursos financeiros, necessários para a exploração desta atividade extrativista mineral e principalmente, para a extração de PRATA, cuja mina, foi de maior e suma importância para a numismática, não só a Brasileira, mas para a numismática mundial.

Para quem não sabe, a grande maioria dos moedas espanholas e dos Países sul americanos, foram cunhadas em PRATA extraída quase que exclusivamente, daquela grandiosa Mina, que pertenceu ao Vice Reinado do Perú, de domínio espanhol e hoje localiza-se geograficamente na atual Bolívia.

Muito lógico que não viria a encontrar um documento do período de exploração da prata, do mesmo tempo que este metal era utilizado no fabrico das moedas potosinas, mas como simbologia, acabei encontrando um documento do ano de 1891, que foi uma emissão para captação de recursos para a exploração desta grandiosa mina de Potosi.


Foi fazendo buscas em sites especializados na Europa e em várias lojas do ramo numismático e de scripophilia, que acabei achando esta peça então doada, em um leilão no Ebay. Não pensei duas vezes, acabei arrematando esta Debênture e quando chegou em minhas mãos, já no início do mês de Agosto, fiz um resumo sobre a Mina de Potosi em 13 de agosto de 2005 e logo em seguida, mandei emoldurá-la, e acabei fazendo a doação no dia 20 de agosto de 2005, num sábado "par", na S.N.P., na presença de alguns sócios presentes naquele dia.

Quem hoje visita a sede da sociedade, esta lá fixado, este quadro, em exposição na parede do lado direito de quem entra. Esta debênture, hoje rara, têm um certo valor histórico e cultural, pois pertence ao mundo numismático e de scripophilia.

Foi desta forma que consegui achar algo para doar para a SNP em agosto de 2005, que ao mesmo tempo simbolizasse o que eu já colecionava e também que contemplasse aquilo que eu viria nestes poucos anos a colecionar: as peças numismáticas brasileiras.

Pena, que este registro histórico, tenha sido feito por mim mesmo, neste BLOG, pois já se passaram mais de 3 anos e não recebi oficialmente por parte da SNP, nenhum registro desta doação. Também, verificando os Balanços da mesma sociedade, (pelo menos os afixados no mural da mesma), não há nenhum registro deste recebimento, e também, não há referência em nenhum Boletim publicado pela sociedade de 2005 até o presente momento, que citasse o recebimento por parte da mesma, desta linda peça de coleção. Talvez, pelos dirigentes da sociedade, seja muito comum receberem doações e não fazerem nenhum registro. Talvez, até não deram nenhuma importância, por considerarem não ser importante mesmo, e isto eu respeito. Mas para mim, este singelo oferecimento desta peça de coleção, entrou para minha história numismática. Por isto faço este registro.

O relato, que aparece logo ao lado da IMAGEM, desta linda peça de coleção é o seguinte:


BREVE RELATO HISTÓRICO:

Depois de pilhar o ouro dos Incas no Peru e dos Astecas no México, os conquistadores espanhóis descobriram em 1544 uma montanha fabulosamente rica em prata no altiplano da Bolívia: Cerro Rico de Potosi. Situada a 4.824 metros de altitude, produziu mais de 70.000 toneladas de prata durante mais de 400 anos! Mais de 1 milhão de escravos índios e negros morreram na extração e processamento ao longo dos quase 300 anos de dominação colonial espanhola. Vapores de mercúrio e fumaça de fundição reduziam a vida útil dos escravos mineradores para menos de 6 meses, nesta, que foi a maior mina subterrânea do mundo.

Os tesouros em moedas de prata, barras, chapas, dobrões de ouro e peças de 8 reales, cunhadas na Casa de la Moneda de Potosi, era carregado em lhamas e transportado para o porto de Lima, uma jornada de mais de 1.000 quilômetros. O tesouro era então transferido para galeões que navegavam pelo Oceano Pacífico, rumo ao norte, para o Panamá onde era novamente descarregado e posto no lombo de mulas para cruzar o país para o leste, seguindo o roteiro onde hoje existe o Canal do Panamá. Recolocado mais uma vez dentro de galeões, iniciando uma perigosa jornada pelo Mar do Caribe e o Oceano Atlântico em direção à Espanha, se os piratas assim o permitissem.

A partir de 1865 a mineração de prata entrou em declínio. A prata cedeu lugar para o estanho. A extração e o processamento do estanho em grande escala iniciou-se em 1895 e a Bolívia abastecia 48% da demanda mundial em 1945.

Em 18 de julho de 1884, um grupo de investidores liderados por Edward Norman e Mateo Clark fundaram a Royal Silver Mines of Potosi, Bolívia Limited com capital inicial de £ 600,000 formado a partir de 30.000 ações preferenciais de £10 e 6.000 ações de £50 além de £71,200 em Debêntures Hipotecárias de £100, com 8% juros anuais, entre 1889 e 1890. Com sede em Londres no 19 Coleman Street, deixou de operar em 1915.

Na revolução ocorrida em 1952 na Bolívia, a mina de Potosi foi nacionalizada e hoje, 45 mineradores locais ainda exploram, de maneira artesanal, pequenos túneis onde retiram estanho da Mina Candelária, localizada na metade do caminho entre a cidade de Potosi e a entrada principal do Cerro Rico.

A Debênture ao lado de número 113 datada de 1891, representou a captação de Recursos externos para a exploração da Mina de Potosi. O documento possui na atualidade imenso valor histórico e cultural e é de muita raridade, constitui-se em peça de colecionismo de SCRIPOPHILIA. A peça ao lado foi adquirida em Leilão na Europa, pelo MEMBRO DA SOCIEDADE NUMISMÁTICA PARANAENSE, o Colecionador Sr. João Gualberto Abib, o qual fez questão de doar esta peça à mesma sociedade, fazendo este breve relato histórico. CURITIBA, PR 13 DE AGOSTO DE 2005.

2 comentários:

  1. Esse debênture de Potossi, é muito interessante para estudar, visto pelo foco econômico, haja visto que em 1891, já se fazia lançamentos de opções de compra de ações e vemos um desenvolvimento financeiro bem adiantado, com a apresentação de cotas e taxas de rendimento de juros.
    A mina de Potossi, realmente foi a grande percussora e alimentadora do mercado monetário prateado do século XIX. Parabéns pela história apresentada...

    SCRIPOPHILIA, é uma vertente, digamos assim, da numismática e por tanto, deve-se sim, ser considerado por seus inúmeros exemplares e tipos, o seu valor cultural, histórico e financeiro. Essas debêntures ou títulos da dívida publica, fazem parte da construção da histórica econômica do mundo e portanto se faz dever de darmos maior atenção e valor próprio aos mesmos.

    A primeira vez que ouvi essa palavra, SCRIPOPHILIA, foi conversando com o Sr. João Abib, e achei interessante o conteúdo histórico que tratava e tambem pelo gosto comum, achei muito belo, possuir um "papel" desses, sinceramente até o presente momento, não tive a oportunidade, nem a capacidade financeira de fazê-lo, porém pretendo ter o privilêgio de adquirir uma peça, o qual com certeza, enriquecerá meu hobby.

    Em relação ao reconhecimento que se faz necessário à um doador de uma peça numismática, entendo que o Sr. João Abib, não requisita os "louros", tampoco está querendo deixar que a prepotência se prevaleça, porém no pouquissimo tempo que conheço e por sua costumeira e sempre característica de boa vontade de ajudar, colaborar e explicar, ao meu ver, creio que a SNP deva pelo menos fazer alguma menção ou nota, não apenas para ele, mas sim para todos os que diretamente ou indiretamente colaboram, ajudam e fazem doação de algum material (não financeiro) que tenha um valor inestimável para a Sociedade Numismática. Essas pessoas, com certeza, não o farão por interesses próprios para se fartar de prestígio junto aos associados, mas sim em pról do crescimento cultural, intelectual e histórico da SNP e a Brasileira como um todo.

    Tão bom, grandioso, porém nunca tardío é reconhecermos as pessoas que, por algum ato, mesmo pequeno que seja, mas que de alguma forma, fazem e farão diferenças para o crescimento da nossa numismática.

    Nossa Sociedade Numismática Paranaense, preza por uma excelente e prestigiosa diretoria numismática, contando com pessoas do mais alto gabarito e excelência numismática, creio que no âmago da diretoria, ficou e sempre ficará, mesmo que informalmente meu caro Abib, o reconhecimento por tudo que você ofereceu e ainda oferecerá à Sociedade Numismática Paranaense.

    Marcel Ribeiro
    Curitiba
    marcelribeirosilva@hotmail.com

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  2. Para quem ainda não conhece, a Escripofilia é o hobby de colecionismo que mais cresce nos Estados Unidos. Como o empresário norte-americano tem tradição de captar recursos para investimento através de emissões de títulos, ações, debêntures e dividendos, em Bôlsas de Valôres ou através de bancos de investimentos, a Escripofilia lá é muito forte devido a enorme quantidade de emprêsas emissoras como de detentores desses papéis. Algumas ações da Standard Oil Company com a assinatura legítima de J. D. Rockfeller alcançam valôres de até US$ 80,000.00 em leilões especializados. Sites na internet e até programas de TV exclusivos, onde se comentam, discutem, analisam e orientam os "escripofilólogos" (acredito que seja este o têrmo correto) são comuns assim como catálogos de escripofilia editados pela mesma editora que editam os já famosos World Coins e World Paper Money. Portanto, se alguém ainda se encontra perdido no colecionismo ou entediado com as demais opções de coleção, sejam muito bem-vindos à Escripofilia.

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